09 fevereiro, 2012

Porto Canal (II)

Não tenho conhecimento directo e integral de qual o posicionamento que o Porto Canal de Júlio Magalhães (JM) pretende adoptar. Apenas li as declarações de JM num forum qualquer aqui no Porto (aquele para o qual foi convidado o prof. Marcelo...) transcritas no post de 03 deste mês do nosso amigo Rui Valente. Li também declarações do director de programas do canal, que foram publicadas na imprensa no final do mês passado. Não é muito mas é o que tenho.

Entrando de rompante no assunto, devo dizer que há muita coisa de que não gostei e que sobretudo as declarações de JM me deixaram com um pé atraz, a juntar à peregrina ideia do convite a Marcelo.

JM afirma que "quer um canal do Porto aberto para todo o país" ( inclui convites a centralistas?). Diz também que quer " fazer do Porto Canal uma referência do serviço público". Juntem-se estas afirmações ao facto do canal ir de seguida abrir uma delegação em Lisboa, e aí as minhas desconfianças aumentam.

Eu não quero um canal que tenha a pretensão de ser um canal nacional igual aos outros. Muito menos quero um canal que pretenda fazer "serviço público" que é obrigação da RTP.

Eu não quero um canal politicamente correcto, de bem com deus e o diabo, que faça de conta que não existe uma relação colonizador/colonizado entre Lisboa e o Norte, que dê palmadinhas nas costas daquela execrável fauna centralista que pupula na capital e que nos ofende e nos humilha sistematicamente, incluindo a CS que nos ignora em tudo quanto é programa televisivo de debates.

Eu não quero um canal que se apressa em abrir uma delegação em Lisboa, num gesto que me cheira a submissão e vassalagem para com os poderes constituidos.

Eu quero um canal que não tenha vergonha em assumir que é regional. Que assuma também que há um problema Norte-Sul resultante da filosofia colonizadora/exploradora do poder centralista instalado em Lisboa, que rouba ao Norte dinheiros do QREN que lhe estavam alocados, que nos suga empregos e investimentos, que toma decisões que mexem com o nosso dia-a dia, sem se darem ao incómodo de levantar os rabos das poltronas do Terreiro do Paço para virem auscultar no terreno os nossos problemas ,as nossas necessidades, os nossos anseios. Que destroi uma maravilha como o vale do Tua contra o sentir de uma Região,com o pretexto de construir uma pequeníssima barragem que quasi nada acrescenta à nossa capacidade hidroeléctrica.

Eu quero um canal que, assumindo sem complexos que somos espoliados pelo poder central, seja agressivo, polémico e combativo, que tome para si o papel de defesa dos legítimos interesses de toda a Região, a começar pela regionalização. Que seja o aglutinador de todos aqueles que anseiam que surja finalmente um orgão de comunicação social que não esteja subordinado aos interesses centralistas em que nós, aqui no Norte, não nos revemos.

Será que Júlio Magalhães, oriundo do mundo convencional da TV lisboeta, é o homem indicado para esta pedrada no charco? Ou será que vai optar por um canal tipo "água com açucar"?


ps Fico curioso de saber se o Porto Canal estabelecerá algum tipo de colaboração com o Movimento Partido do Norte, que faria todo o sentido, ou se optará por se manter de costas voltadas.

3 comentários:

  1. Subscrevo tudo o que escreveu, Rui!
    As suas dúvidas fazem todo o sentido!

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  2. Também concordo, pode ser um bom profissional mas não sei se é a pessoa indicada para administrar o Porto Canal. E capaz de vir com muitos vícios centralistas, e não entender o que se pretende para este Canal.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  3. Jamais me esquecerei de que quando começaram as emissôes da RTP no Monte da Virgem, com um programa que se dizia ser para promover o Norte e suas gentes, o antecessor da Praça da Alegria, meia dúzia de dias de facto foram os artistas nortenhos que apareceram. Mas foi sol de pouca dura, pois logo a seguir vieram às carradas de Lisboa e hoje assim continua.E lá se foi o carisma nortenho. Com o Porto Canal temo que aconteça o mesmo. A ver vamos.

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