30 janeiro, 2018

Há coisas que julgamos ultrapassadas, mas é preciso recuperá-las porque fazem falta

Provavelmente já cá não estarei no dia em que a dignidade vier a ser restaurada em Portugal (isto, dentro de um espírito optimista).  Por mais que não queira falar dos políticos, é impossível. A menos que, por um estranho fenómeno, deixasse de avaliar as responsabilidades pela ordem lógica da escala dos poderes, seria de admitir tal possibilidade.

Num país como o nosso, onde a bagunça se tornou num estilo de vida, alterar esta situação vai ser uma tarefa muito árdua. Para quê reavivar factos se eles estão constantemente a acontecer? As provas, são sucessivas, são já uma rotina.

Nem o auto-convencido Rui Rio, que conseguiu convencer alguns eleitores portuenses de uma integridade pessoal desproporcional à fama que angariou, teria categoria para limpar todos os vícios instalados na política. Precisamos de homens de outra envergadura. Homens que acabem definitivamente com a promiscuidade entre a política e o desporto de forma categórica, em vez de oportunistas sem coragem nem vontade.

Quando oiço políticos como Nuno Melo, dizer com a maior naturalidade que tem colegas adeptos (como ele) do Benfica fanáticos, não é preciso puxar muito pela cabeça para se ter uma ideia da mentalidade que impera na classe política do país. Chegamos a um ponto tal de vulgaridade (não confundir com popularidade) que até parece ser impossível viver sem o futebol. Eu pertenço a esse grupo, mas não desempenho funções de estado relevantes, e isso faz toda a diferença. Sou mesmo de opinião, que para actividades específicas, onde a neutralidade é fundamental, como a Justiça, e muitas outras, devia ser vetada a ligação ao desporto, exactamente para evitar suspeições. E foram os próprios políticos que tornaram natural essa proximidade, com conceitos de liberdade incompatíveis com as exigências dos cargos, o que atesta de per si a fraca noção que têm dos mesmos. Se defendo o distanciamento entre funções de alta relevância política e os desportos populares, não é por razões elitistas, mas porque as rivalidades clubistas só podem ser atenuadas pela percepção de um Estado isento também na aparência (como a mulher de César).

Ninguém pode negar a ninguém, nem aos políticos, o direito de gostar de um determinado clube de futebol, ou qualquer outro desporto, mas uma coisa é gostar de um clube, outra bem diferente, é à sombra disso, usar o cargo para o beneficiar, ou para prejudicar outros. Isso, é a perversão total da política e da própria democracia. Foi o que já aconteceu, e o que continua a acontecer, e não é só na política, é na banca, na comunicação social e no desporto (futebol).  Em tudo, enfim.

Fica-nos bem descartarmo-nos dos preconceitos, mas isso não funciona se os substituirmos por outros ainda piores sem nos darmos conta. Hoje, entende-se normal o tratamento por tu entre pessoas que mal se conhecem. Não é grave, é verdade, mas não deixa de ser uma abertura excessiva de confiança quando o conhecimento recíproco é recente.  O "você", era uma espécie de sala de espera para o "tu", não era um preconceito. O "tu" só aparecia após algum tempo, quando as pessoas ganhavam mais confiança entre si, e mesmo que não aparecesse podiam ser boas amigas na mesma tratando-se por você.

Nas televisões instalou-se essa moda mas nem por isso se consolidou o respeito. Tanto no futebol como na política, os debates estão ao mesmo (baixo) nível. Hoje, há certas pessoas que não pedem desculpa quando têm de passar defronte de outras numa fila ou numa escadaria porque acham que ao fazê-lo estão a assumir a culpa de qualquer coisa, mas é precisamente o contrário, estão apenas a mostrar boa educação, que é o que todos nós gostamos de receber quando acontece connosco.

Enfim, isto daria pano para mangas. A globalização, e sobretudo os hábitos da indústria cinematográfica americana, são corresponsáveis pela maioria das "modernidades" e de  comportamentos sociais estranhos, mas somos nós que temos de escolher o que é mais indicado para o nosso país. Passamos mais tempo com o telemóvel na mão do que a conviver com as pessoas. Estamos  a hipervalorizar as coisas, e a desvalorizar as pessoas.

Não há modernidade que supere a sensatez. É o que falta na política também. O resto, virá por simbiose. 

       

3 comentários:

  1. Sigo as suas crónicas com atenção faz já algum tempo, admiro a sua cultura e os temas que esmiuça. Obrigado pela partilha da sua experiência e cultura geral e pela sensibilização sobre temas semore controversos como a política e o futebol.
    Continue com coragem na divulgação e denúncia dos podres da sociedade. Bem haja.
    Fábio Araújo

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  2. Caro Fábio Araújo,

    Agradeço as palavras simpáticas. São sempre animadoras, pode crer.

    Cumpts

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  3. Os nossos deputados os nossos políticos os nossos governantes não servem de exemplo para ninguém é tudo farinha do mesmo saco. Todos os dias a comunicação social (outra praga) nos trás maus exemplos desta gente é uma Trupe de promíscuos.
    Este parolo Nuno Melo nunca me enganou, um papagaio político que nunca soube fazer nada na vida a não ser papaguear com a sua tribo.
    Cada vez desprezo mais esta gente.

    Abílio Costa.

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