01 fevereiro, 2017

Portugal, o país do(s) porreiro pá

Resultado de imagem para um portugues orgulhoso
Protótipo do "bom" português


Já aqui ironizei várias vezes com a infantilidade do nosso povo quando lhe pedem para falar de Portugal. Provavelmente, a avaliar pelos sinais que continua a transmitir, nada mudou.

Embrutecidos pelo poder dos media (que é cada vez mais intenso), manipulador, centralista e fanfarrão, as pessoas esquecem a sua própria natureza e a do país real, para se focarem nos clubes de futebol privilegiados da capital como se isso fosse a salvação das suas vidas. Com Mourinho (do pós FCPorto...), com Ronaldo - depois de Eusébio -, e um campeonato europeu no papo, ficam assim reunidas as condições para se sentirem os melhores do mundo e arredores. 

Os portugueses, salvo algumas excepções, perderam o que de melhor tinham, e hoje só vemos praticamente gente aparvalhada, e desprovida de sentido cívico. Ignoram, também por culpa própria, que quando abrem a boca para darem largas ao seu "orgulho" nacional de forma tão imprudente e por coisas tão fúteis como as atrás citadas, estão com isso a dizer (sem o perceber) aos políticos que os desgorvenam, que podem prossseguir nessa empreitada. E os políticos, agradecem, claro.

Não gosto de generalizar virtudes, nem defeitos. Desconfio sempre dos extremos. A expressão "somos os melhores do mundo", avaliada num momento de euforia, é inofensiva. O pior, é quando ela é assimilada à letra, depois de ultrapassado o momento que a justifica, porque deixam de olhar para a realidade das suas vidas para a escudar na clubite imposta por terceiros. Este é um dos grandes cancros do centralismo, abastarda a vontade natural das populações e depois serve-se delas.

São contradições deste cariz que me levam a rejeitar a ideia muito propagada que os portugueses não sabem dar valor ao que de bom se faz no próprio país, quando olhando para as coisas realmente importantes, verificamos que em 42 anos de democracia uma parte substancial do povo se orgulha de viver num país onde:
  • o salário mínimo nacional é dos mais baixos da Europa
  • a corrupção é constante na classe política, empresarial, judicial e desportiva
  • o fosso entre pobres e ricos está sempre a aumentar
  • o centralismo promete mudança, mas continua a crescer (vidé TAP...)
  • morre muito mais gente de frio que nos países nórdicos 
  • a democracia é aviltada e a Constituição ignorada
Num país com todos estes gravíssimos problemas eternamente por resolver, com Mourinhos e Ronaldos, continuamos a ter motivos para nos envergonharmos do que na realidade somos. Pela minha parte, é apenas vergonha que sinto.  

4 comentários:

  1. O verdadeiro problema é a falta de cultura!
    Somos um país orgulhosamente analfabeto, porque "... os livros não dão de comer"!
    Já o vinho "dava de comer a um milhão de portugueses"!!!

    Enquanto não houver uma "revolução cultural", enquanto o sistema educativo português, não se aproximar do europeu, seremos e estaremos sempre no cú da Europa! E os nossos politicos agradecem.

    ResponderEliminar
  2. Felisberto,

    realmente, é um problema de cultura, só que em Portugal os sucessivos governos, salvo casos muito pontuais, pouco se interessam por desenvolvê-la. Preferem deixar o povão alienar-se com o futebol e com big-brothers, que lhes garanta a tal indiferença pela coisa pública, de modo a poderem governar-se à vontade...

    Um abraço, e viva o Porto!

    ResponderEliminar
  3. Caro Rui Valente,
    Os meus parabéns pelo texto magnífico. Infelizmente é uma triste realidade que vem desde os tempos do antanho. O seu texto lembrou-me um artigo de Guerra Junqueiro escrito em 1896 mas que com as devidas adaptações poderia também ser escrito nos dias de hoje. Se me é permitido, vou citar uma parte.

    “ Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;”
    “ Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. ”
    Aceite as minhas cordiais saudações.
    Jorge Monteiro


    ResponderEliminar
  4. Caro Jorge Monteiro,

    nem sempre os tempos mudam as vontades. Por muito que nos custe aceitar - porque também aqui nascemos -, o certo é que este povo continua a confundir a bondade com a ignorância. E o sistema, não só lhes faz a vontade, como a potencia.

    Cumprimentos

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...