14 março, 2016

A importância da memória


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Isto não são fotos de um filme qualquer. Foi obra real de um louco,
com a cumplicidade de um povo hoje muito respeitável... 
Ponto prévio:  não tenho qualquer vínculo   político - partidário,   e provavelmente nunca virei a ter. A razão é sempre a mesma: como já aqui referi frequentemente, perdi a confiança  nos  partidos   que têm governado o nosso país, e também nos  partidos   da   oposição,    por diferentes razões. 

De todos, ideologicamente, é sem dúvida, o Partido Comunista português o mais íntegro e pragmático. Os seus militantes, são para mim, os mais disciplinados do universo político nacional. Acontece que, o comunismo que defendem dificilmente terá condições para se impôr de forma natural, na mentalidade da maioria dos portugueses, e mesmo na mentalidade da maioria dos países europeus. Pelo menos, por agora. 

Por paradoxal que pareça, não creio que os visíveis sinais de desmoronamento da União Europeia, nem o crescente nível de desemprego, sejam suficientes para atrair os europeus  para o tradicional modelo comunista. A poderosa máquina de propaganda das sociedades de consumo tratou, e vai continar a tratar, de formatar a mentalidade dos europeus para um estilo de vida de luxos e prazeres, a que só uns poucos têm acesso, com tudo de imoral e injusto que a ilusão comporta. 

Talvez tenha sido essa  improvabilidade aparente, sustentada na realidade europeia, que inspirou ideologicamente o nascimento de partidos como o Bloco de Esquerda, e que explica a sua progressiva subida nas últimas eleições. O eleitorado mais esclarecido e popular, sente-se dividido entre optar por um partido austero, mas sério, como o PC, mas sem grandes hipóteses para governar sem convulsões (internas e externas), e confiar num Bloco de Esquerda, mais arejado, mais consumista, mas com as vulnerabilidades dos chamados partidos do arco da governação. 

Pela parte que me toca, enquanto potencial eleitor, a única maneira de me convencerem - e aqui refiro-me ao BE e à hipótes de conquistarem o meu voto -, é darem-me aquilo que exijo a qualquer outro partido: garantias. Uma vez que parecem também não ter percebido a importância deste factor, é porque ainda não descobriram a real causa das abstenções, ou então, porque não confiam nas suas capacidades.

De todo o modo, nunca serão partidos inspirados em filosofias economicistas - onde os números contam mais para um grupo muito restrito de pessoas, que as de toda uma população, que resolverão a situação dramática por que está passar a Europa e o Mundo.

Nunca nos devemos esquecer o que se passou na União Soviética comunista, nem "dos" Arquipélagos de Gulag, de Alexandre Soljenitsine.  Mas é também recomendável olhar para o que está a acontecer na Alemanha de Merkel, onde o partido da extrema direita (AfD) está a  ganhar terrenoassustadoramente.  A este propósito, cito as palavras de Niklas Frank, filho de Hans Frank, ex-governador da Polónia ocupada, nomeado por Hitler, em entrevista à Notícias Magazine:
  • Que opinião tem sobre Angela Merkel?
- Houve um momento em que senti vergonha por ela ser a chanceler alemã. Quando a economia colapsou na Grécia, nós comportámo-nos como nos velhos tempos do III Reich, como se fossemos melhores que os outros. Uma das principais figuras da CDU chegou a dizer esta frase inacreditável: «Agora a Europa fala alemão». Não consigo entender o que este indivíduo tem dentro do cérebro.
  • Mas suponho que lhe tenha agradado a posição de Merkel na questão dos refugiados.
- Com certeza que sim. Mas agora vamos ter 3 eleições regionais. Se o AfD - partido da direita -tiver perto de 20% dos votos estou convencido que a Alemanha irá acabar por fechar as fronteiras. E aqueles que querem fechar as fronteiras são pessoas da classe média e com formação. São os mesmos que fizeram que Hitler fosse possível. 
  • Lembra-se de sentir culpa?
- Sim, mas hoje não sinto.A raiva e a fúria são reacções muito mais saudáveis do que a culpa. Quando dou palestras em escolas digo sempre: «Todos nós somos inocentes, mas também somos alemães. Peço-vos por isso, que reconheçamos os crimes que foram cometidos pelo povo alemão». Isto é algo que ainda hoje os alemães não aceitam. As pessoas não querem discutir o que se passou, mas seria muito melhor se todos reconhecêssemos os crimes que cometemos. Temos sido cobardes nesse aspecto. No fnal das sessões de leitura dos meus livros aponto para o auditório e digo: «Amo a Alemanha, mas não confio nos alemães». E a prova de que tenho razão está aí, nas manifestações de violência contra os refugiados.

A extrema-direita dificilmente se distancia da sua natural zona de conforto. Quando progride, raramente é para se esquerdizar. Na sua génese, o povo conta pouco. Para a direita, o poder, como o dinheiro, estão predestinados para as mãos de certas "elites". Se não forem travados a tempo, chegam a um ponto que já não conseguem distinguir uma taça de champanhe de um tiro na cabeça de um judeu.

Não acredito na constância da moderação ideológica da direita.

PS-Peço desculpa aos leitores. De repente, vejam só, esqueci-me que perdemos a soberania e que quem manda no nosso destino não somos nós, são outros. Que gafe a minha, esqueci-me! Que querem, agora não vale a pena voltar a trás. Pode ser que um milagre nos traga a liberdade e recuperemos o direito a decidir por nós ...


2 comentários:

  1. Às vezes vir aqui lê-lo, é como arejar a mente depois de mais um dia de hipnose matemática "multi-task".
    Esse milagre vai dar muita porrada. Mas pode ser que a porrada não se sinta em Portugal. As naturais ondas de choque vão ser à base de mais uma crisezita. O habitual num país periférico. Até nisso temos uma sorte que não sabemos aproveitar.

    Os extremismos dão nisso. De um lado e de outro. Mas impressiona ver pobres (como são a maioria dos portugueses) a votar em partidos do mais liberal e mais à direita que existe na Europa. Legado salazarista.

    A esquerda de que escreve neste seu texto, também cresceu e existe, porque os partidos socialistas se venderam às mesmas famílias liberais de direita, e se esqueceram da sua raiz ideológica. Em suma de socialistas, são partidos que apenas têm o nome. Essa é para mim a maior prova de corrompibilidade da sociedade capitalista.

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  2. Soren,

    é como diz. O povo, tem o que merece. É por isso, que às vezes me arrependo de aplaudir certos comportamentos, inspirado pela emoção, como foi o caso da visita de Marcelo Rebelo de Sousa ao Porto. Era assim que devia de ser, sempre. Mas complementados pelo pragmatismo que suporta a qualidade de vida de um povo. Porque, até o Portas era mestre das feiras, e dos beijinhos. O pior é o resto, o que se decide nos gabinetes dos ministérios.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...