“Devo ser a figura não pública com mais pessoas importantes no telemóvel”, diz, a sorrir, Miguel Neiva, no seu pequeno escritório de design na Foz do Porto. Hipérboles à parte, não andará muito longe da verdade: da autoridade de transportes de Londres, com quem se reuniu este mês, a algumas das maiores empresas globais, meio mundo está interessado em conhecer o que o designer propõe para facilitar a vida dos daltónicos.
O que Miguel Neiva, designer do Porto de 42 anos, tem apresentado ao mundo desde 2008 é uma daquelas ideias “ovo de Colombo”: um código universal que identifique as cores, através de um conjunto de símbolos compreensível do Portugal ao no Japão. Um código universal, portanto, para quem confunde as cores – 10% da população masculina. Chamou-lhe ColorAdd.
Perante as teses “muito técnicas” sugeridas pela Universidade do Minho na altura de escolher o objecto prático do seu mestrado em design, lembrou-se de um colega de turma que era daltónico e motivo de riso.
Constatou que, apesar do impacto do daltonismo na vida de milhões de pessoas (um exemplo entre tantos possíveis: a maior parte olha para um semáforo e confunde o vermelho com o verde), não havia muita informação sobre esta condição médica.
“Não existia rigorosamente nada”, recorda, situação que contrastava com outras limitações, como a cegueira ou a deficiência motora. “Pouco se sabe, os próprios daltónicos não se interessam muito, talvez por não haver cura”, diz. Um problema quase invisível que, talvez por isso, não merece grande preocupação do resto da sociedade – pense-se que bastaria que os semáforos não usassem vermelho e verde, precisamente as cores mais problemáticas para a maioria dos daltónicos.
Miguel Neiva lembrou-se de criar um código “universal” para aplicar às peças de roupa, mas rapidamente percebeu que a ideia deveria ser alargada a qualquer área de actividade humana em que as cores sejam importantes.
Um inquérito a quase 150 daltónicos validou o projecto: sem saberem dos planos de Miguel, os que apresentaram soluções para melhorar a vida dos daltónicos falaram de um código. Como é que ninguém se lembrara disto antes? O mesmo inquérito revelou que 90% dos daltónicos precisa de ajuda para comprar roupa, entre outras limitações.
Miguel Neiva levou 8 anos, o tempo da tese (“não tinha pressa” em acabá-la), a estudar o daltonismo e a desenvolver o código, que segue o princípio da adição de cores primárias: atribuiu um elemento gráfico a cada cor primária e, a partir daí, somando os símbolos como quem soma cores primárias, chegou a um mapa de cores, todas elas com um elemento gráfico diferente. Nem a diferença entre cores claras e escuras ficou esquecida.
De Portugal para o mundo
Concluído o código, Miguel Neiva tem-se dedicado, desde 2008, a percorrer o mundo, em conferências, para apresentar a descoberta, já patenteada. Atingido o reconhecimento (a revista brasileira Galileu elegeu o ColorAdd como uma das 40 melhores ideias para melhorar o mundo), é hora de passar à prática.
Miguel escolheu 3 grandes áreas: a educação, a saúde e os transportes. Os lápis de cor da Viarco, as Tintas Cin, a Metro do Porto, o Hospital de São João e o Centro Hospitalar de Lisboa Central estão entre os clientes com projectos já em curso ou que devem arrancar em breve.
O objectivo é testar em Portugal soluções que possam ser facilmente exportáveis para empresas ou entidades semelhantes noutras partes do mundo. Um dos projectos que mais entusiasma Miguel Neiva é a possibilidade de usar o ColorAdd em semáforos no Brasil.
A utilização do ColorAdd requer a atribuição de uma licença, cujo preço será adaptado a cada cliente. O que interessa agora é espalhar o conceito e assegurar que a sua aplicação é bem feita, mais do que gerar lucro. Até porque Miguel já tem um plano na cabeça: transformar parte do valor das licenças na criação de uma ONG que faça rastreios de daltonismo e divulgue o código.
[In Porto24]
Obs.
Para mim, esta, não é propriamente uma notícia; já tinha conhecimento dela há uns mêses. Apraz-me particularmente, por se tratar de um jovem que conheci, de criança, e a quem me ligam remotos laços familiares.
Bom rapaz, podem crer. Ah, e tem outra grande qualidade: é portista, e falha poucos jogos no Dragão...
Bom rapaz, podem crer. Ah, e tem outra grande qualidade: é portista, e falha poucos jogos no Dragão...
Viva o Porto carago, que só tem gente que faz bem ao semelhante.
ResponderEliminarAgora sr Daltónico: pode trocar os Bes, ves, mas não troques o Azul pelo vermelho nem o verde, porque agora está tudo mais facilitado.
Azul, é sempre Azul, carago.
O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.