06 dezembro, 2009

Boicotar quem?

Sobre o assunto do momento, o "caso Red Bull", sinto que tenho uma opinião que foge um bocado à generalidade dos pontos de vista que tenho lido, razão pela qual julgo que pode ter interesse dá-la a conhecer aqui, e deste modo poder talvez contribuir para o debate.

Qual é a génese do problema? Uma empresa, a Red Bull, firmou um acordo, válido por três anos, com os municípios de Porto e Gaia, no sentido de realizar sobre o Douro um festival aéreo que é basicamente um acto de promoção comercial daquela bebida. Terminado o contrato, verifica-se que um dos contratantes, o exibidor, resolveu procurar outro local para o próximo triénio. Será lógico considerar inadequado que uma empresa procure rentabilizar ao máximo os resultado de um evento que promove com fins exclusivamente comerciais? Porque razão se há de considerar a Red Bull como uma instituição de benemerência com a obrigação de substituir-se ao Estado, promovendo o turismo no Porto, mesmo com resultados financeiros menos favoráveis?

Obviamente que a questão tem outros contornos, o principal dos quais é a acção dos poderes públicos - directamente ou através de empresas participadas - no auxílio dado à Red Bull no sentido de lhe criar condições mais atractivas em Lisboa do que em Porto-Gaia. Dito isto, aponte-se a ignomínia (para utilizar o termo do António Alves) da actuação estatal que, como é hábito, beneficia a capital à custa de todos aqueles portugueses que não têm a "prerrogativa" de viver em Lisboa e arredores. Sim, porque ninguém acredita que empresas como EDP, PT, Galp, além da própria Secretaria de Turismo, não tenham patrocinado através de auxílios diversos, sobretudo financeiro, o desvio do festival do Douro para o Tejo, por muito que o neguem veememente. Daí que se proponha o boicote aquelas empresas, ao qual gostosamente estou pronto a aderir, já que não posso boicotar o Estado Português, sobretudo na miserável forma que ele hoje apresenta.

Quero referir um último ponto que não me lembro de ver focado em toda a dialéctica à volta deste caso. Se a não renovação do contrato com Porto-Gaia é por incapacidade financeira para satisfazer as exigências do promotor, não teríamos nós, os portuenses, o direito de supor e esperar que empresas de vulto do grande Porto se prontificassem a colaborar financeiramente, até como acto de publicidade, no esforço a levar a cabo para garantirmos o festival, pelo menos por mais três anos? E então fico a pensar se o boicote não deveria ser dirigido para empresas como Sonae, Amorim, Salvador Caetano, RAR, CIN, Sogrape, e tantas outras, que não se preocupam em levantar o estandarte da região. Acabo por ficar irritado comigo próprio quando me lembro que procuro dar preferência aos seus produtos sempre que possível, sem me preocupar se são os melhores, para afinal verificar que no fim de contas se estão "nas tintas" para a região onde estão inseridas.

10 comentários:

  1. Caro Rui farinas,

    Existe uma coisa que é a consideração que as empresas devem aos melhores clientes. É um dos princípios fundamentais do Marketing. Na pior das hipóteses a Red Bull devia ao Porto e Gaia uma palavra de consideração e agradecimento. Estes eventos nos 3 últimos anos foram um excelente meio de promoção da empresa. A Red Bull devia ter imediatamente avisadoo seu anterior cliente, sabendo de antemão que ele está interessado em continuar a realizar o evento, que tinha uma proposta melhor, ou que lhe interessava mais, e não aceitar a negociação à socapa com certas "entidades". Se a deslocalização se verificar apelo aqui à Associação de Comerciantes do Porto que promova um boicote à bebida.

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  2. O estado pode ser boicotado da seguinte forma. Eu, se não me for directamente útil, não peço facturas a ninguém. Prefiro que o IVA fique no comerciante a que vá para o estado.

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  3. Caros amigos, Rui Farinas e António Alves,

    São válidos os argumentos de ambos. Se é válido que terminado o contrato o promotor do espectáculo tem todo o direito de o renovar [ou não], convirá não desprezar a questão da ética [comercial]
    que parece ter sido desprezada pela Red Bull...
    Essa,a Red Bull deixou na gaveta.

    Mas, acho que nos estamos a afastar do essencial, que foi a sacanice do Governo. Por isso, era para os cofres do Estado e de todas as suas apadrinhadas empresas
    que devíamos apontar baterias. O boicote devia ser muito mais amplo, mais incisivo, desafiador mesmo.

    Depois de andarmos a levar porrada do Estado ainda há quem ache que devemos continuar a pagar impostos, portagens e essa roubalheira toda e isso é que me custa entender.

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  4. Caro Antonio Alves,

    Desconheço os pormenores duma eventual negociação entre a Red Bull e Porto-Gaia, o que não me permite apreciar se houve ou não atitudes menos correctas de qualquer das partes. Há respostas que seriam importantes. Por exemplo. Porto-Gaia manifestou o desejo de assinar novo contrato? Chegaram a discutir condições e verbas? As negociações estavam em curso ou tinham sido dadas por inconclusivas? Red Bull avisou que ia procurar novos parceiros no sul, ou fê-lo à sucapa? Estas e outras informações seriam indispensáveis para se fazer o "julgamento" da Red Bull, coisa que me deixa bastante indiferente. A parte importante, como diz o Rui Valente, é a sacanice do governo. Também me custa o aparente desinteresse das grandes empresas da região, se é que foram convidadas a participar no patrocínio.

    Um abraço

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  5. Ah, um àparte sobre uma "palavrinha" que gostei de ler e me soou bem ao ouvido: Porto-Gaia...Portogaia, era assim que a nossa cidade se devia pronunciar ainda hoje.

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  6. ...e os habitantes de portogaia são os portugueses.

    mas voltando à vaca fria. numa guerra, sempre composta por várias batalhas, nem sempre é possível bater directamente no inimigo principal. por vezes escolhem-se inimigos secundários, aliados estratégicos, beneficiários do grande inimigo ou, até, simples clientes e relacionados como meio de fazer mossa ao grande inimigo. o objectivo é deixar bem vincada a mensagem: quem colaborar, directa ou indirectamente, com o inimigo leva porrada. por essa razão eu sou de opinião que deve ser levada a efeito uma campanha de marketing negativo em relação àa red bullshit e aos patrocinadores do evento.

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  7. "Boicotar quem ?"

    Preso por ter cão, e preso por não ter.

    Nós já sabemos que EDP,PT,GALP e
    também o governo, fazem tudo para
    que o evento "RED BULL" passe a ser feito na capital do império.
    Então não é lá que se faz tudo que de mais importante, é feito neste país!?...Tratado de Lisboa,Cimeiras
    etc,etc.
    Mas estes, nós já conhecemos.Agora
    os outros!...os de cá;Sonae,Amorim,
    Caetanos,Rar e outros, querem lá
    saber disto para alguma coisa.
    Perguntem-lhes se eles querem a
    Regionalização!?,querem sim, que a
    vidinha lhes corra; e o resto são
    tretas.
    Enquanto a Manjedoura se mantiver
    lá em Baixo a fazer estes cozinhadoas:- coitados de nós.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  8. Subscrevo o que diz A. Alves, mas lamento não poder ir ainda mais além...

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  9. Caro Farinas, se nós começarmos a boicotar...ninguém escapa.

    Já disse: isto só lá vai com uma grande pedrada no charco, mas aí tinham de aparecer algumas figuras a dar a cara e dispostas a ir à "luta" sem medo e eu, sinceramente, não vejo quem.

    Um abraço

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  10. Pois é, caro Vila Pouca, é isso aí!
    Um abraço

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