12 novembro, 2010

O malvado RSI


Não posso garantí-lo, mas quase apostava como na Europa não existe povo tão contraditório e ao mesmo tempo tão influenciável como o português. O que é legal hoje, amanhã - por qualquer estranha conveniência -, deixa de o ser. O que é criticável para uns, em certas circunstâncias, já não o é para outros, em circunstâncias pouco diferentes.

Ao assistir à devastação do direito ao trabalho que assola o país, com fábricas e empresas a falirem à velocidade da luz, já não sei bem se hei-de lamentar ou aplaudir. Não me interpretem mal porque tenho muito respeito por quem está nessas condições, sobretudo aqueles que querem trabalhar e pouca responsabilidade têm pela desgraça que nos foi imposta fruto da absoluta incompetência de sucessivos governos. Só não se entende são as reacções de alguns cidadãos perante a tragédia de outros só porque o seu posto de trabalho ainda não passou pela provação do despedimento. E ainda entendo menos essas reacções neste momento onde a crise política e financeira não pára de fazer estragos. 

Foram os despedimentos da Groundforce no Algarve que me suscitaram algumas dúvidas sobre a solidariedade do povo. A televisão deu-lhes a devida relevância, opostamente à que tem dedicado à população do Norte, indiscutivelmente a mais flagelada pelo desemprego. Por isso, esta notícia pareceu-me mais um acto de discriminação negativa praticado contra a imensa mole de desempregados desta região. Os lamentos daquelas pessoas no Algarve, cujas vidas vão ficar seriamente afectadas, deixou-me, ao contrário do que seria normal, algo frio e distante. Tanto, como aqueles que agora estão empregados e apoiam o corte de subsídios sociais aos que estão sem trabalho.

É inadmissível que, em momentos terríveis como aquele que agora vivemos, continue a  haver gente que alinha irresponsavelmente pelo discurso de políticos fúteis e demagogos [como Paulo Portas e outros], sem perceberem que podem estar a bater em si próprios. Às tantas, muitos desses que agora choram por se encontrarem com o futuro comprometido, são os mesmo que aqui à uns dias consideravam os subsídio dependentes os grandes culpados pela crise. Com tamanha vulnerabilidade intelectual e fraco sentido cívico, quem se fica a rir e aproveita são os "empresários" sem escrúpulos que continuam a crescer como cogumelos, aproveitando a crise para despedir a torto e a direito ou então para continuarem a baixar os salários a quem os devia subir nivelando-os "estrategicamente" pelo rendimento mínimo. Que quem abusa e beneficia dessas ajudas sociais sem precisar seja devidamente penalizado só podemos concordar, agora, que se caia levianamente a meter no mesmo saco dos oportunistas aqueles que nada têm é uma atitude profundamente injusta e desumana. Tento na língua!

O próprio Governo, como aliás é sua imagem de marca, continua a atirar areia para os olhos deste povo-eternamente-criança obrigando os beneficiários a frequentarem cursos de requalificação escolar,  não lhes dando o mais importante, que é a garantia de trabalho remunerado concluída a respectiva formação. Por que é que ninguém questiona isto? E os jovens licenciados também não têm qualificação? Se têm, aonde estão os empregos? O que o Governo quer, disso não tenho a menor dúvida, é arranjar mais um pérfido pretexto para sacar dinheiro a quem já não o tem.

O Governo dita, destrói vidas, não governa. Entretanto, eles, os meninos do aparelho, continuam a gerar os jobs for the boys, sem pingo de vergonha, como aconteceu recentemente com o Secretário de Estado dos Transportes que ofereceu uns bons tachos nos CTT's aos amigos.

A corrupção está aqui, e as provas estão à vista de todos. Mas, pergunto: quem mete esta garotada na cadeia? Na cadeia, sim! Quem? Querem a resposta? Ninguém! Porque é nesta Democracia pôdre, corrupta e tremendamente destrutiva que estes bandidos melhor se acoitam! Querem provas? BPN não vos diz nada?
Dias Loureiro, também não? Querem que vos leia a lista? Não é preciso, pois não?


5 comentários:

  1. Crónicas do Exílio:
    A tolerância mínima para os políticos

    Autor : Manuel Queiroz - Director do Jornal i

    Portugal não é um país – são dois, pelo menos. Todas as pessoas (talvez duas dezenas) que saíram do i nos últimos seis meses – ou que estão para sair -, neste processo de ajustamento forçado e por vezes doloroso, já têm emprego e, até, em condições económicas iguais ou mesmo melhores do que tinham antes. Dir-me-ão: ah, é gente com qualificações, arranja emprego. Em parte, digo eu, e só em parte isso é verdade. Certo é que por estas bandas o flagelo não é o mesmo. A questão é que o desemprego em Lisboa, nos serviços, por exemplo, ainda se arranja, por via da concentração de todo o tipo que aqui existe, a nível político, económico ou cultural. E depois está-se sempre perto do Poder, o que facilita muito o poder gastar dinheiro ou ter dinheiro para gastar.

    É isso que alguns políticos ainda não perceberam. O pais à volta de Lisboa é apenas uma parte do País, não é o todo. E o resto é muito maior e tem problemas muito mais sérios. Hoje é evidente para todos que estamos à beira de dar com os burros na água – se é que já não demos, com os juros da dívida a tocarem os 7%.

    Há um ajustamento que se vai fazer inevitavelmente. E o povo não tolerará um euro mal gasto. Um euro gasto de uma forma que até há um ano ou dois pareceria razoavelmente virtuoso, hoje será visto com outros olhos. Haverá injustiças, mas estes processos têm sempre injustiças. Será eventualmente o preço a pagar para salvar o regime democrático. Mas os políticos, creio eu, vão ter, espero eu, um escrutínio maior ainda, mais duro, e é justo que assim seja. Em tempo de crise máxima, a justiça social é de rigor absoluto. Não estou a dizer que os políticos corruptos vão acabar, mas creio que vão diminuir porque a tolerância, que era grande, passará a ser mínima.
    SEMANARIO GRANDEPORTO

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  2. A UE não quer vir governar isto.

    Com esta tropa não vamos a lado nenhum.

    Jamais...

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  3. Os que criticam muito o RSI são os que fazem silêncio sobre o BPP e BPN.

    E lá congelaram a segunda fase do Metro do Porto...vai chegar primeiro o metro de lisboa ao alentejo, que o do Porto à Trofa.

    Um abraço

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  4. Já Trajano dizia:Que raio de povo que não se governa nem se deixa governar!

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  5. Entretanto e para disfarçar, cria-se um link para denúncias de casos de corrupção no site da PGR, como se os casos que já existem, se trabalhados e investigados como deve ser, não dessem já pano para mangas...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...