11 agosto, 2009

O bom senso começa a vir ao de cima

O General Loureiro dos Santos e o Clube Via Norte publicaram este fim de semana dois artigos de opinião sobre o TGV que considero fundamentais para desmontar o argumento da prioridade e importância da projectada ligação Lisboa – Madrid por Badajoz. Finalmente o bom senso começa a vir ao de cima: personalidades e entidades influentes e idóneas começam a aperceber-se do logro que nos têm tentado vender. Eu já aqui e aqui tinha chamado a atenção sobre isso, e sobre a verdadeira casca de banana que o centralismo lisboeta estendeu a algumas personalidades e instituições do Norte com a Linha Aveiro - Salamanca, entretanto estrategicamente atirada para as calendas gregas, transformando o fantástico pi deitado num magnífico L de Lisboa. Há quem não aprenda nunca e seja até mais “cego” que o pobre do ditado – porque esse, quando a esmola é grande, desconfia.

Neste momento impõe-se reequacionar estrategicamente toda esta questão da nova rede ferroviária e estabelecer definitivamente aquelas que deveriam ter sido sempre as prioridades nas ligações internacionais: a mudança de bitola e o escoamento de mercadorias para a Europa utilizando o eixo Irun – Salamanca. Os TGV não nos ligam à Europa. No máximo, com o traçado proposto, ligam Lisboa a Madrid e deixam mais de metade dos portugueses e mais de metade da economia nacional de fora. É hora também de deixar de pensar a Linha do Douro apenas como detentora de um grande potencial turístico. É inquestionável que o tem, mas o seu grande contributo para a “estruturação da Ibéria” será mesmo a sua reactivação para o transporte de mercadorias e abrir o Atlântico ao grande porto seco de Salamanca e ao nó logístico de Valladolid. O Porto de Leixões é a porta atlântica de excelência para toda a Castela interior.

mega regiões ibéricas


Richard Florida identificou três mega regiões na Ibéria: a de Madrid, a de Barcelona-Lyon e uma na costa ocidental, talvez a maior, a que por compreensível ignorância chamou de Lisboa. Devia ter-lhe chamado mega região galaico-portuguesa porque é essa a realidade e no seu fulcro não está Lisboa mas sim todo o nosso noroeste atlântico. A charneira de toda esta região, porque equidistante dos seus extremos, e com meios logísticos para a potenciar, é o Grande Porto. Haja pensamento estratégico e ambição. Aproveitemos o que já existe. Nem sequer é preciso construir de novo.

5 comentários:

  1. António,

    Reactivar a linha do Douro para transportes de mercadorias e ao mesmo tempo utilizá-la para um turismo de qualidade,selectivo, dada a beleza muito específica daquela região, serão decisões compatíveis?

    Uma mais-valia não afectará a outra?

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  2. não, de todo. hoje circulam lá comboios de mercadorias e de passageiros até ao Pocinho. A questão é apenas prolongar (reabrir) a linha até Salamanca. Não existe qualquer incompatibilidade entre o tráfego de mercadorias e a preservação da beleza da região.

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  3. A nossa desgraça é que quem tem bom senso não decide, e quem decide não tem bom senso( nem vergonha...)

    Um abraço

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  4. Este mapa demonstra -sem querer admiti-lo na íntegra- que o centralismo absolutista que nos comanda desde 1800, não conseguiu destruir esta tendência para a colonização de todo o nosso litoral, especialmente entre a Galiza e Lisboa...Lisboa manda mas o Porto é o verdadeiro coração deste País!
    Curiosamente a partir de Lisboa para Sul, o crescimento esfuma-se.
    Vejam Madrid, é um oásis que secou toda a Espanha à sua volta.

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  5. Dizer que Madrid é um Oasis que secou toda a Espanha a sua volta demonstra um profundo desconhecimento da realidade espanhola e nao é mais do que uma PROJEçAO da realidade Portuguesa mal aplicada a Espanha.

    Esperemos que o Bom senso venha ao de cima nestas questoes ferroviarias.

    Neste momento é quase imposivel e absurdo viajar de comboio entre a Europa e Portugal, so existe a linha Paris-Lisboa.

    E infelizmente é absurdo e quase impossivel viajar de comboio desde Espanha ate Portugal, so existem 4 comboios diarios entre os dois paises com velocidades medias na ordem dos 50km/h.

    A CP e a Renfe deveriam criar uma HOLDING que gerisse os comboios entre os dois paises para que o serviço e os horarios melhorassem

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