O que fazer quando queremos ser equilibrados, olhar para as pessoas com alguma boa vontade, respeitá-las, acreditar que nem tudo é mau, que ainda há gente válida, e depois chegar à conclusão que o melhor é duvidar para não nos sentirmos defraudados? Tantas decepções, senhores!
Eu que até admirava a coragem e frontalidade de Marinho e Pinto, porque sei que muito do que ele diz é realmente verdade, fiquei completamente decepcionado com as últimas declarações do ex-bastonário da O.A. Quando alguém como ele diz que ficou escandalizado com o que viu no Parlamento Europeu, com os ordenados auferidos pelos deputados (incluindo o seu) e depois não se demite, alegando que precisa do dinheiro por razões domésticas, corre o risco de hipotecar para sempre a credibilidade que conseguiu granjear junto de muitos portugueses, entre os quais me incluo. Há erros e erros!
Não me interpretem mal, porque nem esta decisão fará mudar a minha opinião sobre aqueles que o acusam de populismo porque são tão ou mais populistas que ele, e ainda mais hipócritas. Populismo não é tanto o que se diz, mas o que se faz. Entre um demagogo politicamente correcto e alguém que não renega os erros de um sistema judicial caduco como o nosso, não aprovo nenhum, mas prefiro o último. Marinho foi demagogo, sim, mas agora. E infantil,diga-se.
Mas o que Marinho e Pinto acaba de fazer, além do abandono abrupto do Partido da Terra que o catapultou para o Parlamento Europeu, não deixa de ser um acto de baixa política semelhante ao que Costa cometeu com Seguro, independentemente das razões evocadas. Já não há respeito por nada nem por ninguém, é o que é.
A propósito, o artigo de José Mendes diz o resto.
Mas o que Marinho e Pinto acaba de fazer, além do abandono abrupto do Partido da Terra que o catapultou para o Parlamento Europeu, não deixa de ser um acto de baixa política semelhante ao que Costa cometeu com Seguro, independentemente das razões evocadas. Já não há respeito por nada nem por ninguém, é o que é.
A propósito, o artigo de José Mendes diz o resto.
O triplo salto de Marinho
Os números gordos aguçam a ambição. É assim na vida e não são poucos aqueles que, bafejados por um qualquer jackpot, se desgraçam na aventura dos passos mais longos que a perna. Marinho e Pinto (MeP), com os seus 240 mil votos, é um desses personagens. Não satisfeito com o primeiro salto, exige a Lua e, qual aspirante a campeão olímpico, ensaia o triplo salto de sonho: Bruxelas, São Bento e Belém.
O problema do triplo salto, e aqui reivindico a minha experiência de ex-praticante, é que se exige equilíbrio em cada um dos passos (designados hop, step & jump), de forma a não comprometer o resultado conjunto. E o erro mais comum do principiante é arriscar tudo no hop (o primeiro), o que significa que a perna pode não aguentar o impacto para voltar a levantar o peso do corpo para os dois passos sucessivos. Ora MeP fez justamente isso. E arrisca-se a que o mundo o esmague, muito embora seja provável que os seus truques de marketing lhe possam ainda render dividendos por algum tempo.
Quando, logo no primeiro mês de deputado europeu, MeP acordou chocado com o seu salário, de que no entanto não admite abdicar pois a vida custa a todos, ficou claro ao que vinha. O triplo salto é assim mesmo, vive da velocidade e brevidade do contato com o solo. Vai daí, apraza o seu abandono de Bruxelas, que acredito não ficará especialmente triste ou pobre pela sua deserção. No mesmo movimento, deserta também do seu affaire com o MPT, assim, de repente, sem um telefonema, nem uma carta manchada de lágrimas, nem mesmo um post-it no vidro do carro.
John Baker, o líder do MPT, está destroçado, classificando mesmo a situação de "maçadora". Então o homem, a quem emprestou o prestigiado nome do partido para representar a nação na distante Bruxelas, não ia ser presidente do partido, cabeça de lista às legislativas, quiçá ministro (pode ser mesmo da Saúde porque a Justiça entrou em estado de Citius) e, por fim, candidato às presidenciais?
MeP, homem de justiça e de consensos, já avisou que não é seu costume alimentar peixeiradas. "Como advogado fiz dezenas de divórcios e sempre defendi que os casamentos devem terminar com elevação", terá dito, pelo que li no "Expresso". O problema é que há quem pense que esta história está mais perto do conto do vigário do que do divórcio.
Vamos então ao passo seguinte do triplo salto olímpico de MeP. A súbita criação de um novo partido. Para princípio de conversa, o novel político deixa claro que sai porque na sua barriga de aluguer se defendiam interesses pessoais e familiares. Ora, justamente por repudiar este tipo de agendas, bate com a porta e lança um novo projeto político, esse sim, democrático, abrangente e plural. E rasga horizontes com os inovadores princípios da "liberdade, solidariedade e justiça", prometendo defender "idosos, crianças e deficientes". Espantoso!
Aqui está, preto no branco, a delimitação do público que MeP endereça: os mais vulneráveis e, entre estes, seguramente os menos letrados. É um clássico dos nossos tempos. Por essa Europa, face às insuficiências das respostas dos partidos tradicionais, surgem os movimentos que capitalizam sobre o descontentamento do exército de descamisados. E são de dois tipos, ambos perigosos: aqueles que têm base ideológica mas que são extremistas e aqueles que são apologistas do "Eu", mais comummente designados por oportunistas. E aqui convém recordar que MeP não descurou a corrida de balanço do seu triplo salto, pois desdobra-se, desde há muito, nos programas televisivos do horário da manhã, justamente a faixa que congrega em frente ao pequeno ecrã os não ativos, muitos dos quais anseiam alguém que lhes fale ao coração, seja verdade ou mentira.
É um regalo ver MeP por estes dias na televisão, entre o surpreendido e o indignado, queixando-se dos críticos e, sobretudo, dos jornalistas. De um homem que passou os últimos anos a criticar tantos, com a legitimidade que o Estado democrático lhe confere, esperar-se-ia, no mínimo, algum poder de encaixe quando é ele o objeto da crítica.
Sabem os atletas que um saltador em comprimento dificilmente tem sucesso no triplo salto. É outra a exigência. Requer um certo golpe de asa quando se encadeia a sequência hop, step & jump. A energia de um passo tem de ser catapultada para o seguinte. Assim, a minha sugestão é que MeP não desperdice os tempos do MPT e batize o seu novo partido justamente com a mesma sigla. O novo MPT seria agora o Marinho Pinto Total, já que não há cargo a que não ambicione
É trista mas é verdade.
ResponderEliminarDiz muitas verdades, mas muitas vezes fala de mais a ponto de esticar a corda e passar a ser mais um.
O poleiro e o dinheiro é uma peste em que muito destes artistas ficam possuídos e enfermam, e, morrem sem dignidade. No nosso jardim plantado, estamos cheios destes cromos, estamos todos vacinados contra esta praga.
Abílio Costa
Abílio,
ResponderEliminarGostava de ser tão optimista como você.
Acho que, apesar das decepções serem muitas, ainda não estamos tão vacinados
contra esta praga quanto devíamos.
Depois, são eles que se queixam das generalizações e dos populismos...
Exigem a PUREZA ABSOLUTA a quem denuncia e paga uma fatura enorme por isso.
ResponderEliminarNem Jesus Cristo vos servia.
O professor que quer chumbar o aluno também reage assim.
ResponderEliminarO aluno domina 8 itens e 2 não (itens) mas o prof. não vai além dos EVENTUAIS defeitos.
"Matem Matem" os pouquíssimos que se dão ao trabalho da denuncia e que pretendem mudar algo.
Raul,
ResponderEliminarninguém exige a pureza absoluta porque ninguém é absolutamente puro (é impossível). Mas há coisas que uma figura pública que almeja pelas piores ou melhores razões o poder nunca deve fazer sob pena de destruir a sua própria credibilidade que é condenar uma coisa, escandalizar-se até com ela, e ao mesmo tempo governar-se com ela. Isso também demagogia. Além disso nunca ninguém disse que ser sério é uma tarefa fácil. Não é. Como diz o ditado não basta ser sério, é necessário parecer. E por mais tolerancia que queira ter com os argumentos de Marinho, desta vez elemeteu água. E veremos se me engano.
Se quiser dar-se a esse trabalho procure a quantidade de vezes que postei (quase sempre pró e raramente contra) sobre o Marinho e Pinto. A coerência pode consentir pequenas curvas mas o caminho tem de ser rectilíneo.
Veja a campanha anti Marinho que vai por aí (cs,blogs etc) não deve ser por acaso.
ResponderEliminarraul,
ResponderEliminarisso prova que Marinho se pôs a jeito, porque inimigos não lhe faltam e eu nem sequer gosto deles, pelo contrário.
Só um cego é que não vê, ou então anda muita gente distraída. Posso ser um crente, mas, estou atento.
ResponderEliminarHá por aí muitos falsos profetas, quem me dera que este não fosse, mas...
Abílio Costa.
Caro Raul,
ResponderEliminarEvidentemente!
O homem meteu o pé na argola de forma descomunal e agora aqueles que andam mortos por lhe por a mao em cima vao fazer o obvio! Mas estamos à espera do quê?
Já agora, se o M. Pinto acha que ganha de mais, injusto até, mas porque nao pode negar receber o dinheiro, entao porque é que ele nao doa uma parte a um qualquer centro de ajuda a pobres, deficientes, eu sei lá?
Aí sim, ele mostrava coerencia e marcava pontos.
Você aprecia o homem? ok! Eu também! Mas que meteu o pe na argola meteu!
E se nao emendar a mao urgentemente corre o risco de ser ridicularizado/trucidado e acabar para a politica!
Deacon
Ainda não percebi muito bem o que de tão grave fez Marinho Pinto.
ResponderEliminarTalvez incomodar-se com um país subserviente mas sempre pronto à mínima oportunidade (?) a espetar a faca a quem não o é.
Anónimo,
ResponderEliminarse não percebeu, é porque não sabe o que é a coerência. Já disse e repito, que a vida, ou melhor, a sociedade em que vivemos, injusta e tremendamente cínica, conduz os espíritos mais fortes à necessidade de recorrer a alguns desvios, alguns recuos no alinhamento ético, mas Marinho e Pinto não pode rejeitar com uma mão uma coisa dizendo que é mau e aceitá-la com a outra alegando que é pobre. Esse, lamento dizê-lo, é o princípio de qualquer tipo de prostituição.