Tenho-me perguntado muitas vezes se as grandes cidades mundiais que se estendem dos dois lados de um rio que as atravessa, seriam o que são hoje se fossem duas cidades diferentes. Penso logo à partida em Paris e Londres, mas também em Colonia, em Frankfurt, em Lyon, em Praga, no Cairo, em Nova Iorque, até em Coimbra, para além de algumas outras de que não me lembre, ou das inúmeras que não conheço. Penso também em Budapest, que é conhecimento geral ter sido duas cidades, Buda e Pest, uma de cada lado do Danúbio, reunidas em 1837 pela clarividência e sentido prático dos governantes de então, que assim permitiram a criação de uma grande e bonita cidade.
De cidades distintas separadas por um rio de dimensões medianas não me lembro de nenhuma excepto do caso do Porto e Gaia.
Porto e Gaia nasceram gémeas. Onde hoje existem, fazia-se a travessia do Douro no tempo dos romanos, como parte da importante via entre Olisipo e Bracara Augusta. Já nesse tempo existiam portagens(!) e assim havia um posto em cada margem do rio. Por isso havia dois locais chamados Cale ou Calem, que mais tarde passariam a Portucale, uma designada por setentrional e a outra por meridional. O seu desenvolvimento foi diferente aos longo dos séculos, provavelmente por razões ditadas pela Igreja. De facto, enquanto o Portucale setentrional, que pertencia à Galécia, foi elevado a diocese em 582, o Portocale meridional, que pertencia à Lusitânia, não era mais que uma simples paróquia da diocese de Coimbra. Com a importância política e administrativa que a Igreja tinha naqueles tempos, não seria de admirar que este facto tenha condicionado a evolução dos dois povoados.
Penso que seria tempo de reunir os gémeos separados. Não por descabidas razões sentimentais, mas porque acredito que as vantagens seriam muito maiores do que possíveis inconvenientes. Esta questão não está na ordem do dia, seja por ser considerada inoportuna ou sem importância, por esquecimento, ou por comodismo de que poderia agitar as águas. Talvez um dia nos inspiremos no exemplo de Budapest...
De cidades distintas separadas por um rio de dimensões medianas não me lembro de nenhuma excepto do caso do Porto e Gaia.
Porto e Gaia nasceram gémeas. Onde hoje existem, fazia-se a travessia do Douro no tempo dos romanos, como parte da importante via entre Olisipo e Bracara Augusta. Já nesse tempo existiam portagens(!) e assim havia um posto em cada margem do rio. Por isso havia dois locais chamados Cale ou Calem, que mais tarde passariam a Portucale, uma designada por setentrional e a outra por meridional. O seu desenvolvimento foi diferente aos longo dos séculos, provavelmente por razões ditadas pela Igreja. De facto, enquanto o Portucale setentrional, que pertencia à Galécia, foi elevado a diocese em 582, o Portocale meridional, que pertencia à Lusitânia, não era mais que uma simples paróquia da diocese de Coimbra. Com a importância política e administrativa que a Igreja tinha naqueles tempos, não seria de admirar que este facto tenha condicionado a evolução dos dois povoados.
Penso que seria tempo de reunir os gémeos separados. Não por descabidas razões sentimentais, mas porque acredito que as vantagens seriam muito maiores do que possíveis inconvenientes. Esta questão não está na ordem do dia, seja por ser considerada inoportuna ou sem importância, por esquecimento, ou por comodismo de que poderia agitar as águas. Talvez um dia nos inspiremos no exemplo de Budapest...
Na minha infância no Porto diziamos na brincadeira "mais val o Porto caGaia toda". Nunca cheguei a saber porquê.Os tempos mudaram.Talvez se pudesse dizer agora "Muito val o Porto com a Gaia toda"
ResponderEliminarSou todo ouvidos perante essa possibilidade, nasci no Porto, vivi em Vila Nova, moro em Gondomar...Para mim é uma única terra.
ResponderEliminarO Rio separa-as mas a terra é a mesma, até em minha própria casa vejo divisões...Seria óptimo dizer, sou de PortuGal!...
Lembro-me bem dessa forma de avaliar Vila Nova de Gaia e não só:-"para lá da ponte é Marrocos...És de Gaia, então és mouro...Vale mais um do Porto que a Gaia toda..."
ResponderEliminarMas esses ditos valem o que valem, nada!
A realidade é que as cidades constroem-se com todos os que aparecem e se agregam a ela, vêm de todo o lado, de Vila Real, de Braga, de Aveiro, de Miranda do Douro...E as cidades alargam-se, transpõem muros e barreiras, tornam-se megapólis, são processos de crescimento lentos e dolorosos, implicam afastamentos e reajustes, no fim quem manda é a objectividade social...