11 dezembro, 2017

Nacionalismo em Portugal, só se fôr o bacôco lisboeta

Quero lá bem saber se os piores centralistas do país são os lisboetas de Lisboa, ou se são de outras origens. Considero estas observações perfeitamente inconsistentes. Já ouvi opiniões com esta bizarria algumas vezes, saídas da boca de nortenhos, e  portuenses, como se as pudessem fundamentar em dados fiáveis. Ser lisboeta, ou ser portuense, não se mede apenas pela origem da natalidade, mede-se também pelo tempo de vida que alguém passou  numa, ou noutra cidade. E mede-se principalmente, pelo modo afectivo como se absorveu essa vivência. Todos nós, portuenses ou lisboetas, temos alguém na família nascido noutras cidades, ou vilas.  

É verdade que não há, em parte nenhuma do planeta, povos exclusivamente virtuosos e povos exclusivamente maléficos. Isso não existe. Mas, já podemos dizer com alguma margem de segurança, que cada povo tem as suas características próprias. O cosmopolitismo de uma cidade tem um grande inconveniente, que é precisamente correr o perigo de se descaracterizar. Penso que foi isso que aconteceu com Lisboa. Talvez seja por essa razão que torço o nariz aos excessos das ondas cosmopolitas, como parece estar a suceder agora com o Porto. O turismo é algo positivo, dá-me muito gosto ver a cidade cheia de gente de todo o mundo, e de saber que alguns deles se instalaram por cá, mas receio que acabemos por perder o que nos distingue dos outros. Se calhar, é uma inevitabilidade, a que o camaleónico progresso obriga.

Esquecendo as características particulares de portuenses e lisboetas, há duas causas que distinguem as principais cidades do país que não devem ser  ignoradas, sob pena de compararmos o incomparável. A primeira, é sem dúvida o poder político estar concentrado em Lisboa. A outra, é o poder mediático, também concentrado na capital. Ambos os poderes são propriedade pública e privada de Lisboa. Só isto devia bastar para que os inimigos da regionalização percebessem as diferentes forças, entre uma e outra cidade,  de forma a acabarem de vez com terminologias manhosas como por exemplo o velho argumento do "porto-centrismo"  e patetices do género que nada os dignifica.

Aliás, fosse o poder político mais descentrado da capital, talvez esta guerrinha tivesse impacto menor e pudéssemos estar hoje a dizer que o poder económico estava maioritariamente no Norte, mas nem isso é verdade, porque até as grandes empresas nortenhas se viram forçadas a passar as suas sedes para Lisboa.  O mesmo aconteceu com a rapinagem levada a cabo pelo centralismo com as estações de rádio e com as sedes de jornais do Porto para a capital. Discutir em Portugal a bondade da regionalização com os centralistas, é portanto um acto inglório, uma espécie de luta entre David e Golias. Concluindo, para os defensores da Regionalização, há um dado adquirido que se pode interpretar de uma forma simples: em Portugal, será impossível obter democraticamente a realização tranquila da Regionalização. 

Voltando à capital, ao impacto extremamente negativo que decorre da sua política centralista, e muito estranhamente com o Porto, é impossível evitar sentimentos profundos de hostilidade que incitam ao separatismo. Sim, têm sido os Governos anteriores e o actual quem, com as suas políticas hiper-centralizadoras, mais contribuíram para a crispação instalada entre Lisboa e Porto. E, é impossível dissociar toda esta profusão de asneiras com o que está a acontecer com o futebol, com o tratamento de excepção dado ao Benfica pela comunicação social, que em vez de informar com isenção todos os portugueses, se presta ao desprezível papel de cúmplice e protector de uma escandaleira monstruosa.

Não podendo adivinhar o número, e a identidade, dos lisboetas cultos,  e bem formados - nem mesmo através dos seus incontáveis canais de televisão -, porque nunca tive o prazer de ver um único, a apoiar publica e frontalmente as nossas causas, como cidadãos de um verdadeiro Estado Unitário, tanto politicamente, como desportivamente, só é possível pensar que dessa gente não podemos esperar nada de sublime.



3 comentários:

  1. PARABÉNS pelo conteúdo deste post.

    ResponderEliminar
  2. Eu por exemplo, antes de ser português sou Portuense, pouco me importa dos buracos da prostituição ou de outra coisa qualquer se passe em Lisboa, o que eu sei é que eles me andam roubar.
    Ser Nacionalista num país centralista é não dar a bota com a perdigota, será que eles ainda não toparam nada!...

    Abílio Costa.

    ResponderEliminar
  3. amigos portugal ja existia muito antes de lisboa ser anexada e conquistada, portanto ....... se for preciso por lisboa outra vez no seu lugar portugal encarregar se a disso.

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...