Se alguém perguntar se Belmiro de Azevedo e Américo de Amorim são dois homens, empreendedores [do Norte], bem sucedidos, a história de ambos fala por si, ninguém poderá negá-lo. O mesmo já não se pode dizer das suas preocupações específicas pela região que os viu nascer. E isto, por mais pragmáticos que queiramos ser, a despeito da ideia que é quase obrigatório fazer do homem de negócios moderno, não deixa de ser preocupante.
Já não é a primeira, nem segunda vez, que coloco esta mesma questão e me vejo compelido a contrariar a minha vontade, ou seja, a rejeitar a ideia aparentemente populista, de que estes empresários por mais valor que se lhes reconheça, são empresários ultrapassados e insuficientemente úteis para gerar no país o tipo de riqueza que deles se esperaria. E ainda, inconsequentes, se particularizarmos a atenção que [não] têm dedicado ao Norte.
Eu começo a convencer-me que menos populista que o povo, é o próprio povo. São aqueles que mais verbalizam o populismo e o usam como o eixo de todos os males, os verdadeiros populistas.
As populações, pelo contrário. Por ingenuidade, estupidez ou boa fé, ainda são capazes de reconhecer méritos a quem afinal olha mais propriamente pelos seus impérios económicos e [sobretudo] financeiros, do que pelo sucesso empresarial assente no bem estar social.
O empresário português tradicional, tal como o profissional da política, não se cansa de dar provas de um total alheamento com o bem estar público. Fala do mercado, e de economia, como se fosse seu dono, sabendo contudo que depende desses factores, mas esgota-os pela ganância de lhes sorver os frutos.
Belmiro de Azevedo, criou muitos postos de trabalho, é certo, mas continua a pagar mal ao pessoal menos qualificado. Os horários de trabalho são abusivos, a tal flexibilização está a tornar-se numa nova forma de escravatura. Os quadros são bem remunerados, mas há um fosso colossal entre o conhecimento de uns e a remuneração de outros. Esta forma de avaliar os méritos está caduca e é insustentável.
Se ao engenheiro que concebeu e queimou os neurónios para projectar uma ponte sólida é merecidíssima uma remuneração generosa, ela também não deve ser negada - ainda que mais modesta, mas digna - ao pedreiro, ao pintor, que suou o corpo e arriscou a vida para a tornar uma realidade. Nunca, um oceano de dinheiro a discriminar competências como sempre se tem feito. Um, sem o outro, não valem nada. No entanto, há salários escandalosamente discriminatórios a separá-los. E este escandalosamente devia ser levado a sério... Economias de mercado com «doutrinas sociais« deste jaez, são um disparate, resquícios de uma civilização arcaica e classista.
A despeito da crise financeira, e da falta de trabalho, aquilo que ouvi há tempos a Belmiro de Azevedo [é preferível ter um part-time" do que não ter emprego nenhum], não me agradou de todo. No contexto actual, uma expressão desta natureza só pode contribuir para exacerbar a bandalheira do empresariado nacional. Para muitos, foi um convite à expansão da precaridade de trabalho e ao abuso, pela parte de uma classe empresarial que está longe de ser exemplar. Como dizia o outro: as ovelhas não se tosquiam a si próprias. Belmiro é a prova disso. Se não são os empresários bem sucedidos a dar o primeiro passo, quem o fará?
E o primeiro passo, começaria por pagar melhor a quem tem menos. É por aí que a tal economia doente pode começar a restabelecer-se, isto é, transformando uma maioria muito pobre sem poder de compra, numa maioria de potenciais consumidores. O resto virá por acréscimo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarsubscrevo a 100%. há muita gente que deve ser chamada à pedra. num contexto mais global, os bancos são outro péssimo exemplo: apesar da crise continuam a arrecadar lucros. podiam pagar melhor e desse modo aumentar a massa monetária em circulação no bolso da gente comum. todos ganhavamos, incluindo eles.
ResponderEliminar