19 fevereiro, 2019

O que é e o que não é preciso

Pedro Baptista
Não sei o que Rui Moreira pensa sobre a regionalização, sei que não sendo de raiz um paladino, tornou-se seu defensor, ao identificar os tumores do país e procurar as soluções.
Moreira foi contra o mapa das regiões em 1998, mas pôde perceber o que foi o país desde que a Constituinte de 1976 consagrou a regionalização, e sobretudo, desde que um projeto de regionalização chumbou no referendo de 1998.
Temos a experiência funesta do centralismo sem regionalização, mas ninguém pode acusar uma regionalização de que ninguém tem experiência no continente, sendo um sucesso absoluto nas ilhas. Para eles e para o país.
Ora o referendo foi imposto, em 1977, in extremis, por uma revisão constitucional, que foi um golpe ignóbil para tornar a Constituição impraticável.
O acordo secreto foi urdido entre Rebelo de Sousa e Guterres com o primeiro, em troca, a viabilizar o último ano de governação do segundo, e entre os líderes parlamentares Mendes e Lacão, com o primeiro a ofertar ao segundo uma inutilidade, para este fazer figura de constitucionalista...
A regionalização foi boicotada porque os dirigentes do PSD e do PS conspiraram, acoplando-lhe um referendo impossível de vencer, para mais com o instrumento de dissensão das rivalidades locais, fazendo mudar a opinião pública de favorável, para desfavorável.
O que já tinha acontecido com os avatares do PS e do PSD: Soares foi sempre contra a regionalização, nomeadamente na sua presidência inconstitucional por omissão, tendo jurado fazer cumprir a lei fundamental, tal como Cavaco, depois de aprovar, em 1991, a sua lei-quadro, renegando-a em 1994...
Não conheço, pois, muito bem, o projeto de Rui Moreira sobre a regionalização mais do que necessária há muito e que temo já venha tarde se alguma vez vier, pois não sei o que haverá, em breve, para regionalizar... Mas espero que siga caminhos até agora não trilhados...
Porque do que tenho a certeza é que o país não precisa de algo à espera da dinâmica do Parlamento onde quase ninguém a quer, ou do PR, seu inimigo figadal. Muito menos, de algo vindo dos dirigentes do PS ou do PSD que, durante estes anos, agitaram a bandeira da regionalização para fazerem pouco de nós e continuarem a afundar o país, nem valendo a pena dizer em proveito de quem.
Mas valerá a pena pensar em que condições foi possível à Madeira e aos Açores se tornarem regiões autónomas!...
MEMBRO DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DO PORTO                
Fonte: (JN)

Nota de RoP: Inteiramente de acordo com o teor desta crónica de Pedro Baptista. Podem pensar o que entenderem de Pedro Baptista, o que ninguém pode, nem deve, sob pena de difamação, é dizer que Pedro Baptista não é coerente. Alguns dos leitores do Renovar o Porto devem lembrar-se que foi ele, juntamente com Narana Coissoró, que há uns anos atrás criaram um Movimento (Movimento pró Partido do Norte) a favor da Regionalização. Eu próprio, a par de outros amigos da blogosffera e um ex-colaborador do Renovar o Porto, Rui Farinas (já falecido) fizemos parte desse movimento que infelizmente não teve condições para vingar.

PS-Um desses colaboradores foi o administrador do blogue Kosta de Alhabaite. Sei que posso mencioná-lo sem problemas. Já não sei se posso citar os nomes dos outros. Se fôr afirmativo agradeço que me informem.  

2 comentários:

  1. Obrigado Amigo pela referência e, claro, deferência.
    Fiquei emocionado por referir o Nortenho Sr. Rui Farinas. Ainda me lembro dele aparecer com uma enorme pilha de boletins de assinaturas que nos permitiriam o registo do Movimento junto do TC ( o que não aconteceu ). Sei que ambos, o Sr Rui Farinas e o Sr Rui Valente, eram entusiastas do projecto, imperfeito, mas uma pedrada no marasmo que se vivia (e vive - não percebo muita da nossa gente) relativamente à subalternização, ao esbulho e à vigarice do Terreiro do Paço. Hoje, cada vez mais acentuado o que levou à criação daquele Movimento, mostra que urge dar safanões maiores. Hoje não creio que a regionalização seja a solução: já não chega! Exige-se uma autonomia regional, forte e que nos liberte do jugo lisboeta e ao mesmo tempo que lhe subtraia o que é nosso por direito e que "eles" nos comem. Numa Europa de regiões, eu outrora português orgulhoso, já não rejeito uma região independente do "lisboagal"; afinal foi aqui que nasceu Portugal e não lá para o sul centralista. Embora o Presidente Rui Moreira diga que o Porto não quer ser capital de coisa nenhuma, eu contrario-o: conhecemos as habituais genuflexões de muitos nortenhos que facilmente vergam a cerviz à cegueira provocada pelo (falso) brilho da capital, por isso APENAS o Porto pela autonomia das suas gentes possa ser o motor agregador para essa independência do terreiro do paço...
    Quanto ao Movimento, muito haveria para falar (principalmente do seu fracasso). Penso que muitos dos seus constituintes - comissão coordenadora e executiva - não se conseguiram libertar completamente dos partidos que antes defendiam e isso acabou por tolher os objectivos. Outros queriam claramente "outras coisas". O abandono de Baptista também ajudou. Mas não só. Mas isso são conversas para outras tertúlias, para muitos actos de contrição mas também para inflamar esta coisa que só as gentes do Porto possuem: orgulho da terra, apelo à liberdade e … à independência!
    Um abraço reconhecido.

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  2. Caro Kosta de Alhabaite:

    Foi uma tentativa algo romântica a de fundar o Movimento Pró Partido do Norte, mas não me arrependo dela, embora concorde consigo com o desfeche da causa...

    Independentemente das razões pessoais do abandono dos constituintes penso que as condições também eram precárias e talvez tenhamos sido um pouco precipitados a avançar com a ideia (que para mim era o que havia de melhor no momento). Faltou acima de tudo "pasta" para avançarmos calmamente mas com uma estratégia melhor gizada. De qualquer modo não me arrependo.

    O saudoso Engº.Rui Farinas era um homem espectacular. Tinha já 80 anos mas era mais jovem e combativo do que alguns de 30 hoje. Era um conviva extremamente agradável. Tenho muitas saudades dele.

    Meu caro, vamos ver o que nos espera. A Europa está em crise e quando assim é Portugal fica sempre pior.

    Um abraço e obrigado pelo contacto

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