Sim, são estas as eleições que não podemos perder. As eleições com um ex-presidente do PSD, candidato vindo do município vizinho, debatendo-se com a ameaça de ter de resolver no tribunal a sua quarta candidatura autárquica. Eleições para um PS tentar inverter o ciclo de derrotas que teve nas três anteriores autárquicas. E eleições com um independente com a possibilidade de capitalizar o descontentamento nacional em relação aos partidos.

É a intricada teia política de que falei aqui, que faz das autárquicas do Porto uma disputa política intensa. Mas a verdadeira razão por que estas são umas eleições que a cidade não vai perder, é que elas representam a partida de Rui Rio ao fim de 12 anos de governação. Uma bela oportunidade para percebermos afinal no que se tornou esta cidade e no que queremos votar agora.

E se os candidatos parecem pouco interessados em fazer o balanço critico da última dúzia de anos ­– um porque é do PSD, o outro porque acha que pode perder alguma coisa com isso, o outro porque tem o apoio do actual presidente -  é de lhes exigir que digam quais são as suas propostas para fazer o Porto recuperar o lugar que lhe pertence. Vamos querer saber o que se propõem fazer para resolver alguns dos problemas adiados e algumas das ameaças que podem fazer definhar mais a cidade de Garrett.

Só com essas respostas o momento das eleições será um momento de vitória, independentemente do resultado. Pois apesar da crise há muito que é possível fazer com inteligência e determinação, e se queremos retirar o melhor da democracia devemos exigir que os candidatos mostrem que têm propostas de governação e que valem mais do que a disputa política. As eleições servem para escolher pessoas, mas principalmente para votar programas.

Eu por mim deixo aqui algumas interrogações que gostava de ver debatidas durante a campanha eleitoral. Dores, maleitas, encantos, aspirações, forças e fraquezas, que se não forem encaradas farão destas eleições uma oportunidade perdida e de Porto um encontro adiado com a sua história.

Eu gostava de saber como se quer fazer para que a cidade, especialmente o seu centro, volte a ser uma terra com gente. Quero saber o que os candidatos pretendem fazer para reabilitar o centro esburacado de prédios abandonados, para o repovoar, que balanço fazem da Sociedade Reabilitação Urbana e quais são os seus instrumentos para que cidade seja, necessariamente por razões diferentes, tão atrativa para viver como para trabalhar.

Gostava de perceber qual o entendimento que os candidatos têm de qualidade de vida urbana. Alguém que me explique como se cresce numa cidade onde rareiam os parques infantis, onde os espaços verdes pararam de crescer, já quase não há mercados e onde jardins e praças são locais abandonados à sua sorte. Que ideias têm para a habitação e para a gestão dos bairros sociais para os próximos 20 anos?

De que forma pensarão a mobilidade os nossos candidato? Somos capazes de precisar de reparar umas tantas ruas e de mais umas pontes, mas eu gostava mesmo era de perceber se o metro acaba aqui, ou há alguma coisa no próximo quadro comunitário que permita pensar que poderemos sonhar com estender a rede a oeste da cidade e integrar verdadeiramente Gaia.

Nada se faz sem dinheiro é certo e por isso gostaria de perceber melhor que visão económica têm para a cidade. Não quero que o presidente da Câmara do Porto dite muitas lições de economia ao país, mas quero perceber como é que tencionam atrair investimento e que áreas consideram prioritárias. O turismo? A cultura e animação urbana? O comércio? As indústrias ligadas às universidades? O imobiliário?

O Porto não resiste ao esvaziar de oportunidades ditado pelo centralismo se não poder contrapor uma liderança do norte politicamente forte. Quero perceber, para lá das mecânicas promessas, qual é visão dos candidatos de um roteiro para a regionalização. Como pretendem, para lá das próprias fronteiras da cidade, corporizar a ideia de um país mais equilibrado e, já agora, como vão defender dossiês essenciais como o centro de produção da RTP, o aeroporto Sá Carneiro, o porto de Leixões ou as ligações ferroviárias, nomeadamente à Galiza.

E os equipamentos e instituições que são bandeiras da cidade? Como vão defender a Casa da Música e o Museu de Serralves? Que vão fazer do Bolhão e do Pavilhão Rosa Mota? O que acham do Soares dos Reis, do Centro Português de Fotografia, dos grupos de teatro, da produção audiovisual da cidade, do Boavista? Sempre vamos ter um parque oriental?

Para além disto tudo que está na agenda de qualquer candidato que se preze, também era bom ouvir algumas ideias novas, alguma coisa “fora da caixa” que nos permita sonhar com uma cidade mais inclusiva para todos, mais excitante para viver, mais harmoniosa. Algo que quando abrimos a porta de manhã e saímos para a rua nos dê orgulho de nos sentirmos parte de uma comunidade.

Podem achar que são muitas perguntas, mas temos mais de meio ano até ao momento de fazermos a cruz no boletim de voto. Era bom que não fosse tempo perdido.