01 junho, 2011

Estranho

Confesso a minha perplexidade, o que pode levar alguém ao voto contra os seus mais elementares interesses?
Que motivo terá um pensionista para votar no congelamento da sua pensão durante três anos? Uma medida que, descontada a inflação previsível, representa uma perda de pelo menos 10 por cento da remuneração, medida em poder de compra... Só consigo encontrar uma explicação. Se a referida reforma for como a de António Vara, talvez a consciência cívica fale mais alto do que a volúpia do dinhero infinito. Mas isso é se o referido pensionista for mesmo da classe dos eleitos. A minha perplexidade paira é sobre o reformado de mil euros, ou o de 500 euros ou o de 291 euros, que se encontra exactamente na média das pensões deste país.

Pergunto-me também sobre o que poderá levar uma funcionária pública, seja ela a mulher de limpeza de uma autarquia, ou uma enfermeira de hospital, ou mesmo uma professora, a poder votar em quem lhe quer congelar o salário e aumentar brutalmente a conta da electricidade?

Nestes casos, os vencimentos oscilam entre os 485 euros de salário mínimo e os 1200 de um salário bem mais alto do que médio, embora longe do auferido por gestores do sector empresarial do Estado. É, confesso, a minha perplexidade.

Uma perplexidade que volta a estar presente quando vejo um jovem, precário como todos os da sua idade, pensar que a abstenção ou o voto nos partidos das jotas pode ser uma saída para a sua condição de adulto condenado à adolescência até aos 40 na casa dos pais. De facto, o que pode levar alguém ao voto contra os seus mais elementares interesses?

A condição material não é tudo. As pessoas preocupam-se, com razão, sobre o modo como o Estado é gerido. E quando votam, fazem-no em nome de uma certa ideia de Estado. Por exemplo, porque votará um eleitor socialista no seu partido quando este, explicitamente, quer que o PSD também vá para o seu governo? Isto seria normal... não se desse o caso do PS dizer cobras e lagartos do PSD. Por outro lado, porque votará uma eleitora social-democrata em Passos Coelho se já se percebeu que o problema deste não é com o PS mas com José Sócrates? Também esta seria uma dificuldade menor, não se desse o caso do discurso oficial ser o de que os laranjas só governarão com os azuis do CDS.

Quer-me bem parecer que, nestes casos, o voto só é útil para quem o recebe. Ou alguém acredita que as virtudes chegam quando se metem todos os despesistas à mesa do orçamento? Mas isto sou eu a conversar com os meus botões e a duvidar de todas as sondagens, salvo no ponto em que dizem que são muitos os que não sabem ou não querem responder...

Miguel Portas

[Jornal SOL] 

3 comentários:

  1. Não vale apena bater na ceguinha.
    Há pensionistas com pensões de miséria, mas, que dizem votar Sócrates!- porque não votam noutro partido que não seja PS.
    Provavelmente, no PSD e CDS haverá muita gente no mesmo sentido.
    O problema é que a esquerda (PCP,BE) não conseguem passar o seu discurso aos portuguêses.
    Está mais que provado, que só uma Regionalização pode levar aos portuguêses um melhor nível de vida, mesmo com referidos partidos tradicionais mas descentralizados claro; e com gente de cá do nosso região; porque se falharem serão penalizados. E assim cada região seguia a sua vidinha.
    Esta é a minha opinião, e não devo de estar muito longe da verdade.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO

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  2. Este centralista e anti-cidade do Porto sr José Sócrates, dá cinco vezes mais para o Metro de Lisboa tirando à Metro do Porto JN de hoje.
    Mas meu amigo, ainda vai haver muita gentinha cá do nosso burgo que vai votar Sócrates.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  3. É só ver o banho de multidão que o centralista aldrabão levou aqui na invicta!
    Andou por terras da Feira o aldrabão!
    Se calhar prometeu a ser reeleito uma via rápida entre a Feira e Arouca!
    Valha-nos Deus!

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...