03 outubro, 2017

Os nossos comentadores políticos e a Catalunha



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Ângelo Correia
(um lírico convencido)


"Notável", a reacção de algumas figuras da vida política nacional face aos acontecimentos da Catalunha. Quem não os conheceu, que os comprasse na hora certa, porque agora já pouco há a fazer.

Estes passarinhos, continuam por aí a desconsiderar-nos, semeando a genes de todas as rebeliões, tratando-nos com o cinismo e a discriminação do costume. 

São gente com responsabilidades (imerecidas) do passado, e também da actualidade, figuras que estiveram no poder, dos partidos do arco governativo, quem nos vem agora falar dos perigos da desintegração de Espanha e das consequências nefastas que a eventual separação da Catalunha podem causar, não só ao país vizinho como a Portugal. É esta incoerência absoluta, esta falta de honradez intelectual, que abomino nesta espécie de saltimbancos que fizeram de Portugal o país medíocre que ainda é. 

Se recuarmos no tempo, se olharmos para a história da humanidade com o realismo devido, depressa concluímos que nenhum povo é inocente nesta coisa de independências. Nenhum povo do mundo é exclusivamente pacífico. Os países ditos modernos foram outrora tão selvagens, como aqueles que hoje condenamos. Portugal construiu-se e cresceu com a invasão a outros povos.  Ceuta, foi a primeira vítima, depois seguiram-se outras regiões africanas, outros continentes, sempre com o mesmo espírito: poder, e riqueza. A nossa origem, como a de tantos outros países, é multi-racial. Ninguém é puramente nada!

Os muçulmanos apossaram-se, e criaram raízes em zonas consideráveis do sul, hoje parte integrante de Portugal, e nós portucalenses corremos com eles. Às vezes esquecemos-nos que D. Afonso Henriques (1º. Rei de Portucale), teve de lutar contra esses mesmos povos para prosseguir na sua campanha de ocupação e limpeza religiosa (a causa inspirava-se num desejo de Deus), entre os quais constavam reinos árabes como Beja, Évora, Elvas, e as hoje espanholas Sevilha e Badajoz...  Após muitos anos e batalhas perdidas e outras vencidas, nomeadamente com Castela, lá conseguimos instalar um período razoável de paz duradoira no célebre tratado de Zamora, com Leão e Castela.  

Pergunto: em pleno século XXI, estará algum país em condições de garantir que as suas raízes etnográficas originais são integralmente puras?  Nós portugueses, não temos, e os espanhóis também não. A Espanha contemporânea, como todos sabemos, tem pelo menos 3 grandes problemas regionais e étnicos: o País Basco, a Catalunha e a Galiza. Umas, mais que outras, as três regiões têm línguas e hábitos culturais muito distintos que lhes conferem diferenças relevantes com o resto de Espanha. O tempo consumido com as lutas que têm travado pela auto-determinação, com ou sem sangue, confere-lhes no mínimo, o direito a serem mais respeitados... As lutas dos outros povos, não são obrigatoriamente menos importantes que as nossas.

Em Portugal, a questão das etnias existe de facto (os nortenhos têm mais traços culturais com a Galiza do que com Lisboa e Sul do país). Mas é uma questão, não um problema, isto é, nunca chegou a ser encarado pelos portugueses como tal. Actualmente, já não é bem assim... Neste capítulo, o grande problema em Portugal têm sido os próprios governantes. Os que agora clamam pela coesão nacional, são os mesmos que passaram estes 63 anos a dividí-lo.

Os nossos governantes, em vez de aprenderem com o problema espanhol, de procurarem governar o pais com a sensibilidade que questões desta natureza recomendam, descentralizando, conferindo gradual, mas resolutamente mais autonomia às diferentes regiões, evitando manifestos arrogantes de poder e discriminações, não. Centralizaram-no mais. Do 25 de Abril para cá, o sentido foi invertido. Passamos a viver no país mais centralista da Europa!

Como segunda cidade portuguesa, que se orgulha de transportar consigo o nome do próprio país (Porto, significa Portucale = Portugal), a "democracia" atraiçoou-a. Não a Democracia verdadeira, mas seguramente esta que os nossos políticos fizeram o favor de ultrajar Esta imitação reles de democracia a que eu chamo sem rebuço ditadura, retirou ao Porto muito do protagonismo que tinha. E não o fizeram por acaso.

Acabaram com importantes recursos indígenas, como jornais sediados na cidade, Rádios, Bancos, Companhias de Seguros, enfim, um sem número de meios fundamentais a qualquer autonomia. Todos sabemos disso, mas não é nada que choque os centralistas. Continuam empenhados na senda das promessas falsas, apenas promessas. Agora, temem (pudera!) que Portugal venha a sofrer com a eventual independência catalã, e querem, "querem muito", a coesão nacional, tratando-nos como parentes menores. 

Qualquer vulgar ladrão quer muito ficar com o que não é seu, não é verdade? Qualquer vigarista finge que não percebe que o é, não é assim? Que terá isto de original, para não dizer inteligente?

Estes nossos políticos devem estar mesmo a ficar com as cuecas sujas, tal é o medo de perderem a mama do absolutismo pós revolucionário. Então, toca a deitar a baixo a Catalunha. Como se tivessem alguma coisa a ver com o assunto. Não têm. Para já, até andam com muita sorte. 

Meus caros, agora é que os gajos de Lisboa e sus muchachos obedientes vão enxovalhar a Regionalização. Melhor pretexto não podiam ter.

Já agora, e se fossem cuidar dos paióis de Tancos? Ouvi dizer que ainda se vê por lá algumas fisgas. Cuidado, que os catalães podem descobrí-las!

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