03 setembro, 2008

Porto antigo, ou Porto degradado?

"Sem portuenses a viver e a usufruir das margens com qualidade, a cidade vai ficar adiada"

Esta frase, é da autoria do Professor Hélder Pacheco, homem que muito admiro e prezo, pelas seus descomplexados e genuínos laços de afectividade com a cidade do Porto. Houvesse muitos mais portuenses assim, e a cidade estaria hoje indubitavelmente muito melhor preservada e dirigida. Extraí-a, da sua crónica de hoje no JN, com o título "Regressar ao Rio", onde mais uma vez, aborda os conhecidos problemas de reabilitação do centro histórico do Porto, neste caso particular, da frente ribeirinha.

Como não gosto de bater no "ceguinho", desisti de falar de Rui Rio. Para quê? As regras democráticas vigentes impõem-nos que, durante quatro ou cinco anos, não possamos substituir o Presidente da Câmara, mesmo que em vez de um verdadeiro autarca, lá esteja uma espécie de tijolo. Sinceramente, apesar de não morrer de amores pela personagem, já nem é a ele que atribuo a maior responsabilidade pelo definhamento social e económico da cidade, mas a quem (por razões que me escapam), lhe deu e continua a dar crédito. Esses, são os principais responsáveis. E é inútil argumentar, que se ele lá está, é porque ganhou legitimamente o mandato, porque estamos consumidos de saber que o acesso de Rui Rio à Câmara se deveu a múltiplos factores, endógenos e exógenos, entre os quais importa relevar a decepção dos portuenses (castigo) com o abandono de Fernando Gomes pelo prato de lentilhas envenenado do Ministério da Administração Interna.

Quem lida comigo pessoalmente, é testemunha como previ com a precisão de um Patek Philippe (relógio suíço) a ratoeira em que o (malgré tout) melhor Presidente da Câmara que o Porto teve até hoje, acabou por se deixar apanhar. Só ele, e a sua excessiva vaidade, é que não percebeu. Agora, "estrategicamente" colocado como Administrador Executivo da Galp, remeteu-se ao silêncio normal de quem põe os seus interesses pessoais à frente dos da comunidade. Silêncio para ele efectivo, mas insuportavelmente ensurdecedor para quem lhe reconhecia méritos e nele confiou.

No entanto, a facadazinha de Fernando Gomes não chegou para manchar o seu trabalho positivo na Câmara do Porto. Foi durante os seus mandatos que se viram os primeiros sinais de modernidade e restauração da cidade. Da marginal do Porto, completamente reabilitada, com pontes, jardins e largos passeios, até ao Parque da Cidade e ao Metropolitano do Porto (cujos projectos não saíam há dezenas de anos da gaveta), foi relevante a sua voz interventiva junto do Poder Central, coisa que Rui Rio não sabe (ou não quer) fazer.

Em contrapartida, os mandatos de Rui Rio, caracterizaram-se por uma apatia e uma ausência de ambição nunca antes vista. Prisioneiro da sua própria rigidez para negociar conflitos, não é capaz de começar e terminar com sucesso um único projecto de vulto. Não se lhe conhecem iniciativas arrojadas capazes de transmitir confiança e optimismo aos portuenses. A reabilitação urbana é um fracasso total. O número de casas degradadas e inabitadas cresce a um ritmo assustador e as poucas casas restauradas, surgem tímidas e dispersas, a conta-gotas, apesar de nos últimos tempos (por razões que só a aproximação das eleições podem explicar), vermos uns tantos painéis da Porto-Vivo, SUR na frontaria de algumas casas...

Não deve ser reduzido a questões meramente pessoais o desapreço de muitos portuenses - como eu -, por Rui Rio, ele é objectivo, real, comprovável. É só percorrer a cidade, observar o casario, o estado dos jardins, os arruamentos, falta de novos habitantes, e está feita a prova. Chega pois, de mais prejuízos para a cidade do Porto. Há uma situação de cuja responsabilidade nunca mais se vão libertar os seguidores de Rui Rio, que é a certeza de se terem igualmente convertido em cumplíces pela depauperação da cidade do Porto nos últimos 8 anos. A história, há-de um dia denunciá-los, pelo nome... Assim o espero.

6 comentários:

  1. Completamente de acordo com todo o Post memo na parte que diz respeito ao Dr.F.Gomes, que eu apoiei, mas que depois pelas razões que você aponta, me desiludiu completamente.
    Seremos capazes de nas autárquicas mudar o rumo?
    Um abraço

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  2. Não sei meu caro. Como sabe, cheguei a um ponto de não retorno em relação aos políticos. Preciso de ver, para crer e depois "conversamos". As campanhas eleitorais, fazem-me lembrar os vendedores de banha da cobra que antigamente ocupavam o jardim da Pça. Marquês de Pombal. Tenhamos confiança no futuro.

    Abraço

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  3. Caro Rui,

    Só alterando o rumo que esta Câmara municipal tem vindo a ter. E isso consegue-se mudando de presidente, obviamente.

    Abraço,

    Renato

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  4. Concordo, na generalidade, com o que escreveu, embora ache que, no caso do Dr. Fernando Gomes tenha havido mais outras razões que levaram alguns portuenses a não votar nele. Quanto ao Dr. Rui Rio, se ganhou as eleições na primeira vez foi por "pretender" aparecer como alguém mais rigoroso e pelas razões que aponta de "castigo" ao presidente anterior. Nas segundas eleições ganhou por má escolha do candidato do PS.Gostava de fazer uma observação: durante os anos que Rui Rio foi deputado nunca me lembro de o ter ouvido defender o Porto (cidade e região) e o Norte.Até foi contra a regionalização, não sei se por convicção ou outros interesses.Por isso, não entendo que haja pessoas, portuenses ou não, que possam acreditar que esse senhor possa ser, efectivamente, um bom presidente da Câmara do Porto quando lhe falta o empenho, a coragem e o patriotismo, ou bairrismo se preferirem, para defender a nossa cidade e o Norte do centralismo e colonização lisboetas, dos sucessivos governos do PS e do PSD. Cumprimentos e continuem a defender a nossa cidade.

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  5. O Porto precisa de um lider como muito bem diz que saiba falar com o poder central. Que o saiba pressionar e intimidar depois de mobilizar a populaçao para os reais interesses da cidade e da regiao.

    Um regionalista mobilizador e com capacidade para dialogar com o poder central. Aqui reside o segredo do sucesso e o perfil de candidato que deve ser apoiado nas proximas eleiçoes autarquicas, nao so no Porto mas também noutras cidades de dimensao importante por esse pais fora.

    Sera que os Portugueses terao a cultura suficiente para o perceber?

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  6. ...mas, não deixa de ser estranho, quase fenomenal, o facto de ainda não ter emergido no cenário político regional um Líder digno desse nome.
    Estaremos nós no Entroncamento ou o Homem do Norte não passa de um mito?

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...