28 setembro, 2012

Visca Catalunya lliure




No sábado, primeiro dia de dezembro de 1640, quarenta fidalgos levaram a cabo um bem sucedido golpe palaciano, defenestrando Miguel de Vasconcelos, o representante em Lisboa do governo de Madrid, chefiado pelo conde-duque de Olivares, e aclamando rei D. João duque de Bragança.

Esta versão resumida da Restauração tem, de acordo com os historiadores, uma pequena incorreção (os conjurados seriam 107, não apenas 40), mas todos eles sublinham que o sucesso do golpe se ficou a dever ao facto de na primavera desse ano de 1640 ter rebentado uma rebelião da Catalunha, cujo esmagamento os conselheiros de Filipe IV consideraram prioritário sobre uma intervenção em Portugal.

Ou seja, se não fossem os catalães, muito provavelmente Portugal seria agora mais uma das autonomias de Espanha, tal como a Galiza ou o País Basco, em tensão permanente com o centralismo castelhano.

Apesar de não ter a certeza de que estejamos melhor a ser explorados por Lisboa em vez de por Madrid, sempre senti uma enorme simpatia pelos catalães que involuntariamente favoreceram a nossa libertação. Torço pelo Barça, que é o meu segundo clube. O Viatge a Itaca, de Lluis Llach, está no meu top ten dos melhores álbuns de sempre. Sou viciado nos policiais de Vásquez Montalbán. E, sim, Madrid é uma bela cidade, mas Barcelona, bem Barcelona é outra coisa.

Fartos de Madrid, os catalães iniciaram o caminho que os levará à independência. Faz sentido porque a Catalunha é uma nação, com cultura e língua próprias. Faz sentido, porque tudo leva a crer que a maioria dos seus habitantes querem ser independentes. Faz sentido porque os ventos da História sopram na direção de uma Europa federal e multipolar.

Para sobreviverem, as empresas souberam adaptar-se à mudança, substituindo o modelo de governo centralizado, vertical e fortemente hierarquizado - fonte de desperdício de recursos e pai de muitas decisões erradas - por outro concêntrico, mais eficaz e onde o poder está distribuído (empowerment).

Para sobreviverem, os aparelhos de Estado têm de imitar as empresas, o que implica a destruição de estados artificiais (como o espanhol) e pôr em marcha um processo irreversível que combine federalismo e desconcentração de poder.

A Noruega tornou-se independente da Suécia. A Eslováquia separou-se da República Checa. A Jugoslávia explodiu, dando lugar a Eslovénia, Croácia, Sérvia, etc.. É um erro estúpido pensar que o mapa da Europa é um desenho acabado.

A Catalunha quer e vai ser independente. Será o rastilho do fim do Estado espanhol tal como o conhecemos. A seguir será a vez dos bascos se emanciparem de Madrid . Depois, talvez os galegos. Todos os povos peninsulares ganharão com uma Ibéria multipolar. É nesta direção que sopram os ventos da História, Visca Catalunya lliure! (Viva a Catalunha livre!)

[do JN]

2 comentários:

  1. Silva pereira28/09/12, 18:51

    Boa tarde,

    Eu não tenho qualquer dúvida se Portugal fosse uma região de Espanha estaria muito melhor. O contra factual não é possível mas o que sabemos é que não existe nenhuma região de Espanha em que os seus cidadãos vivem pior.
    Mas nesta conjuntura eu defendo que o Norte de Portugal se deveria juntar à Galiza. Como Lisboa é Portugal e o resto é paisagem então Lisboa ficava a olhar para o umbigo como é o seu costume.

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  2. Quem escreve e fala assim, não é maneta nem gago.

    A Galiza, País Basco e a Catalunha já têm uma historia de muitos séculos. Com as historias dos casamentos e a união de Leão e Castela, estes países ficaram submetidos. O resto do país para baixo mesmo da parte de Portugal, era ocupada por muçulmanos.

    Nós temos de nos ver livres de Lisboa, e para isso só Regionalizando, para que não haja reivindicação tão fortes como dos catalães! e ficarmos só por aqui.

    Todo o Portugal é espoliado por Lisboa, e ainda por azar nosso, por ladrões e Incompetentes.

    A Península Ibérica não passa de uma ilha banhada pelo oceano Atlântico e o Mediterrâneo e uma entrada por terra (istmo) que são os Alpes. Talvez por isso o resto da Europa nos trata tão mal.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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