24 julho, 2012

Descentralizar? Era bom, era


um leitor alertava (com razão) para a necessidade de uma maior descentralização em Portugal. Nada que já não tivéssemos ouvido pelo menos um milhão de vezes. 

Há mais de 150 anos que as elites nacionais se referem à descentralização como uma espécie de remédio para os grandes males da pátria. E, no entanto, a centralização persiste para mal dos nossos pecados. Convinha tentar perceber por que motivo é tão difícil descentralizar - com ou sem regionalização.

O século XIX ocupou-se a debater, com minúcia, as desgraças da centralização. Para a esquerda, o culpado teria sido o absolutismo monárquico; para a direita, Mouzinho da Silveira. Como relembra Maria Filomena Mónica, ambos se esqueciam que Portugal, um país formado à volta de um projecto militar, fora desde sempre governado pelo rei.

A tradição administrativa nacional é de tutela, não de autonomia. E enquanto os intelectuais se entretêm a fazer o diagnóstico do mal, o poder mantém-se silenciosamente concentrado em Lisboa.

Na Monarquia, ainda se criaram dois pacotes de descentralização mas sem quaisquer efeitos. Durante a Primeira República a centralização prosseguiu e com Salazar atingiu o seu apogeu.

O pós-25 de Abril herdou um Estado centralizado, omnipotente e arrogante. E é com este Estado que ainda hoje vivemos. Ainda por cima, o poder central tenta compensar a pequenez internacional de Lisboa com uma concentração irracional de serviços. O país sai todo a perder, incluindo Lisboa que já está a rebentar pelas costuras.

O problema é que não se trata apenas de má vontade do poder central de Lisboa. No fundo, os municípios não estão muito interessados na descentralização. Há muito que se habituaram à rotina da pequena gestão – recolha de lixo, iluminação pública, obras, mercados – e não estão para grandes maçadas. Sempre que lhes falam em mais competências nas áreas da educação ou saúde torcem logo o nariz. Não pode ser, não temos recursos financeiros e humanos, dizem eles quase apavorados. E de facto não têm. 

Mas eu só os vejo pedir mais dinheiro. Não me lembro de algum dia terem pedido quadros qualificados da administração central. Eu compreendo. As autarquias há muito que se transformaram em agências de emprego para os da terra e era o que mais faltava ir buscar gente de fora.

É por estas e por outras que eu não tenho grandes ilusões: a centralização, infelizmente, está aí para ficar e durar.
A “reforma autárquica” do dr. Relvas é mais um exemplo de uma oportunidade perdida, uma reforma faz-de-conta, para inglês ver, ou melhor, para troika ver, em que as nossas “elites” são exímias. Não mexe em nada de essencial.

[do blogue Regionalização]

3 comentários:

  1. Mas no tempo de Salazar ainda se compreendia a centralização hoje só não se descentraliza porque há má vontade política e porque esta Gente Menor (como dizia alguém que já partiu), quer governar à ditador e se possível dividir o povo para governar melhor.

    Esta Gentinha Menor que nos governa é gente sem ideias, sem sentido de Estado, é gente reles, mentirosa que se aproveitam da democracia para fazer tudo a bem deles e dos amigos calcando o povo.

    Com a centralização a capital do Império (Lisboa) só ganha com isso. Dinheiros à fartazana para metros de Lisboa! sempre inaugurações... mas para o Metro do Porto nada! até se esquecem de nomear administradores. Mas não é nada que a gente se espante a Merda que cá temos lá se vai entretendo com carrinhos de corrida e outros a fazer política demagógica para tachos.

    Precisava-mos cá no Norte de um Político Com P grande, que enfrentasse esta corja que nos (des)governa e nos ignora.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  2. Os que apregoavam que queriam a regionalização, quando não faziam parte do tacho,leia-se assembleia da república, quando lá assentam o traseiro,são os primeiros a dizer que agora não é oportuno,só quando o pagode abrir os olhos e correr com eles do poder é que isto muda,mas eu tenho muitas dúvidas,que isto algum dia mude.
    Abraço
    manuel moutinho

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  3. Mais areia para os Olhos dos portugueses agora com o congelamento das pensões do Banco de Portugal.
    Alguma vez a sra ex funcionária do BP e ministra das finanças Ferreira Leite, o nosso bem amado Presidente da República vão ficar sem uns milhares que tanto jeito lhes faz, para acudir ao Bem da Nação!... Mais uma habilidade de Gente Menor.

    Só lamento que um Blogger como este de gente que escreve bem e traz assuntos tão pertinentes sobre a nossa vida social e económica tratada miseravelmente por gente Reles que nos Governa, não tenha muito e muito mais comentários!... Lamento.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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