Agora, lançada que está a participação pública em sites e blogues (ainda que insuficientemente generalizada) sobre os mais variados assuntos, a profusão de ideias e soluções para os problemas que nos assolam é de tal ordem rica, que ficamos sem ter bem a ideia como é que, com tanta sabedoria dispersa, chegamos a este patamar de pré anarquia política e social.
Ainda assim, não falta quem - a despeito da opinião pública constituir o barómetro mais fiável sobre o estado da Nação - venha apontar, com precisão pretensamente cirúrgica, o dedo da "culpa" das crises (que são permanentes) a todos nós, numa petulante atitude paternalista sustentada em (pre)conceitos e teorias com efeitos mais do que duvidosos.
Segundo as suas teses, quando há fome, a culpa é do faminto. Se o desemprego acontece, a responsabilidade é também do desempregado. Em síntese, a ideia é esta: na vida, há uma solução para tudo (menos para a morte), descobri-la, só depende de nós.
É uma teoria supostamente animadora, muito em voga agora, mas assim mesmo, acéfala e superficial. Contudo - há que reconhecê-lo - tal visão super-optimista do Mundo, serve como luva, ao sistema vigente, para explicar as desgraças humanas, apostado em transformar as vítimas em carrascos e vice-versa. Paralelamente, atinge um outro alvo: dilui as responsabilidades do poder e das elites.
É também para isso, por exemplo, que existem programas como o "Prós e Contras", com audiência garantida e que poucos ousam contestar. Não resolvem nada, nem tão pouco esclarecem, mas "permite" que cada um diga de sua "justiça", sacuda a água do capote, deixando contudo no ar a ideia de um exemplo acabado de prática "democrática".
A conclusão que podemos tirar de tanta genialidade perdida, é que, mais vale sermos nós próprios a "inventar" o regime que queremos, porque o "Menu" que o actual regime nos oferece é pobre, vulnerável, velho e comprovadamente duvidoso.
Solidariamente apoiados pelo povo, um arrojado grupo de militares consumou o 25 de Abril, em 1974, aparentemente para corrigir defeitos ditatoriais com virtudes democráticas. Corrigidos alguns exageros, próprios de um processo revolucionário, os militares regressaram aos quartéis, como lhes competia, dando lugar ao poder civil. Como é consensual a sociedade civil não esteve à altura (e ainda não está) de agarrar o desafio.
Entretanto, o tempo, bom conselheiro que é, a par de alguma experiência pessoal e de alguns laços familiares ligados à vida militar, acentuou-me a convicção de que o Exército nada ficar a dever à sociedade civil e política em exemplos e valores. Pelo contrário.
Involuntariamente, pelos anos vividos em regime teoricamente democrático, vejo-me forçado a concluir que são mesmo os militares a parte mais pacífica e respeitável da sociedade, porque por experiência compreendem os custos de uma guerra e preferem quase sempre evitá-la. Nunca a provocam, apenas a cumprem, quando lhes é imposta.
E se existe excelência moral na esfera militar de que a sociedade civil anda carecida, é a da disciplina e dos valores. Um deles, quiçá o mais importante, é o hábito do respeito pelas regras, que raramente faz escola na classe política, com consequências negativas na sociedade civil.
21 janeiro, 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...