Na
última edição da Mais Alentejo escrevi sobre “O Estado do Poder Local”. Hoje
vou alertar para as ameaças de que o Poder Local democrático está a ser vítima,
que, a consumarem-se, o pode destruir ou reduzir significativamente a sua
democraticidade.
Esta
situação é mais grave e perigosa do que muitos possam julgar e passível de ser
concretizada porque conta com a colaboração de alguns proeminentes autarcas, a
começar pela direcção (ou parte dela) da ANMP.
A
recente assinatura de um protocolo com o governo mostra à evidência a posição
de cócoras em que a direcção da ANMP se colocou, sem pejo de criar divisões no
seio da Associação e remetendo para Setembro a realização de um congresso
extraordinário, reclamado com urgência por muitos municípios e decidido pelo
Conselho Geral.
Esta
posição da Direcção da ANMP só pode ser explicada pelo interesse de autarcas,
designadamente do PSD, de prestarem um serviço ao ministro da área, Miguel
Relvas, que se tem esforçado por mostrar algum serviço, tentando fazer esquecer
os esquemas em que apareceu envolvido.
Mas
também Rui Rio, o presidente da Câmara do Porto em fim de mandato, sempre
apontado para inúmeras outras funções, não quis passar despercebido e propôs um
interregno na democracia nos municípios que não regularizassem a sua situação
financeira. Nem mais! Depois de Manuela Ferreira Leite ter apresentado essa
proposta para o país, eis que o seu discípulo a retoma para os municípios.
Para
estes senhores já não basta “meia palavra”. Já dizem todas as que consideram
necessárias para atingirem os seus objectivos.
Nunca,
como agora, o Poder Local democrático foi tão atacado. Está a sê-lo na sua
própria essência – na democracia em que, pesem embora diversas falhas cometidas
por alguns autarcas, tem sido quase exemplar. Na proximidade às populações, nos
elevados níveis de participação, na aplicação do princípio da subsidiariedade.
Se
existe espaço de intervenção em Portugal onde se pode falar, com alguma
propriedade, em democracia participativa é sem dúvida nas autarquias locais. E
é com isso que alguns desses senhores e o actual poder político nacional
convivem mal. E por isso pretendem travá-lo e reduzi-lo à dimensão de
antigamente, a simples extensões do Poder Central.
Todas
as “grandes reformas” que anunciam não passam de estratagemas, mais ou menos,
habilidosos para alcançarem aquele seu grande objectivo. Desde a famigerada
reforma administrativa, passando pelas reformas do sistema eleitoral, das
atribuições e competências, das finanças locais, entre outras, até à tentativa
de enterrar a regionalização administrativa, tudo serve, não para aperfeiçoar e
aumentar a qualidade da democracia e da participação das pessoas, mas para as
diminuir e enfraquecer.
Mas
este ímpeto destruidor desta maioria de direita não se fica pelas “reformas”.
Vai mais longe, usando todas oportunidades para tentar alcançar o seu objectivo
maior.
Para
que se perceba melhor a postura deste governo face ao Poder Local democrático,
refiro aqui alguns articulados do memorando de acordo entre o governo e a
Direcção da ANMP:
-
O Governo insistiu na aplicação da LCPA (Lei dos Compromissos e Pagamentos em
Atraso), apesar de reconhecer as dificuldades práticas que pode trazer para
alguns Municípios;
-
A ANMP obrigou os Municípios a comprometerem-se com a afetação da totalidade da
receita do IMI ao pagamento das dívidas ao Estado;
-
O Governo impôs como condição para a adesão de cada Município ao PAEL (Plano de
Animação da Economia Local) a desistência dos processos que se encontrem
pendentes em tribunal contra o Estado;
-
A ANMP reconheceu que o Governo tem com ela mantido um diálogo permanente e
profícuo!!!
Mais
palavras para quê? Razão tinha António Capucho quando afirmou que este governo
podia ficar para a história como o coveiro do Poder Local democrático.
Os coveiros que enterram os mortos são pessoas dignas desse trabalho, estes coveiros que enterram os vivos são criminosos.
ResponderEliminarCom a Peste que temos a governar, este país não passa de uma grande necrópole.
O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO