26 abril, 2011

Discursos da treta e cidadania

Estou a pensar seriamente em consultar um psiquiatra. É verdade... É que, ao contrário de muitos portugueses, continuo a pensar que o exemplo tem sempre de vir de cima. Por isso, tenho uma enorme dificuldade em levar a sério as boas palavras do actual e dos anteriores chefes de Estado.

Comecemos por Cavaco Silva:
"Ainda antes das eleições, impõe-se um esforço de concertação entre o Governo e os partidos políticos"

Exagerarei porventura se disser que qualquer pessoa medianamente sensata estaria perfeitamente habilitada a dizer a mesma frase ou outra bem mais profunda? Afinal, um bom conselho não se nega a ninguém.

Vamos às palavras de Mário Soares: 
"É aqui que se impõe a necessidade crucial de os portugueses se unirem"

Mas, só agora, excelência? Os portugueses não deviam estar sempre unidos? Será mesmo preciso deixar o país bater no fundo  para chegarmos a conclusão tão redundante? Okey, vamos lá acreditar que ontem, por ter sido o 25 de Abril, os portugueses [nomeadamente, os políticos] irão finalmente perceber a mensagem.

Agora, Ramalho Eanes:
indispensável uma campanha eleitoral com inteira verdade, com o mínimo de slogans e o mínimo de demagogia"

Quererá V. Exa. insinuar que as campanhas eleitorais anteriores foram maximamente demagógicas, inverdadeiras e hiper-sloganizadas? Não! Não quero, acreditar!

Finalmente, Jorge Sampaio:
"Só com uma nova atitude é possível construir os compromissos, os acordos duradouros, os consensos sólidos que a gravidade desta hora exige"

Ah, sim, uma nova atitude, e depois vamos poder construir os compromissos, acordos e consensos. Muito bem. E, qual é o prazo de validade para todas estas "construções"? Cinco mêses? Cinco, dez anos? Ou, mais trinta e sete anos?

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De todas as banalidades que pude ouvir destas personalidades houve duas, proferidas por Jorge Sampaio, com as quais sou obrigado a concordar, como estas:

"Há, muito mais do que seria desejável, políticos que não estão à altura das suas responsabilidades". E esta: "os cidadãos participam pouco nas coisas da cidadania".

É claro, que Jorge Sampaio, tal como os outros, também tem culpas no cartório, porque, todos eles foram dirigentes partidários, mas isso são detalhes de somenos importância... Adiante, que para a frente é que é o caminho. Pois, sigamos então para a frente. Mas, até onde? Até que obstáculo? Teremos obstáculos? É de supor. E depois, como é que os vamos transpor? Contornando-os, fazendo de conta que não existem, ou assobiando para o ar, como tem sido norma? Era a este tipo de questões que eu gostava muito de obter respostas. Como também, saber se, como vem sendo habitual, os crimes praticados por políticos ex-governantes, vão continuar na inpunidade. Que querem, estou a exercer o meu direito de cidadania...

A não ser que o Sr. Jorge Sampaio saiba de algum Manual Especial de Cidadania que me possa dispensar para me orientar e ficar a saber, em rigor, onde ela começa e quando termina. É que, se o senhor ex-Presidente estava a pensar que, o exercício de cidadania, comporta aceitar gerir uma Secretaria de Estado, ou mesmo um Ministério, com as mordomias e os vencimentos que [não] tenho, bem pode tirar o cavalinho da chuva que a minha boa vontade e talento não chegam a tanto. Os governantes são pagos para governar, eu não. A cidadania, não é propriamente sinónimo de poder. Nada de misturas. Quere-me parecer, que os governantes, nos devem muito mais responsabilidades do que aquelas que imaginam, ou não fosse seu destino rotineiro, acabarem sempre nas poltronas das grandes empresas, mesmo tendo governado mal...  As responsabilidades que têm assumido perante nós, são: zero! Desculpas, de mau pagador.

Estes discursos de circunstância, são bons é para politólogos e analistas, mestres em fazer de conta que são pagos para dizer coisas importantes,  sem terem importância nenhuma. A mim, irritam-me.

É por isso, que estou decidido a ir a um psiquiatra. Por isso, e por ter encabeçado uma petição contra a discriminação da RTP ao FCPorto e, em 3 mêses, não ter conseguido extrair da paixão clubista portista pouco mais de mil assinaturas*. É que, o problema deve estar em mim, e o grande clube da invicta afinal está a ser "convenientemente" tratado pela televisão do Estado...

Vou já marcar a consulta.

*Aposto como soltavam os cães a Pinto da Costa, se o FCP perdesse outra vez o campeonato. Ah, grandes adeptos!

3 comentários:

  1. Rui, eles combinaram dizer todos a mesma coisa...Não foi para isso que o Cavaco os convidou?

    É curioso e paradigmático, temos no mais alto cargo da nação, a presidência da República, um professor de finanças que nunca erra e raramente tem dúvidas, mas estamos na falência. Para que serve o presidente?

    Um abraço

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  2. Vila,

    acha que o psiquiatra resolve, ou o problema não é nosso?

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  3. Todos eles têm pose de Estado mas discurso de político.
    Cavaco: (como diz o povo) nem lá vai nem deixa ír.
    M.Soares: passou a vida a passear e a comer e beber melhor.
    J Sampaio: o Zé das medalhas, todos que passassem à porta levavam uma medalha. Só se esqueceu por (ignorância talvez) medalhar o FCPorto. Foi ele que abriu as portas a este Pinóquio 1º ministro.
    Ramalho Eanes: talvez fosse o menos mau, mas, não deixa de ter culpa no cartório, porque nesta 3ª República ninguém é virgem.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...