Se
o bem e o serviço públicos estiverem nas mãos de homens como Alberto
José Pinto Nogueira. Um procurador frontal, que não se refugia no cargo
para se inibir de testemunhar e clarificar o que a maioria dos
portugueses intui mas não entende as razões de fundo. Ou seja: que os
mais graves problemas de que sofre a justiça têm origem na política.
Seja por deficiente ou excessiva legislação, seja por abuso de poder,
geralmente associado à ideia de que as funções e cargos de serviço
público podem ser um guarda-chuva para comportamentos pessoais postos em
causa e susceptíveis de escrutínio judicial. E judicioso.
Para
aqueles que, em Portugal, defendem com unhas e dentes a necessidade de
aceitarmos, todos, a avaliação contínua como forma de implantação da
meritocracia, as respostas que Pinto Nogueira dá às questões que
ensombram a nossa sociedade deveriam constituir a magna carta da reforma
das reformas: a da justiça. Porque sem ela, e com a crise a
vergastar--nos, dificilmente nos uniremos e mais dificilmente ainda
seremos solidários.
O mais entusiasmante do que pode ser esta
reforma das reformas é que ela requer austeridade. Exactamente!
Austeridade nas leis, por exemplo. Que é o que responde Pinto Nogueira
quando lhe perguntamos se também ele tem ideia de que os ricos se safam
sempre: "Têm dúvidas de que se eu tiver um processo desses, ele nunca
mais acaba? Para combater é preciso leis mais simples".
Austeridade
também na resposta à questão de sabermos se faz sentido combater a
corrupção criando um novo crime de enriquecimento ilícito: "Esse novo
crime partiu da cabeça de uma pessoa que andou a investigar a Câmara de
Lisboa [...] e no fim disse: Não acusamos porque não é crime".
Ainda
austeridade quando responde sobre o receio do que a política ainda
possa vir a fazer à justiça: "Tenho medo é dos telefonemas dos
políticos. Já houve um que telefonou para cá porque uma procuradora do
DIAP o acusou. Queria que eu demitisse a procuradora... E, não contente,
telefonou ao procurador-geral".
Austeridade, por fim, quando
aborda o problema da mediatização da justiça a propósito da "Operação
Apito Dourado", uma das mais badaladas: "[...] perguntaram-me o que
achava da ideia de formar uma equipa especial. Quando saí do gabinete,
já estavam a anunciar na televisão. Sem um único magistrado do Porto.
Porquê. Eram especiais de quê? Ressuscitaram processos de forma
infundamentada que nem chegaram a julgamento"
Li a entrevista e concordo com o Manuel Tavares.
ResponderEliminarMuito bem Pinto Nogueira sem papas na língua e mostrando que não tem medo.
Precisavamos de mais como ele...
Abraço
Não tive oportunidade de ler tal entrevista.
ResponderEliminarComo posso faze-lo ainda ?