Uma fórmula eleitoral excêntrica e medrosa. Assim se classificou, nesta mesma coluna, mas em 2017, a proposta do Governo de transformar as comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR) numa espécie de proto-regiões.
Já então se percebia que um colégio eleitoral de autarcas (presidentes e vereadores, deputados municipais e líderes das juntas) não era o melhor exemplo de democracia.
Ainda assim, podia ser visto como um mal menor. Mesmo com o pecado original, talvez a intenção fosse boa: caminhar no sentido da regionalização, atribuindo às CCDR, logo numa primeira fase, a gestão de todos os fundos europeus destinados às regiões, e não apenas as "migalhas" dos programas operacionais regionais.
Durou pouco. Uns dias depois, o ministro Eduardo Cabrita lá veio esclarecer que afinal as CCDR ficariam com o que já tinham e nada mais. Começava a ser mais difícil encontrar utilidade nesta reforma administrativa, mas talvez ainda se pudesse dizer que caminhava na direção correta: um pequeno passo é melhor do que passo nenhum.
Mas isso foi só até ser conhecido, este verão, o articulado completo. O colégio eleitoral mantém-se, mas o Terreiro do Paço dá com uma mão, para tirar com a outra: escolhe um dos vice-presidentes (pelos vistos, para garantir a paridade de género) e pode demitir o presidente. Ou seja, os futuros líderes regionais são eleitos por uma assembleia de autarcas, mas na verdade, não é perante o seu eleitorado que terão de responder, antes perante o fiscal instalado no trono imperial.
Como estamos em Portugal, as coisas podem sempre piorar. Para acabar de vez com qualquer pretensão democrática, PS e PSD negociaram nos bastidores e decidiram distribuir as presidências: esta para mim, aquela para ti. Ou seja, este tacho para mim, aquele para ti. Se alguém acha que algum dia PS e PSD avançarão com a regionalização do país, talvez seja melhor esperar sentado. Na hora da verdade, fala sempre mais alto a manutenção do poder a partir do centro. Nem que seja só para ficar com umas migalhas.
Rafael Barbosa
Chefe de Redação (JN)
ABC
ResponderEliminarOS DITADORES DA DEMOCRACIA. OS TACHOS AOS TACHISTAS, OS PINÓQUIOS POLÍTICOS, que ninguém nos ouça, A merda de um País.