Mais um dia se passou sem ler nem comprar o Jornal de Notícias. Como é bom de ver, mais que o conteúdo, o que realmente me faz falta é o hábito matinal de leitura que fui desenvolvendo durante anos a fio. Se antes da actual administração o JN não era um jornal perfeito (quando digo perfeito, quero dizer autónomo, sem edições territoriais), mas que ainda se conseguia ler com algum conforto, agora, começa a tornar-se perigoso pelo protagonismo que vem dando a figuras e valores do centralismo. Vendo as coisas pelo lado positivo, poupo mais de 8,00 euros por semana, não poluo o cérebro com mais um jornal contaminado por vírus lisbonários, e compenso um hábito nefasto com outro mais seguro e mais saudável, que é ler um livro (que só eu escolho) em vez de jornais tóxicos.
Mas vale a pena sabermos quem está por detrás do "novo" Jornal de Notícias, e como a estratégia foi montada procurando não levantar muitas ondas no processo de aniquilação do que restava da sua já parca autonomia. Na presidência do Conselho de Administração do JN está o advogado Proença de Carvalho mais 6 administradores, dos quais apenas Rolando Oliveira é o mais conhecido por ser filho de Joaquim Oliveira, antigo proprietário da Controlinveste, agora Global Media. Portanto, tudo gente praticamente anónima à região donde tem origem o jornal (não tarda, aparece aí um atrasado mental a negar a origem do jornal).
Então, nomearam para Director-Geral um tal Afonso Camões, outro ilustre desconhecido (de Castelo Branco) para os nortenhos. Para acalmar as hostes e não imprimirem uma mudança demasiado radical, mantiveram David Pontes (um regionalista) como Sub-Director, curiosamente o anterior pivôt dos poucos programas com interesse do Porto Canal, chamado Pólo Norte, que entretanto desapareceu surpreendentemente da programação, e finalmente escolheram Domingos de Andrade para Director Executivo, curiosamente também, o anterior Director de Programas do Porto Canal...
Então, nomearam para Director-Geral um tal Afonso Camões, outro ilustre desconhecido (de Castelo Branco) para os nortenhos. Para acalmar as hostes e não imprimirem uma mudança demasiado radical, mantiveram David Pontes (um regionalista) como Sub-Director, curiosamente o anterior pivôt dos poucos programas com interesse do Porto Canal, chamado Pólo Norte, que entretanto desapareceu surpreendentemente da programação, e finalmente escolheram Domingos de Andrade para Director Executivo, curiosamente também, o anterior Director de Programas do Porto Canal...
Como podem ver, todo o elenco da estrutura actual do JN torna muito confusa a definição de um alinhamento ideológico, ou territorial, e não me parece que seja por acaso. O facto é que, pouco a pouco, vão aparecendo aquelas figurinhas que estamos cansados de ver nos media lisbonários, políticos e outros, que nada podem acrescentar de positivo aos nortenhos em geral, e principalmente aos portuenses. Mas não estranhem, porque no Porto Canal está a acontecer o mesmo...
No JN, desportivamente, o Benfica começa a ser o protagonista principal, o tom de vermelho é bem mais evidente que era o azul da anterior direcção. E, como já referi noutro post, o Conselho Editorial é composto por uma série de figuras públicas nortenhas que mais não são que uma espécie de sêlo de garantia para manter as elites locais em sentido, isto é, abúlicas e cooperantes:
No JN, desportivamente, o Benfica começa a ser o protagonista principal, o tom de vermelho é bem mais evidente que era o azul da anterior direcção. E, como já referi noutro post, o Conselho Editorial é composto por uma série de figuras públicas nortenhas que mais não são que uma espécie de sêlo de garantia para manter as elites locais em sentido, isto é, abúlicas e cooperantes:
Conselho Editorial do JN
- Alberto Castro , António Cunha, António Marques, António Pinto de Sousa, António Pires de Lima, Cristina Azevedo, Fernando Gomes, Germano Silva, Gomes Fernandes, Hélder Pacheco, Joaquim Azevedo, Joaquim Oliveira, Jorge Nuno Pinto da Costa, Jorge Vilas, Luís Braga da Cruz, Manuel Cotão de Assunção, Manuel Carvalho da Silva, Manuel Serrão, Manuel Violas, Marques dos Santos, Miguel Cadilhe, Paulo Varela, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Purificação Tavares, Rosa Mota, Rosário Machado, Rui Osório, Rui Reininho, Salvato Trigo, Sobrinho Simões e Teixeira dos Santos.
Como podem observar, é um conjunto heterogéneo de pessoas, que vai da política, à ciência, passando pelo desporto, onde também consta o nome de Pinto da Costa, que, como é de prever, dificilmente reagirão a mais um ataque à autonomia da imprensa portuense. Isto não acontece por simples consideração emuito menos por acaso. Trata-se de uma estratégia de anestésico intelectual através de honrarias espúrias que mais não passa de um grupo de meninos bem comportados e submissos ao poder de Lisboa. Por todas estas indefinições, não auguro nada de brilhante para o Porto Canal e para o Porto cidade. A degradação sobe, de dia para dia. Não creio que o Porto Canal tivesse chegado a este ponto de perfeito amadorismo, como está agora, se Pinto da Costa fosse o que já foi no passado recente. Das duas uma, ou não se interessava pelo projecto, ou se se interessasse, procuraria fazer alguma coisa de jeito com ele, tanto para o FCPorto, como para a autonomia da cidade, porque ninguém como ele sabia o quanto isso era importante para nós (reparem que já falo no passado).
Mas, tivemos o azar de possuir um canal de televisão no momento errado, e não é indissociável o marasmo do canal com a alteração comportamental de Jorge Nuno Pinto da Costa, igualmente passiva.
Nada acontece por acaso.
Nada acontece por acaso.
Se fosse só o JN!!
ResponderEliminarBoa tarde, antes de mais.
O JN é apenas o culminar de 3 décadas de encerramento de tudo que é comunicação social no Porto. Desde o surgimento das rádios locais em 86, a CS no Porto progrediu, evoluiu, tínhamos 3 jornais e uma RTP1 com emissão própria desde Gaia para o país. Uma RTP2 nos mesmos moldes, uma RDP com emissão própria desde Cândido dos Reis. Tínhamos 5 rádios locais e uma rádio regional que chegava a Lisboa, a Press. Havia 3 jornais generalistas e um desportivo. Desde finais da decada de 90 tudo começou a desmonerar, graças as aldrabices feitas na lei da rádio, à incompetência de gestores/empresários e à carneirada de políticos de merda que tivemos no Porto. Tudo junto levou ao ponto em que nos encontra-mos. Eis o aspecto: Rádios temos 2 no Porto, a Festival e a Nova, em que o dono é lisboeta. As restantes são retransmissores de Lisboa. A TSF ocupa a rede regional Norte da Press, desde Lisboa. Pois é. A grande maioris dos tripeiros nem sabe que o Porto tem uma rede regional Norte de rádio mas que é ocupada por uma rádio de Lisboa. A grande TSF não é mais que uma rádio local lisboeta que adquiriu em finais dos anos 90 a Rádio Press com estúdios na Rª das Mercês, bem perto da torre das Antas e desde o Porto perdeu a sua enorme voz pois a rádio chegava a Lisboa. Jornais: Apenas o JN, como bem descreveu. A RDP tem emissão desde Gaia em horas mortas ao fim de se semana, a Antena Aberta às 11 horas e o desporto às 18h30m. O programa grandes adeptos é feito no Porto, 1 horita às segundas, ou seja, 98% da emissão é Lisboa. A Antena 2 e Antena 3 é 100% Lisboa, excepto 1 hora diária com o Álvaro Costa na Antena 3. Manhas e tarde é tudo Lisboa. Tv: Um canal por cabo. Os restantes 20 canais em Portugal é Lisboa. Com a morte do JN, é para dizer que o Porto não existe em matéria de comunicação social. Onde andam os políticos de cá com assento parlamentar? O que fizeram esses tipos todos do PS/PSD e CDS pelo anti-centralismo? Nada! Quem votou neles? Muitos...Quase todos. Em 30 anos foi isto em resumo. Só pergunto como foi possível que a elite politica ligada à maquina do Estado, dependente dos grandes grupos empresariais tenha sido sempre eleita pelos tripeiros, nortenhos? Só posso concluir que por cá há muito imbecil, ignorante que em vez de pensar como palha, nunca quis saber destes pormenores, entra no carro ouve a Comercial, chega a casa e vê a telenovela da TVI / SIC e ao deitar ouve mais Lisboa. Ao mesmo tempo somos gozados pois em Lisboa sabem que eles mandam nisto e se alguém quiser falar num órgão nacional tem de pedir licença a eles...pois aqui isto é uma aldeia. A culpa é de todos aqueles que sempre elegeram políticos miseráveis que apenas souberem tratar da vidinha deles e chegamos ao ponto de termos um JN no estado em que o descreveu. Bem haja pelo artigo. José Carlos / Rio Tinto.
Caro José Carlos,
ResponderEliminarnão posso estar mais de acordo. É dramático dar-mo-nos conta da ignorância cívica das pessoas. Repare que mesmo no futebol que tanto os (e nos) apaixona, quando as coisas correm mal, incluindo as arbitragens habilidosas e a discriminação ao FCPorto, a tendência dos comentadores é centrarem as responsabilidades sobre o treinador ou os jogadores. Há coisas que só podem mudar se eles forem mais interventivos e menos medrosos. Falam do Norte, das gentes do Porto mas não percebem que eles próprios já não correspondem a esse perfil de gente irreverente e lutadora. Querem sempre que sejam outros a assumir as suas próprias responsabilidades. É terrível este cenário, mas é a realidade que temos.
Um abraço
Pois é. Ha muito que digo isto a muito tripeiros. Mas o que noto é que a grande maioria desconhece por completo os meandros da Comunicacao Social..as rádios a que a cidade do Porto tem por direito, as que nos tiraram por habilidosos políticos, os jornais que se foram e por aí fora. Portugal é um exemplo da ignorância coletiva. O tripeiro à beira de um alfacinha é muito menos bairrista. O alfacinha defende Lisboa como ninguém, conhece a sua cidade. Nunca chama sul ou centro a Lisboa. Chama Lisboa. Um lisboeta não troca a sua TV, radio e jornal da Capital por uma outra, jamais do Porto. Um tripeiro chama Carris aos autocarros dos STCP...um lisboeta nem sabe o que são os STCP. O tripeiro esta habituado a viajar para sul...um lisboeta chega Alverca. Um lisboeta não chama Porto ao Porto..chama Norte. Se dissessem a um Lisboeta vamos lá fechar a TVI, SIC e todas as rádios de Lisboa e passam a ouvir tudo do Porto, ETA a revolução. O tripeiro nem sabe nem quer saber se a radio ou a TV é do Porto pois troca qualquer coisa por um Goucha, um telenovela lisboeta. Assim, vai ser difícil evoluir MOS. Jose Carlos.
ResponderEliminarJosé Carlos,
ResponderEliminartudo isso é verdade,mas atenção, tal advém do centralismo exercido por Lisboa sobre o resto do país, não é uma qualidade genética dos lisboetas.
A sua aparente superioridade sobre o nós, é fruto da proximidade com o poder. Os lisboetas não são mais
determinados que nós, bem pelo contrário, vivem mais encostados à mama do Estado.
O bairrismo lá é mais artificial. E quanto ao verem "só" as suas TVs e rádios, como podem eles trocá-las por outras se as outras já nem existem?
Não confundamos usurpação com mérito. Nós somos responsáveis, sim. Sobretudo certos políticos da região, mas é preciso nunca ver nisso um mérito, uma qualidade específica dos lisboetas.
Eu já lá vivi, e sei que não são em nada superiores a nós, bem pelo contrário. Mas pulhas há em todo o território, é o que menos falta.
As coisas acontecem assim por mera má governação. Ponto.
Eu não disse que eram melhores ou superiores. O que eu quis dizer é que nunca permitiriam fazer a Lisboa o que no Porto permitiram fazer em 3 décadas. Os exemplos são aos montes...se ca comemos e calamos...é porque perdemos qualidade . As causas podem ser muitas e difíceis de apontar todas, mas as consequências estão à vista. Bom dia. Jose Carlos.
ResponderEliminarJosé Carlos,
ResponderEliminarokey, mas ao dizer que nunca permitiriam isto ou aquilo, pode ser interpretado como coragem ou coisa assim no género, o que não é verdade.
O que digo e repito, sem retirar razão a muito do que comentou, é que tudo isso se deve à proximidade com o poder. O que também explica parte da resistência dos sucessivos governos em dar essa autonomia ao Norte e lhe recusa sucessivamente a Regionalização.
Mas, sem dúvida que os políticos nortenhos tem grandes responsabilidades por estarmos como estamos, e o Porto Canal do regionalista Pinto da Costa até acabou com o Pólo Norte que era talvez o programa nessa matéria mais importante e interessante. Só ficamos com o lixo.