15 fevereiro, 2017

O Porto tem de ser mais assertivo e exigente

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Estação do Metro no aeroporto Sá Carneiro

Permitam-me que coloque meias reservas ao que frequentemente alguns tomam como virtudes dos nortenhos [que em absoluto, não o são]: a franqueza e a disponibilidade.

Já foram mesmo assim os nortenhos em tempos remotos, e muito em particular os tripeiros. É a história quem o atesta, não eu, que sou suspeito.  

O cosmopolitismo que hoje o Porto conquistou, perdeu um pouco em bairrismo, mas não totalmente, para nosso bem. A fama de gente solidária e hospitaleira, é real e ainda existe de facto, e é merecida, mas falta-lhe o cunho de outros tempos, a capacidade espontânea para se libertar de grilhetas e imposições externas.

Se é verdade que os tempos são outros, também seria avisado adaptarmo-nos a eles e aos desafios que nos são colocados, sem perdermos aquilo que nos burilava o carácter. Os portuenses, todos os portuenses, do mais humilde ao mais poderoso, social, e finaceiramente, têm as suas culpas no cartório pelo que nos estão a fazer... Consentiram tempo de mais, pelo silêncio.

Não é segredo, nem sequer novidade, já passou o patamar da afronta, que o Porto, tem sido reiteradamente discriminado por sucessivos governos ao longo de 43 anos. O rescaldo do 25 de Abril para os portuenses é hoje, tão ou mais macabro que o Estado de Novo de Salazar e Caetano. A democracia é meia-postiça para todo o país, e postiça por inteiro para o Porto. Por quê? Porque, por exemplo, entre outras extravagâncias, os tripeiros contribuem (como os outros) com taxas de audiovisual (acrescidas de 6% de IVA) para financiar legalmente o serviço público de radiodifusão e televisão, mas esse serviço é-lhes praticamente enjeitado, e além disso usado para os prejudicar [a RTP e as Antena 1, 2 e 3 que o assumam]. De Presidentes da República, a Primeiros Ministros, não houve em 43 anos de "democracia" nenhuma dessas entidades que reparasse neste "fenómeno"! Pudera, é bem mais cómodo atribuirem-nos os erros bárbaros da centralidade exorbitante. Nisso, especializaram-se bem os políticos, 

Até agora, houve quem criticasse os nossos protestos por questões bairristas, por ciumeira com a capital, por rivalidades clubistas, etc.. Tão estúpida é a convicção dos lisboetas e seus cumplíces, que nem sequer se dão conta do papel mesquinho a que se prestam, negando evidências tão flagrantes. O Porto e outras cidades do Norte, têm as melhores Universidades, os melhores Hospitais do país, excelentes arquitectos, médicos e cientistas, todos reconhecidos insuspeitadamente por outros países, e sempre sonegados pela capital. 

O Porto tem o melhor clube de futebol do país,  o FCPorto, e outros menos representativos mas igualmente portuenses [Boavista e Salgueiros] que já devem saber o que significa o centralismo porque também foram suas vítimas. A própria cidade do Porto é eleita, entre outras igualmente belas, como melhor destino europeu pela terceira vez, e mais uma vez, sem qualquer apoio do Turismo de Potugal que não hesitou em dá-lo a Lisboa, ingloriamente... 

O Aeroporto Sá Carneiro, é preterido pela TAP [empresa público/privada] e pelo Governo  para benefício de Vigo e dos espanhóis, como se fosse a decisão mais patriótica do mundo. Enfim, são desconsiderações e maldades, umas atrás das outras, demais para ficarmos calados. Chega, de tanta apatia, de tanta compreensão, ou o que lhe queiram chamar, estas não são reacções próprias dos portuenses. Temos de reagir, senão a história e os nossos descendentes vão atribuir-nos as culpas por falta de comparência.

Não basta denunciar, falar para quem governa o país como quem fala a crianças. Que isto e aquilo não se faz, que é injusto, que é ilegal. Temos de os obrigar a cumprir o seu dever, batendo o pé, retaliando, negando pagamentos fiscais e tarifas que só nos prejudicam. Exigirmos tratamento igual pelos canais mediáticos do Estado, e mais seriedade sob pena de nos recusarmos a votar. 

Precisamos de obter respostas céleres, para ontem.  A justiça jamais será reposta se a deixarmos adiar ad eternum. Temos de fazer ruído, porque a nossa postura mansa e cordata não é reconhecida como tal, e apenas serve de pasto para o gozo daquela gente mesquinha, divisonista e falsa.

Ser do Porto, é também lembrarmo-nos dos nossos antepassados que tantos e tão variados motivos de orgulho nos deixaram. O FCPorto, é um grande símbolo do Porto, mas importa não esquecer, sob pena de nos iludirmos, não é o único. Já sei que vou ser vaiado pela ideia, mas uma das coisas que mais me alegrariam neste momento, era ver o FCPorto, o Boavista e o Salgueiros unidos publicamente em defesa da sua cidade. A cereja no topo do bolo, era ver os clubes (todos) do Norte seguirem-lhes o exemplo contra o centralismo.

PS-Ultimamente, tenho ouvido falar com mais frequência na descentralização do que era costume, mas (oxalá me engane), palpita-me que ainda não vai ser desta que tudo não passe de costumeiros e falsérrimos processos de intenção...  

  

4 comentários:

  1. Eu não fiquei muito satisfeito com este negócio do Metro ate à Casa da Musica, vai ficar uma grande parte de população desde da Pasteleira a Universidade e outras partes de gentes humildes sem um meio de transporte rápido. Temos que ser mais exigentes e não deixar ir a bolota toda para os porcos do costume onde fica sempre enterrado desperdiçado todo o dinheiro que vem de fora.
    Não é só Lisboa que tem problemas com o aeroporto, Sá Carneiro também está pelas costuras, mas é sempre a mesma coisa seus centralistas de merda com palas nos olhos só para a capital do império falido.

    Abílio Costa.

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  2. Caro Rui Valente,

    “A RESPOSTA CONSTITUCIONAL AO CENTRALISMO É A REGIONALIZAÇÃO”

    Dito assim, e só assim faz sentido, não há que pactuar com mezinhas pseudo-regionalistas para entreter os pacóvios do costume.
    Todo e qualquer dirigente autárquico defensor da REGIONALIZAÇÃO só tem uma posição a tomar: Fazer desta proposta de coisa nenhuma, o mesmo que a maioria faria com o famigerado Acordo Ortográfico: RASGAR.
    Um País (Norte de Portugal) que assiste, impávido, e bastante sereno , à menorização dum Aeroporto para justificar a construção de um outro, dito complementar. Que aceita ir para Vigo apanhar o voo intercontinental que lhe retiraram a troco duma ponte aérea do tipo São Paulo/Rio de Janeiro só pode ser tratado assim: Achincalhado, Apoucado, Gozado e Escarnecido.
    Dito isto, alinhar na conversa da descentralização é espetar mais um prego no caixão da Regionalização, para onde foi atirada pelos democratas , como bem diz, nos últimos 43 anos.
    Os chamados, até 2015, Partidos da Governação, nunca se preocuparam em fazer cumprir a Constituição e Regionalizar. Nos tempos que correm com um Governo do PS (do Arco) e do que sobre a matéria pensa o PR é como já disse noutras circunstâncias, esperar deitado.
    Regionalista que se preze passa bem sem” conversas para boi dormir”.
    Cumprimentos

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  3. Caro Olaio,

    É como diz, a Regionalização devia ser a palavra a usar. Mas não é isso que os partidos querem. É a eles que compete fazer acontecer, e só por isso merecem todos a nossa desconfiança.

    Os cidadãos portugueses, sobretudo os nortenhos, que são os que mais têm sido afectados pelo centralismo, continuam a não mostrar nenhuma capacidade de mobilização política, mesmo por uma causa tão importante para eles como a Regionalização.

    Veja o que nos estão a fazer também no futebol, nem isso nos faz mexer. Os gajos lá em baixo são corruptos até dizer basta, mas continuam a passear-se de canal para canal, embalados na sua ideologia mafiosa como se fossem as pessoas mais sérias do planeta. É asqueroso o mundo do futebol neste país.

    Enfim, não há Messias nem D. Sebastiões, mas há quem esteja à espera deles...

    Um abraço


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  4. Caro Rui Valente,

    Tal como diz, o estado de alma dos nossos concidadãos é desanimador e simultaneamente irritante.
    Muito pode ser dito acerca desta total ausência de espírito crítico relativamente ao que nos afecta, na dignidade e no carácter, características com as quais os nortenhos por um lado e os tripeiros por outro foram moldados a partir do berço.
    Como eu gostaria de dizer, como disse há mais dum século Guerra Junqueiro, aquilo que sentimos ser nos tempos que correm, os Portugueses:
    «Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [...]

    Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

    A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

    Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.»


    Guerra Junqueiro, in "Pátria" (1896).
    Um abraço

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