17 novembro, 2010

Valerá a pena, Suu Kyi?

Foi com enorme satisfação que recebi a notícia da libertação de um cativeiro de 7 anos, da Nobel da Paz e opositora do regime militar birmanês, San Suu Kyi .  Tenho um especial fascínio e respeito por esta mulher corajosa mas de aspecto frágil, por tudo o que tem feito e sofrido para levar a Democracia ao seu país. Porém, receio bem que esta grande mulher tenha uma noção realista da profundidade ideológica da sua luta e das muitas frustrações que a esperam.

É claro, que qualquer regime ditatorial é condenável, seja ele mais ou menos musculado, isso é indiscutível. As ditaduras já não deviam sequer existir. Pertencem aos tempos mais negros e violentos da história da humanidade, e é isso que é preocupante: não conseguirmos consolidar o passo seguinte à queda de uma Ditadura.

A questão que me coloco é esta: será o fracasso da construção da Democracia no Mundo responsável pela manutenção das Ditaduras? É do conhecimento público que foi o agiotismo social e o oportunismo político que fez falir a Democracia na Alemanha que guindou Hitler ao Poder. Em Portugal, por razões quase similares, há quem já peça  uma mão de ferro para pôr "ordem na casa".

Aquela ideia da Manuela Ferreira Leite de suspender a Democracia por 6 meses [impressiona a precisão do timing], não será um claro sintoma de que a Democracia, tal como a concebemos, não leva a lado nenhum? Palpita-me que o problema reside aqui. A Democracia alberga em si mesma, mais Liberdade do que a que realmente pode oferecer, sendo parte dela, completamente inócua quando devia ser utilitária e consequente. E é por essa razão que os portugueses  assistem hoje impotentes à destruição do país por um punhado de irresponsáveis sem disporem de meios eficazes e suficientemente céleres para deles se desembaraçarem. Falta à Democracia um mecanismo legal que permita a ablação, em tempo útil, deste tipo de obstáculos. 

Nada me convence de que este status quo sirva ao Povo. Serve o Poder e quem o detém, mas não serve certamente o Povo. É só uma questão de tempo, e veremos como as coisas se vão passar na Birmânia de San Suu Kyi...

Até poderá acontecer mais liberdade, daquela liberdade que permite o insulto fácil e a difamação pública injustificada, mas que pouco irá contribuir para a melhoria de condições de vida do Povo. Por essa altura, o que iremos perceber é que o "nome" do regime mudou, mas os oportunistas continuam lá todos, só que, com outros rostos.  Tal como no tempo de Salazar e de Sócrates.

5 comentários:

  1. Como dizia Eça de Queiroz:

    Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos, pelo mesmo motivo...

    Veijios democráticos

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  2. Ah, quanto à Suu Kyi, claro que vale a pena!

    Mais veijios

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  3. Rui, como dizia o poeta...e depois nem todos os países são como Portugal.

    Um abraço

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  4. Mulher Lua,

    o Eça tinha razão, só que é bem mais fácil mudar de fraldas que de políticos. A porcaria é sempre a mesma mas muito difícil de sair.

    Veijinhos para si também

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  5. Dragão Vila Pouca,

    nem todos os países são como Portugal, e ainda bem, mas a Europa democrática já teve melhores dias. Só lá muito para o Norte, na terra das loirinhas de olho azul é que ainda se preserva alguma dignidade.

    Um abraço

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...