18 julho, 2012

A ética dos sem ética

A questão sobre os valores éticos e sociais de determinada classe política está esgotada, ainda que prossiga pertinente. E está esgotada porque se esgota em si mesma e nas suas flagrantes contradições. Apesar disso, passados todos estes anos de liberdade pouco democrática, diga-se,  a verdade é que ainda ninguém foi capaz de arrancar a resposta.

Quando digo ninguém, é claro que só posso estar a referir-me à comunicação social, essa actividade de profissionais que tanto enfatizam a sua acção de serviço público mas que está longe de ser séria e completa. Até hoje, ainda não vi nenhum jornalista colocar questões verdadeiramente perturbantes aos defensores de um liberalismo que adjectiva a generosidade e a tolerância e que, por outro lado, substantiva o capitalismo mais retrógrado. Podemos dizer que a demagogia começa logo aqui. Mas há mais.

Num outro contexto, num Portugal com tradições verdadeiramente democráticas, habituado a respeitar os cidadãos, até concederia que D. Januário Torgal Ferreira se teria excedido nas palavras que dirigiu ao governo e a Passos Coelho. Só que o contexto não é, nem nunca foi esse. Se há coisa que os governantes têm feito e de forma compulsivamente ascendente, é desrespeitar quem lhes tem dado aval para governar. Estarei a exagerar? Não, não estou. O povo - que não é maioritariamente constituído por elites - sabe que não há exagero nenhum nisto e por isso diz [com razão] que os políticos são todos uns aldrabões. E se são de facto aldrabões, que moral têm eles para se melindrarem quando alguém com o prestígio de D. Januário lhes diz o que o povo pensa? Serão corruptos? Eu acho mais que sim do que não, é claro. Corresponderão porventura as fortunas que têm acumulado [e poupo-vos à maçada de os elencar]   ao trabalho produzido ao serviço do país? Não! Se houvesse correspondência justa mereciam pouco mais que o salário mínimo nacional... E alguns, só a cadeia.

Gostava de ver um jornalista perguntar a certos políticos coisas tão simples como isto: por que é que vocês se incomodam tanto com as críticas de uma pessoa prestigiada [como o bispo das F.A.], procurando logo aniquilá-la política e moralmente, e assobiam para o ar quando é o povo a fazê-las? Será por saberem que o povo está democraticamente desprovido de poder para ameaçar o vosso? Numa democracia sólida não seria suposto exercer o poder pelo, e para o povo? Por que o despeitam então com tanta evidência? Por que é que só o ouvem nas campanhas eleitorais? Por que é que lhes prometem coisas quando não sabem se as podem cumprir? Será que Passos Coelho não foi um aldrabão quando disse aos portugueses que não aumentava o IVA nem mexia nas reformas? Quem será afinal que está agora  a chefiar o governo, não é Passos Coelho? Será outra pessoa? Foi ou não ele o ALDRABÃO? Sabem o significado de aldrabão? Será falta de cultura, de memória, ou de vergonha? Ou será falta de tudo isso? Acham que pessoas que usam e abusam da mentira merecem respeito? Acham que merecem estar no poder quando outras talvez menos despudoradas estão na prisão?

Dificilmente teremos no nosso país [e noutros, diga-se], o gosto de ver levantar estas questões nem jornalistas com coragem para tanto, porque eles pactuam tacitamente com o regime. Tudo o que é popular é ditado por eles - e por políticos -, e o que é populista, também. Ora são cúmplices como são adversários, depende do sentido para onde se desloca o poder [dinheiro]. 

É por estas e outras, muitas, como estas, que tolero os excessos dos corajosos, dos que quebram as amarras ferrugentas do passado, como é o caso de D. Januário Torgal Ferreira, porque são uma lufada de ar fresco neste país de resignados, de gente curvada que passa a vida a orgulhar-se de futilidades ronaldianas e mourinhenses porque já perderam a própria dignidade. Não lutam.


1 comentário:

  1. Dá-me vontade rir o que dizem certas virgens ofendidas, perante as verdades que lhes incontestáveis.

    Para não me repetir muito mais, apenas repito aquilo que já disse há meses:
    quando pensavamos que já não podíamos descer mais, alguém tirou um coelho da cartola.

    Passos é uma fraude, nunca ninguém mentiu tanto numa campanha eleitoral e portanto, que nunca lhe doa a voz, D.Torgal Januário Ferreira.

    Abraço

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...