30 novembro, 2010

A hipocrisia dos falsos líderes

Sem querer entrar pela exposição da minha privacidade, que é coisa que só a mim respeita e a poucos interessa, a noite passada acordei prematuramente. Quando isto acontece, ligo o pequeno aparelho de tv que tenho no quarto - indevidamente, eu sei... -  para me ajudar a reencontrar com o sono. Comigo, este expediente às vezes resulta. Nem é necessária uma escolha selectiva da programação, a própria luz e o som [baixo] do aparelho costumam ser suficientes para voltar a adormecer, mas se tiver a sorte de passar uma comédia ou qualquer coisa de humor, então, ainda resulta melhor.

Acontece, que os nossos operadores de televisão, tanto públicos como privados, por razões que a razão não alcança, devem ter chegado à conclusão unânime que o melhor que podem oferecer aos espectadores noctívagos ou com insónias, são filmes pesados e adrenalínicos, ou então debates em doses industriais. Faz-me espécie esta consonância comercial dado que parece contrariar todas as teorias que as operadoras privadas de início nos andaram a vender quando queriam entrar no mercado, segundo as quais, a concorrência iria estimular e enriquecer a variedade dos programas. Pois foi isso que ontem não aconteceu. Era só barulho, gente a debitar saberes duvidosos de canal para canal, prós e contras enfadonhos, dias seguintes venenosos, enfim, uma porcaria! Não tive outro remédio senão desligar o aparelho que nunca como naquele momento se parecera tanto com uma "poubelle"

Como reza o ditado, não há mal que não traga uma vantagem, e foi esse o caso: há gente demais a falar na televisão, e resultados a menos. Não que já não tivesse chegado a essa conclusão, mas serviu para reforçá-la. Gente teoricamente importante, fala, repete-se, e a vida dos cidadãos continua no seu inalterável marasmo.  Para quê, então, pagar a tanta gente que nada tem de concreto a oferecer ao público? E agora, numa época em que nos impingem enfadonhos sermões sobre austeridade?  É claro que se alguém sugerir o encaminhamento desses desperdícios pecuniários das Tv's para os pobres e desempregados, arrisca-se a ser imediatamente selado com o estigma de populista, mas essa treta também já não convence ninguém, apenas identifica o egoísmo e a profunda hipocrisia dos autores.

Hipocrisia, falta de vergonha, de racionalidade, está na moda. É tendo cada vez mais presente esta moda que sou empurrado a valorizar o carácter individual ou colectivo em desfavor das ideologias. Nas televisões vemos todos os dias cada vez mais ideólogos. Todos têm mil e uma soluções na manga, mas o problema principal continua lá, mudo,  imperturbável, inexistente: o carácter, mais o respeito por si próprio e pelos outros.

É desta escumalha social, destes VIP's da trampa, que o país se vai intoxicando. Se alguém  me convencer, sem ofender os meus neurónios, que um tipo como Miguel Júdice que escreve um livro a culpabilizar, com ou sem razão, Cavaco Silva de ter atrofiado a iniciativa privada e  que ao mesmo tempo apoia a sua recandidatura à Presidência da República, é pessoa para merecer respeito, e não é um "perfeito"  exemplar dos hipócritas da moda, dou-lhe os meus antecipados cumprimentos, mas aviso-o já, que não será tarefa fácil...

Como não será tarefa fácil convencer-me que José Eduardo Bettencourt, o Presidente do Sporting, é uma pessoa boa da cabeça, quando vende um jogador por alto preço e logo a seguir lhe chama maçã podre. Ainda que mal pergunte: se fossem levadas à letra estas declarações, não haveria motivo para o comprador[o FCPorto],  se assim o entendesse, devolver à procedência o "produto" da venda alegando fraude negocial e pedir uma indemnização? 

E que dizer do senhor Freitas do Amaral, que se lembrou agora de desenterrar o mito da morte de Sá Carneiro pedindo pela enésima vez a reabertura do inquérito, só porque quer vender mais uns exemplares do livrinho que acabou de escrever? Isto é de gente credível? Cá está mais um ex-ministro, meus senhores! Basta acenar-lhes com um punhado de notas e temo-los a saltar por cima de tudo, pisando, caluniando [como o seu ilustre filho Domingos fez ao Porto, comparando a nossa cidade a Palermo] para engrossarem a carteira. É a única coisa que sabem fazer, embora, reconheça-se, com uma despudorada falta de seriedade!

Definitivamente,este país está louco, e loucos estão,  seus fracos líderes!

Ps-Esqueci-me de juntar à tribo da Hipocrisia, o nortenho Belmiro de Azevedo, que ainda há pouco tempo chamou com todas a letras, ditador a Cavaco e agora apoia a sua recandidatura à PR. Chama-se a isto estratégia circunstancial...
Ah, não interpretem estas referências a Cavaco como uma defesa ao personagem. Também ele devia ter juízinho e deixar-se ficar lá por Lisboa. Só vem ao Porto porque sabe que aqui tem garantido o apoio dos lambe-botas do costume, apesar de não morrer de amores pela nossa gente.


1 comentário:

  1. Meu caro Rui, o problema é daqueles que não são cínicos nem hipocritas, esses são cada vez menos e são os que passam pior...
    Que vai ser de nós?

    Um abraço

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