David Pontes |
No império da atualidade, reinou ontem o debate do programa do Governo e a apresentação de uma moção de rejeição pela Oposição. A importância política do momento justifica toda a atenção, até porque este é, por definição, o primeiro dia de um novo Governo e, como tal, o princípio de um novo futuro para os portugueses.
O problema é que se a atitude é diferente, a realidade ainda é a mesma, e aí está a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) para nos lembrar que a esperança por si só não resolve os problemas e, ainda antes de começar, este Executivo já tem um gigantesco nó para desatar, sob a forma de um défice que nos primeiros nove meses do ano se terá situado em 3,7% do PIB, muito longe dos 2,7% previstos pelo anterior Governo.
Por isso, se o futuro começou ontem, ainda está muito longe de não se parecer irremediavelmente com o passado e, depois de tantos dias de acesa política, fico com vontade de dar uns passos atrás, para lembrar um outro futuro, o de todos nós, numa formulação mais abrangente, aquele que por estes dias é discutido em assembleia alargada, em Paris.
Ali, na Cimeira do Clima, 195 representantes dos vários países tentam fechar um novo acordo para a diminuição da emissão global dos gases de efeito estufa, com o que se espera conseguir diminuir as consequências e a evolução do aquecimento global.
Já soa cansativo repetir os perigos que esperam a nossa casa comum, se não fizermos algo para reduzir drasticamente a utilização de combustíveis fósseis, entre outras medidas. Mas se nos recordarmos do que fizemos desde 1992, altura em que se assinou o Protocolo de Quioto, temos a justa medida de como é necessário repisar argumentos, para que Paris não seja só mais um local para assinar um fracasso.
Também aqui, a atitude cada vez mais conscienciosa da sociedade deveria ajudar a impor um futuro melhor, mas também aqui a economia costuma falar mais alto. A divisão entre os países ricos e pobres mantém-se, os interesses dos países produtores de petróleo não esmorecem e o caso da VW mostrou até onde as empresas podem ir no seu egoísmo. E se, ao contrário do que aconteceu em Quioto, os norte-americanos parecem empenhados na solução, os ecos que vêm dos Estados Unidos mostram o nível de insensibilidade que ainda reina sobre o assunto. Nas hostes republicanas, um dos candidatos, o senador Ted Cruz, tem mesmo marcada uma audição do Senado com o título "Data ou dogma? Promovendo um inquérito aberto sobre a magnitude do impacto humano no clima da Terra". Imaginam-se as conclusões
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