07 janeiro, 2018

Chega de queixas, obriguemos o Governo a agir!

Se publiquei o artigo anterior, do jornalista Manuel Luís Mendes,  foi porque lhe reconheci algum valor e sentido de oportunidade. Nesta perspectiva, nada tenho a acrescentar, a não ser que o conteúdo peca por não ir um pouco para além do óbvio. Não dá para acreditar que nesta altura do campeonato haja algum jornalista (para não dizer, algum português), que não tenha conhecimento do escândalo dos emails e do silêncio que os media procuram manter sobre o mesmo o tempo que puderem. Claro que, à medida que o garrote dos factos aperta e os obriga a enfrentar a realidade, aos poucos, lá vão soletrando a custo a questão dos emails, ainda que sempre acompanhada de muito desconforto, mas mesmo assim sem poderem ignorar totalmente  o que está a acontecer.

Na prática, o que quero dizer sobre este assunto é o seguinte: já cansa falar de factos, é preciso interpretá-los, investigá-los, e a partir daí agir em conformidade com as respectivas conclusões. Já todos sabemos que a RTP, como empresa de comunicação e serviços públicos, paga com o dinheiro de todos os contribuintes, devia ter um comportamento condizente com esse estatuto, e não tem. Pergunto:  é só de agora que a RTP  anda a abastardar essas obrigações? Desde quando é que a RTP deixou de ser isenta no tratamento com os clubes de futebol, ou se preocupou em dar o mesmo tempo de antena aos três principais clubes portugueses? Desde quando é que a RTP não privilegiou o Benfica? Sabemos bem que a RTP anda a discriminar o FCPorto há muitos anos, portanto isso já não é  novidade. Com os media privados passa-se a mesma coisa. Só com uma diferença: a RTP, sendo estatal, devia ser punida, porque fazendo discriminação, está a ir ao bolso dos contribuintes não benfiquistas, ou seja, rouba-os. Já imaginaram os milhões que nos estão a dever? Que teria o Governo para argumentar contra a esta realidade?  Atrever-se-ia a lançar-nos areia para olhos? A mentir na nossa cara?

O centralismo, o poder excessivo leva a estes abusos, e quem o tem, tudo faz para dele nunca abdicar. Portanto, é coisa velha, saturada de factos, e isso cansa, e o que cansa arrisca a esquecer-se.. Ora, é preciso impedir que tal aconteça e incutir objectividade ao conhecimento dos factos, sobretudo quando estes comportam vestígios de ilegalidade, como o escândalo dos emails. E se forem ilegais como tudo faz crer, significa que causam danos a terceiros, logo, importa atalhar tanto quanto possível a sua investigação e consequente julgamento na Justiça.

Do meu ponto de vista, a reacção do FCPorto face ao problema espelha um pouco a postura dos cidadãos no regime de Salazar, com tímidas queixas e excesso de cautelas perante ocorrências altamente suspeitas que lhe têm causado prejuízos enormes, parecendo ignorar a legitimidade que a Constituição lhe confere. Ninguém mais do que eu duvida da credibilidade do actual regime. A democracia portuguesa é débil e muito teórica, mas é precisamente essa percepção que devia estimular o FCPorto a  desafiá-la. Era isso que devia fazer, pressionar o Governo sem perturbar as investigações em curso, para o obrigar a optar entre decisões democráticas, ou a assumir-se como um governo ditatorial. Trata-se de obrigar os responsáveis do regime a retratarem-se. O Governo tem de ser chamado às suas responsabilidades, com decisões idóneas, sem o deixar fugir dos seus deveres. Os dirigentes do FCPorto parecem ainda pensar como  pessoas integradas no antigo regime. Constitucionalmente, Portugal ainda é um regime democrático mas o Governo tem de o provar com atitudes condizentes, e deixar de encobrir estas vigarices, mesmo pondo em causa o "bom nome" do Benfica. Mas isso, não importa, é irrelevante para a dignidade de um verdadeiro Estado de Direito. Não podemos dar demasiada importância a isso, sob pena de estarmos a pactuar com comportamentos sórdidos de quem devia ser eticamente exemplar.

O FCPorto não devia reconhecer autoridade, quer à Federação, quer aos Conselhos de Arbitragem que a integram, quer à própria Secretaria de Estado do Desporto, porque já provaram ser de tal modo incompetentes que mais parecem cúmplices do Benfica. Parece-me desnecessário dizer mais. O prazo para os modos civilizados já terminou. O persistente silêncio dos destinatários trataram de o esgotar... Esta gente sabe que está a ser protegida, e por isso a tendência é para abusarem, para provocarem até situações conflituosas, estratégias para aplicar castigos e expulsões, procurando fragilizar o nosso clube, e desta maneira deixarem abertas as portas do penta ao Benfica. Isto, é mais que óbvio. Pela minha parte já desisti de acreditar na inocência dos árbitros. Todos! Uns mais descarados, outros mais subtis, todos se têm mostrado altamente comprometidos com o que está a acontecer.

Caso o FCPorto tencione bloquear esta conspiração (premeditada), não pode dar-se ao luxo de aguardar pelo término das investigações, porque quando der por ela já fomos esmagados pelo regime. É tempo de colocar este enorme escândalo na esfera política e obrigar todos os partidos a retratarem-se. Se formos impedidos de o fazer, não vale a pena continuarmos a fingir que não percebemos, e estaremos a dizer ao Mundo que afinal o 25 de Abril foi uma grande vigarice, que a Democracia não existe, e que a PIDE ainda mexe e deixou muitos descendentes.


2 comentários:

  1. Obriguemos o Governo a agir - Caro Amigo Rui Valente completamente de acordo consigo, mas como obriguemos o Governo a agir quando um ministro das Finanças o sr Centeno pede bilhetes à borla ao seu clube do coração e depois é perdoado aos filho do presidente caloteiro vieira isenções no IMI (CM), quando 1º ministro de todos os portugueses e ministro das Finanças se sentam ao lado de um devedor de milhões à Banca. Com governos destes é difícil esperar qualquer coisa.

    Abílio Costa.

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  2. Abílio,

    é exactamente por isso que o FCPorto tem a obrigação de intervir, de protestar, e até de ameaçar (por que não, se os gajos da Federação não fazem outra coisa?). O FCPorto não pode render-se a esta chantagem e tem de proceder com os mecanismos jurídicos que a Lei lhe permite. O caso está ser investigado e entregue à PJ, mas isso não tem impedido que o Polvo continue a roubar-nos, como ontem se confirmou outra vez.

    Eu quero ver a reacção do Pinto da Costa e dos próprios adeptos se a garra dos jogadores e do próprio Sérgio Conceição não bastar para travar os mafiosos. Olhe, a mim não me dará gozo nenhum se me vierem a dar razão, porque é o FCPorto quem terá mais a perder com tanta vulnerabilidade. Oxalá, a Justiça nos ajude. Se os gajos não forem chamados a Tribunal, cá estaremos para ver como é.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...