22 maio, 2017

O Porto, precisa de um FCPorto mais político

Já me tenho interrogado várias vezes da razão que me leva a envolver-me de forma tão intensa com o FCPorto. A primeira resposta que encontro tem a ver com o gosto pelo futebol e a relação feliz que o nome deste clube tem com a cidade onde nasci. 

Começou muito cedo esse amor, ainda na infância. E não estava só, partilhava-o com os amigos daquele tempo maravilhoso. Eramos enraizadamente Porto, sem ainda sabermos a dimensão genética do termo, mas tínhamos todos bem dentro de nós o mais importante: o sentimento. Outros clubes existiam, mas para mim só o Porto interessava. Nem o efémero sucesso europeu do Benfica beliscou o meu gosto, continuei sempre fiel ao clube da minha querida e única cidade. Curiosamente, numa época em que era proibido falar de democracia, nunca senti a repulsa que tenho hoje por esse clube, e até gostei que tivesse ganho os dois únicos troféus europeus que tem no palmarés.

Mas hoje, o meu interesse pelo FCPorto é mais amplo, mais circunspecto, mais político, se assim se pode dizer. E é essa vertente da paixão, mais racional e pragmática, que gostava de ver consolidada em todos os meus amigos portistas, porque isso ajudá-los-ia a distinguir o sentimento da razão, quando é preciso separá-los, sem nunca os danificar. Respeitando os sentimentos de cada um, talvez tenha chegado o momento de não confundir o FCPorto com Pinto da Costa. 

Ninguém que acompanha este blogue me pode acusar de não ter elogiado o trabalho notável do ainda presidente do nosso clube. Quando nos tentaram matar com o processo Apito Dourado, defendi-o com unhas e dentes porque sabia que aquilo de que o acusavam outros faziam pior, e que não era mais do que uma conspiração nojenta do regime. Promovi uma petição para afastar Carlos Daniel e Cª. da RTP,  pelo trabalho imundo e cobarde que fez ao nosso clube, sendo ele funcionário do Estado. Enfim, não fiz mais porque não pude. 

Portanto, nada que eu possa dizer de negativo de Pinto da Costa reporta à pessoa em si mesmo, mas ao papel dele enquanto presidente nos últimos anos. Importa desde logo questionar, que justiça analítica pode haver quando se concentra num só homem o sucesso de um clube, assente no  mérito e na liderança, a ponto de ser quase endeusado, e se desprezam essas prerrogativas para não termos de aceitar que esse homem atingiu o princípio de Peter? Porque já não revela as mesmas faculdades. Se é evidente que o clube que ele tanto ajudou a progredir se descaracteriza a olhos vistos? Que deixou de ser respeitado? Em futebol, num clube com o histórico do FCPorto, quatro anos de insucessos podem mesmo conduzí-lo à falência. E neste capítulo, não vou alongar-me mais.

Se bem entendo, os adeptos vivem o temor de vazio. Receiam que a saída de Pinto da Costa possa provocar o caos, mas esse é um risco que temos de correr, e quanto mais tarde o fizermos pior. Já lá vão 4 anos a perder, e não foram só troféus. Foi prestígio, e internamente, respeito! Esta é para mim, a falha mais grave e intolerável de Pinto da Costa para com o próprio clube. 

Dizem alguns, com meia razão, que ninguém aparece a candidatar-se ao lugar de presidente. Pergunto: mas não será exactamente por respeito ao actual que isso acontece? Aliás, devia ser Pinto da Costa a assumir a responsabilidade pelo que se está a passar e promover eleições, reconhecendo que já não tem condições físicas e anímicas para liderar. Neste contexto, era assim que ele devia agir, evitando que os pontenciais candidatos viessem a ser acusados de querer desestabilizar o clube. Não o fazendo, é muito provável que isso possa mesmo acontecer. Não é impossível.

Agora, há sem dúvida um aspecto fundamental que não podemos negligenciar e que exige critérios escrupulosos, que é saber quem lá vamos meter. Candidatos, descansem, não vão faltar, e os oportunistas vão estar em maioria. Portanto, nada de votar como se vota na política, sem sabermos de que planeta virá o candidato. Este país está cheio de corruptos e oportunistas (mesmo no Porto), e se não tivermos muito cuidado na escolha até podemos lá meter, sem sabermos, um vermelho... Estes gajos qualquer dia dizem que o Porto é deles. Têm lata para tudo. 

Surriparam-nos rádios, bancos, jornais, e negaram-nos televisões. Só lhes falta mesmo é roubarem-nos a alma. Esqueçam as lendas da história. Esqueçam o síndrome da hispanofobia. Os maus ventos e maus casamentos, sopram todos de Lisboa, a cidade mais torpe e divisionista do mundo. Será por isso que eles nos querem invadir? 

Queira Deus que nunca mais lá tenha de pôr os pés. Nunca lhe sentirei a falta, até morrer. 

5 comentários:

  1. Caro Rui Valente,
    Oportuno comentário, numa altura de fim de feira e balanço de mais uma época frustrante.
    Sou dum tempo, quando acompanhado de meu pai, fui aprendendo a cidade onde nasci,"despontei para a vida inquieta", me fiz homem, pai e avô, e "que não nasci por acaso nestas pedras".

    Soube do carácter forte das gentes tripeiras ao longo da história e, sobretudo aquele (carácter) correspondente ao período forjado durante o séc. XIX e início do séc XX que os 50 anos de Ditadura Nacional se encarregaram de amansar e com o advento da Televisão de amolecer.

    A leal e invicta cidade que das vísceras fez alimento e das carnes o impulso descobridor de novos mundos, só sabemos dela porque assim reza a história.
    A cidade que acendeu as luzes das liberdades e fez a sua Revolução Liberal de 1820 derrotando o absolutismo da capital imperial, viu, tais valores absolutistas, no presente, serem substituídos por aquilo a que chamamos centralismo. Centralismo = Absolutismo Maquiavélico.

    Mercê das políticas do Centralismo, os homens com o carácter dos tripeiros de outrora, já não abundam ou sequer existem. Sei de fonte segura que os tempos mudam. Mas não aceito que mude o carácter! Fizemos a Revolução mas não tomamos a "Bastilha".

    Também eu jamais esquecerei o Homem que à frente do meu Clube foi a voz revoltada de tudo quanto víamos e sentíamos ser usurpado.

    Rodeou-se na altura (1982) de homens com convicção, carácter e tenacidade militante. Deu-nos voz. Deu-nos títulos. Deu-nos a conhecer. Ele ainda aí está! Mas está só. Não tem com ele aqueles que a ele se juntaram na "longa marcha". Nem sequer estão presentes para lhe dizerem! "Não vás por aí!" E quando se diz que a sua presença impede o aparecimento de outros, aqui reside o meu medo. Os abutres só se aproximam das carcaças, quando estão certos que ninguém os vai perturbar.

    Os primeiros parágrafos deste meu comentário, visam mostrar como é difícil encontrar alguém com o elevado e inquestionável carácter que se exigem a um, mais do que, Presidente do Futebol Clube do Porto.
    Tenho para mim que a ausência manifesta de alguém para presidir a este Clube se deve, não a Pinto da Costa, mas ao elevado carácter que ele emprestou à sua acção e ao sucesso obtido. Serão estes factos inibidores ? Creio que sim! A isto se deve este "status quo". É então, nestas circunstâncias que veremos de que carácter são feitos os Portistas. Não pode, nem deve o Presidente abrir a porta ao chico-espertismo. Apresentem-se e serão escutados.

    A propósito do vencedor da Liga Salazar 2016/2017, foram dadas à estampa, figuras, figurinhas e figurões oriundos desta cidade/região que só por insensibilidade a tudo o que este povo do Porto representa para a história do País e para a sua afirmação no mundo se podem permitir à indignidade de serem apoiantes dum clube que foi e é suportado pelos interesses mais mesquinhos da alma lusitana.

    Em suma: Também eu receio que o Clube venha a cair nas mãos dos que até aqui não o conseguiram destruir por fora.

    Não esqueço a atitude de alguém que, num programa de televisão, abandonou o "charco" onde chafurdava um cevado acerca do apito dourado e mais adiante se tornou comentador dum pasquim lampião, controlado pelos cartilheiros do carnide e portador de toda a ignomínia que se pode fazer ao Futebol Clube do Porto.

    Cumprimentos

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  2. Caro Olaio:

    os próximos tempos vão ser uma incógnita. Sabendo que não há insubstituíveis, não vai ser fácil eleger a pessoa certa para presidir ao FCPorto, e isso só vai acontecer quando Pinto da Costa perceber os danos que está a causar aos adeptos.

    Pessoalmente, estou farto de épocas sinuosas com finais infelizes. Olha-se para Pinto da Costa e nota-se uma tranquilidade não condizente com a realidade. Mesmo que seja simulada, cai muito mal. Não parece o mesmo homem.

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  3. rui moreira a presidente.
    seria curioso ter a presidente um comentadeiro desse lixo que é o correio da manhã.

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  4. esse, do CM é pecado que não perdôo a Rui Moreira.

    Continuo a ter uma opinião bem formada a seu respeito, e por isso às vezes estranho algumas das suas opções. Mas, esclarecido que esteja este caso da Selminho, estou convencido que é uma pessoa com valor e capacidade para liderar, e o FCPorto podia ser um fato que lhe cabia bem...

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  5. Enquanto não acabar o ciclo Pinto da Costa o FCP vai-se arrastar e perder a identidade que ele próprio ajudou a criar. O homem não se convence que o tempo dele acabou, há mais gente capaz para o substituir. Vamos ver quem é o próximo treinador e no plantel quem entra e quem sai, mas eu desconfio que a historia destes 4 anos vai-se repetir infelizmente.
    Pinto da Costa está a repetir-se no " Vamos mudar para ficar tudo na mesma.

    Abílio Costa.

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