Rafael Barbosa |
1 É um dos mais duros retratos da nossa miséria. Segundo o gabinete de estatísticas da União Europeia (Eurostat), Portugal é um dos países com maior desigualdade salarial, ou seja, em que é maior o fosso entre os que ganham menos e os que ganham mais: os 10% de trabalhadores do fundo da tabela recebem, em média, 3,3 euros por hora; os 10% de trabalhadores do topo da tabela recebem, em média, 14,4 euros por hora, quase cinco vezes mais. Acresce que, feitas as contas, a média está nos 5,1 euros por hora (rendimento bruto a que ainda há que descontar os impostos e as contribuições para a Segurança Social). Como alertava o professor João Loureiro, aqui no JN, o que estes números nos dizem é que aquilo a que chamamos salário mínimo nacional se está a transformar em salário comum. O cenário piora quando se fazem comparações com outros países. Na Suécia, o país da UE em que a desigualdade salarial é menos acentuada, os 10% de trabalhadores mais "pobres" recebem quase tanto por hora como os 10% de trabalhadores portugueses mais "ricos". Números que ajudam a explicar por que razão, em Portugal, ter um trabalho já não constitui uma garantia de uma vida digna. Nos últimos anos aumentou sempre o número de pessoas que, mesmo trabalhando, vive abaixo do limiar da pobreza: são agora 11%.
2 O Bloco de Esquerda fez uma lista de todas as medidas que o Governo PSD/CDS e a troika implementaram, ao longo últimos anos, com a intenção de promover o que chamaram "desvalorização interna", eufemismo para a desvalorização dos rendimentos do trabalho e consequente empobrecimento dos trabalhadores, com o que se pretendia tornar o país mais competitivo. Mas, para além da lista, o Bloco fez também algumas contas, concluindo que, por via das alterações à legislação laboral (menos dias de férias, mais horas de trabalho, redução da remuneração por horas extraordinárias, redução das indemnizações por despedimento, etc...), terá havido uma transferência de rendimentos do trabalho para o capital de cerca de 2,3 mil milhões de euros. Não posso garantir que as contas do BE estejam certas mas, até ao momento, ninguém as desmentiu. E talvez valha a pena notar que, se forem verdadeiras, isso equivale a um desvio de cerca de 511 euros de cada um dos 4,5 milhões de portugueses empregados (incluindo os precários) para os respetivos patrões. Percebe-se assim melhor porque resistem as confederações patronais ao aumento de 27 euros no salário mínimo nacional. Mais um euro por dia no bolso dos trabalhadores representa menos uns milhões nas contas bancárias de um bom número de empresários. Quem não estiver contente com estes salários de miséria pode sempre abandonar a sua zona de conforto e emigrar para a Suécia.
(do JN)
Obs.-
Será que os portugueses pensam, quando falam do orgulho nacional?
E lembrar que isto começou lamentavelmente com o ministro Vieira da Silva no governo de Sócrates, e que foi bem secundarizado pelo governo de Passos Coelho. Por isso não gosto do agora e novamente ministro Vieira da Silva pela sua clara responsabilidade com a reforma laboral.
ResponderEliminarA. Martins
Salários de miséria e reformas vergonhosas sem aumentos, congeladas por esse ex/peseudo ministro coelho e um Costa também assobiar para o lado. Então os salários aqui no Norte, são bem piores que a sul até parece que não são todos do mesmo país.
ResponderEliminarO que é certo, é que os grandes ladrões deste país andam à anos para ser julgados mas como pagam a bons advogados com dinheiro dos roubos andam por aí a monte e alguns até podem sair do país.
Porca miséria de justiça para alguns.
Abílio Costa.