Clicar para ampliarEnquanto Cavaco Silva se insurge contra a abstenção de 62% de portugueses nas eleições europeias sem perceber a gravidade da sua própria abstenção em relação ao amigo e
conselheiro de Estado, Dias Loureiro, o mundo «vibra» com a contratação bilionária de Ronaldo, pelo Real Madrid. Vibra o mundo, e vibra, alucinada, a comunicação social portuguesa, como se o caso fosse a coisa mais importante do planeta.
O frenesim dos media é imparável. Vai da matemática - para ver quem consegue atribuir o valor mais original e espalhafatoso aos rendimentos do craque -, até aos cavalos puro-sangue lusitanos [TVI], com comparações patéticas entre o preço do jogador e o dos equídeos, pelo meio. Quem os viu, diria que eram eles os felizes contemplados com aquela anafada pipa de massa. É uma felicidade. Até eu, sem querer. dei comigo a dar pulos de alegria com tanto entusiasmo. Estive para ir para a rua festejar, mas travei a tempo quando me apercebi que a rua estava vazia...
Mas, o frenesim não começou com o galáctico Ronaldo. Horas antes, deu-se início à tradicional campanha benfiquista do regime. Fechou-se a época do futebol jogado, deu-se início à do futebol folclórico. Se é verdade que o Benfica foi o símbolo do velho regime, não é menos verdade que o é, também, do "novo", seja lá o que isso for.
Carlos Daniel, aquele tipo com ar enganadoramente simpático que trabalha na RTP [paga também c/ os nossos impostos], decidiu brindar-nos com uma entrevista enternecedora ao actual dirigente desportivo do Benfica, Rui Costa. Observando o semblante do entrevistador, só faltou mesmo ver a baba cair-lhe pelos queixos, tal é a atracção do nortenho pelo clube de bairro sulista e pelo ex-jogador, embora se diga adepto do Paredes... Se a expressão vende, podemos estar certos que Carlos Daniel deixou alguns portugueses preocupados com o futuro do Benfica, porque ficava com um ar tão comovedoramente apreensivo que parecia estar a anunciar a morte da mamã. Pobre homem.