A dificuldade da chamada opinion maker em conviver com os factos tais como eles são, sem lhes acrescentar determinados chavões que depois de muitas vezes repetidos se apresentam quase como verdades irrefutáveis, pode estar na origem da incapacidade de avaliarmos certas coisas com mais naturalidade e menos preconceito.
Ocorreu-me este pensamento após ter assistido ao jogo do FCPorto com o Feirense, onde voltamos a assistir a duas partes distintas do jogo. Uma [a primeira], em que o FCPorto voltou a revelar deficiências técnico-tácticas antigas, onde alguns jogadores se perderam em excessos de individualismo, com a bola a circular lentamente, com passes e desmarcações previsíveis, contribuindo dessa forma para aumentar a confiança da equipa adversária [foi a jogar assim que o Gil Vicente nos conquistou 3 pontos]...Depois, veio a segunda parte, mais veloz, mais discernida, cujo resultado acabou numa victória preciosa e os respectivos 3 pontos, que nos guindaram para o topo da classificação. E o que é que isto tem a ver com o escrito no primeiro parágrafo? É simples. Na primeira parte, os jogadores jogaram de forma tão displicente que alguns adeptos mais nervosos chegaram a certa altura, não resistiram e assobiaram a equipa [como sabem, existe uma corrente de opinião que é contra os assobios nos estádios]...
Vamos lá ver: os jogadores não mereceram aqueles assobios? Os adeptos não tiveram paciência*, e não aguardaram quase toda a primeira parte que o jogo melhorasse? Será que os adeptos para serem bons só devem apoiar a equipa como seres acéfalos e sem sentido crítico, mesmo quando ela joga mal? Perdoem-me, mas discordo dessa teoria. Um aplauso para fazer sentido tem de ser merecido, o assobio também. O assobio não é mais do que um sinal dos adeptos à equipa e ao treinador, que não estão a gostar do que vêm.
Não é o meu caso, mas há muita gente que gasta o que tem e o que não tem para ir ao Estádio. Aos jogadores pede-se-lhes, no mínimo, empenho, e ao treinador, capacidade de liderança para o exigir. E não me venham com a conversa do comportamento dos espectadores ingleses, porque estamos a falar de um futebol muito diferente do nosso, onde o grau de exigência do público não tolera o jogo empastado, as paragens sucessivas, o passar exagerado das bolas para trás, e as manhas dos jogadores latinos. A razão do entusiasmo dos ingleses prende-se mais com a dinâmica dos jogos a que assistem do que exclusivamente com as victórias dos seus clubes. O futebol em Inglaterra é suado, tem movimento do princípio ao fim do jogo, e há um espírito de competitividade incomparavelmente superior ao nosso! Eles apoiam as equipas do 1º. ao último minuto porque as suas equipas lutam, quase sempre, com garra e velocidade, não lhes dando tempo e pretextos para bocejarem de tédio, ou para se zangarem com elas. Por isso, lá mal se ouvem os assobios.
O nosso grau de exigência no futebol é proporcional ao grau de exigência política e social. Apesar da União Europeia, continuamos a ser um país atrasado, eles não. Talvez isso explique também a facilidade com que absorvemos determinado tipo de ideias comportamentais que não se esgotam nos campos de futebol. Não estamos habituados a exigir, porque fomos historicamente "formatados" para a permissividade. Somos discriminados pelo centralismo, e deixámos. Agora, também querem amordaçar os adeptos de se manifestarem no futebol. Não! Há o mérito e a incompetência, só um merece ser aplaudido, o outro é para afugentar, e não é com uma postura inexpressiva de atavismo que as pessoas reagem perante o bem, e o mal...
Mas, para que não restem dúvidas, entre uma e outra coisa, enquanto adepto e cidadão, prefiro sempre ter motivos para aplaudir. E ontem, mais uma vez, só a última parte do jogo do FCPorto mereceu o nosso aplauso.
O nosso grau de exigência no futebol é proporcional ao grau de exigência política e social. Apesar da União Europeia, continuamos a ser um país atrasado, eles não. Talvez isso explique também a facilidade com que absorvemos determinado tipo de ideias comportamentais que não se esgotam nos campos de futebol. Não estamos habituados a exigir, porque fomos historicamente "formatados" para a permissividade. Somos discriminados pelo centralismo, e deixámos. Agora, também querem amordaçar os adeptos de se manifestarem no futebol. Não! Há o mérito e a incompetência, só um merece ser aplaudido, o outro é para afugentar, e não é com uma postura inexpressiva de atavismo que as pessoas reagem perante o bem, e o mal...
Mas, para que não restem dúvidas, entre uma e outra coisa, enquanto adepto e cidadão, prefiro sempre ter motivos para aplaudir. E ontem, mais uma vez, só a última parte do jogo do FCPorto mereceu o nosso aplauso.
* Como adeptos pacientes não considero, naturalmente, aqueles que mesmo na 2ª parte, depois da equipa ter corrigido alguns erros da 1ª e de passar a jogar francamente melhor, continuaram a assobiar. Esses são os mesmos que assobiam antes dos jogos começarem, e esses, não devem ser incluídos na classe de adeptos, e sim de fanáticos.
Estou de acordo. Uma assobiadela, de vez em quando, não faz mal nenhum. Serve até para acordar os atletas, como ainda ontem se viu.
ResponderEliminarNão assobio, não sei, mas fiquei muito irritado com aquela primeira-parte, parecia que não queríamos chegar-nos à frente.
ResponderEliminarMelhoramos e ganhamos com naturalidade e toda a justiça. Sinceramente, depois do 2 a 0, nem me apercebi dos assobios, mas assobiar naquela altura, quando a equipa estava a fazer o que tinha de fazer, depois de quatro jogos em 10 dias, só de gente que de facto, mais valia ficar em casa.
Abraço
Até podemos ser campeões nacionais, embora tenha muitas duvidas pelos motivos que todos nós conhecemos.
ResponderEliminarO treinador do FCP é fraco, muito fraco, talvez um dos piores treinadores dos últimos anos. Quem vai ao Dragão ver os jogos do FCP sai de lá com os nervos em franjas.
O PORTO É GRANDE, VIVE O PORTO.
Eu também lá estava e também me irritei muito com a nossa equipa,e só não assobiei porque não sei,mas também não desisti de apoiar durante todo o jogo,e concordo com tudo o que disse no seu comentário.
ResponderEliminarUm abraço
manuel moutinho
"O aplauso não faz sentido sem a contestação"
ResponderEliminarEu diria mais: "Quem não se sente, não é filho de boa gente".
Para se gostar de ser português, é necessário dizer bem dos portugueses que nos governam? Para muitos, parece que tem mesmo que ser assim. Enfim, são estados de alma.
O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.