31 outubro, 2007

"A Outra Senhora" e "Esta Senhora"

Prezo a Liberdade, mas ela não é tudo na vida. O meu gosto pela Liberdade é quase inconsciente. De tal modo, que "no tempo da outra senhora" que alguém baptizou de Ditadura, nunca me privei de dizer o que pensava. Talvez por mera casualidade (ou sorte), nunca fui preso. Talvez, quem sabe, por naquela época acreditar na "Pátria", enquanto alguns mais espertos do que eu, fugiam da tropa e da guerra colonial, eu saí do estrangeiro para "cumprir o meu dever" e fui parar a Mozambique para zona considerada 100% operacional.

Se hoje me perguntarem se estou arrependido, digo que "nim". Não gosto lá muito do
"nim", porque pode transparecer muito a dúvida, mas se explicar porquê, talvez me faça entender melhor. A parte "im" do nim, é devida à tranquilidade de consciência que tal decisão ainda hoje me deixa, considerando alguma imaturidade política decorrente da própria época. A outra, a do n de "não", explica-se por duas simples razões.

Primeiro, porque a Pátria que eu pensava ter, estava mais na minha cabeça do que naquilo que ela me tinha oferecido. Depois, porque decorridos mais de 30 anos de democracia amputada, os governantes deste país (passados e presentes) tardaram a esclarecer-me que, afinal, eu não tinha um país, mas tão só uma capital de país. Uma capital de país preversa, porque se anda a substituir ao próprio país.

Daí que, entre a "velha senhora" e a "nova senhora" não consigo vislumbrar grandes diferenças, excepto aquela que distingue uma garrafa arrolhada à força, de uma outra, destapada pelo gaz do inconformismo. Apenas isso. Dantes, a maioria dos doentes (povo) padeciam em silêncio, agora, podem queixar-se, berrar até, mas permanecem doentes, porque os médicos (governantes) são todos surdos ou não lhes dão ouvidos.

Como eu, há hoje muitos portuenses e nortenhos, que já não alinham na cantilena que dizia: "de Espanha, nem bons ventos, nem bons casamentos". A desconfiança é muita e grave, porque brota de dentro do próprio país em relação a Lisboa, a tal capital que se quer confundir com o todo. Por contradição ao adágio, os nortenhos vêem cada vez com mais simpatia a sua ligação a Espanha, em particular à Galiza, região com a qual sentem afinidades históricas e afectivas.

Paradoxalmente, o curioso desta realidade, é que a aproximação das diuas regiões ibéricas tem sido potenciada com uma estupidez confrangedora pelo autismo centralista do poder lisboeta.

Chegado a este ponto, posso garantir, que caso a Pátria Lisboeta necessitasse dos meus bons serviços para a defender, caso se sentisse ameaçada, não cometeria outra vez a ingenuidade do passado, quanto à minha noção de pátria. Fazia-lhe o popular manguito e deixava-a a falar sozinha. Com a noção tranquila do dever cumprido...

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