24 julho, 2016

O cherne está pôdre

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José Augusto Rodrigues dos Santos
(Porto24)

Sei por experiência própria que a política não é para meninos de coro, para donzelas púdicas que ruborizam ao mínimo palavrão, para cidadãos com princípios e dignidade. Alguns destes, cidadãos com princípios e dignidade, tentam remar contra as marés sujas da política, mas rapidamente são trucidados pelas impiedosas máquinas partidárias ou seitas de interesses que dominam o aparelho de estado e as suas adjacências. Entre as seitas mais malévolas para o interesse público evidenciam-se as sociedades de advogados cuja habitual nefasta ação condiciona a política, economia e finanças.
Entrar numa destas seitas que controlam em seu proveito a coisa pública e privada seria o destino natural de Durão Barroso. Quer-me parecer que era a algo como isto que ele referia como solução profissional mais vantajosa, em contraponto à “coragem” que teve, por desejo de desafio, de entrar nos quadros da quadrilha de malfeitores que é a Goldman Sachs.
Conheci Durão Barroso num meeting político na faculdade de Direito de Lisboa, em 1975. Nessa altura eu fazia parte da Comissão Instaladora (CI) que elaborou o decreto-lei 675/75 que criou a via única de formação em Educação Física e que veio a desaguar na criação do ISEF do Porto e do ISEF de Lisboa. A minha ida para o INEF, onde se centralizaram as ações da CI, permitiu-me conhecer José Manuel Constantino, também ele integrante da CI e que era o “dono iluminado” de todo o fervor revolucionário maoista que invadiu o INEF, em contraponto ao fervor revolucionário revisionista defendido pelo neófito comunista Rabaçal. Deixei-me ser cooptado pelo Constantino para o MRPP, mais pela destreza argumentativa que demonstrava nos meetings que pela beleza e congruência da mensagem política implícita à vulgata expandida pelos prosélitos do Arnaldo de Matos.
Nessa altura, a faculdade de Direito de Lisboa era o sanctu santorum de todas as ideologias revolucionárias e feudo privativo de doutrinação da ideologia maoista que tinha como mártir “santo” Ribeiro dos Santos. Arnaldo de Matos e Saldanha Sanches, com uns arremedos do Fernando Rosas, empenhavam-se em reforçar a linha vermelha revolucionária que, em contraponto ao revisionismo soviético, elegia a união dos operários e camponeses como o ponto de partida para os novos amanhãs cantarem mais afinados. Nos intervalos das intervenções dos “grandes educadores” havia lugar para algumas tomadas de posição de “xicos” e “xicas” espertos, como Durão Barroso e Maria José Morgado, que debitavam anátemas a torto e a direito e marcavam com o ferrete de linha negra quem não bebesse até à alma e replicasse até ao enjoo, o mantra – “Nem fascismo, nem social-fascismo, revolução popular”. Mantra que eu debitava, com a força vocal que ainda hoje me caracteriza, na venda do Luta Popular em Algés e redondezas. Na exterioridade, calças-jardineira, boina, camisa à pescador, barba mal-amanhada, eu era um “verdadeiro” revolucionário. Na alma, as contradições eram insanáveis e, por momentos, adormeci aquilo que era e que os meus correligionários apodavam de fascista, assassínio colonial, salazarista, reacionário, conservador, gajo de direita, antirrevolucionário. Serei isso tudo, mas agora pouco me importa as críticas dos outros. Começo a estar em paz, comigo e com o meu passado. A minha militância no MRPP foi sol de pouca dura. A teologia dessa religião não me converteu, embora me tenha propiciado um curso rápido de iniciação à política mais irracional que deus ao mundo botou. Muitas noites passadas em claro a colar os cartazes puros da “revolução popular” e a arrancar os cartazes impuros dos comunistas enquanto os controleiros do INEF – Bispo e Constantino, não sei se alguma vez pegaram num balde de cola e pincel para afixar cartazes, iam reunir no sentido de decidir se íamos entrar na clandestinidade, na altura em que o “grande educador da classe operária” foi preso pelo COPCON. Outras vezes iam reunir para decidir sobre as grandes decisões políticas para o futuro. Ou seja, iam dormir enquanto os camelos dos “escravos” ideológicos iam penar por tudo o que era parede de Lisboa e arredores.
Desde essa altura fiquei de pé atrás com Durão Barroso. No meu classificatório registei-o logo como: puto palavroso, mal-educado e com a ânsia incontrolada de protagonismo. Hoje mantém os tiques que o evidenciam, pela negativa, na política nacional e internacional.
Que Durão Barroso está indelevelmente marcado com o estigma da cobardia, aproveitamento pessoal da política e oportunismo político é questão que não levanta dúvidas a qualquer mente lúcida e sensata. As críticas unânimes que recebeu são prova que há limites para a falta de vergonha e carreirismo patológico. O aproveitamento duma carreira política em proveito pessoal é “crime” ecuménico. Situações como a de Durão Barroso devem induzir legislação adequada que erradique o perigo de um político se desviar, em proveito próprio ou alheio, da missão elevada que é servir a res publica.
A defesa de Durão Barroso por alguns dos seus “compagnons de route” como Passos Coelho, Duarte Marques e outros serviçais do PSD evidencia a lógica de seita mafiosa que assiste a muita política partidária. Péssimo esteve também o Presidente da República ao evidenciar a promoção profissional do sujeito com algo de desígnio nacional, ao nível das medalhas dos nossos campeões desportivos. Asneira grossa caro Presidente. Era melhor que estivesse calado.

Nota de RoP:
O cherne sempre esteve pôdre, só a mulher e alguns tótós o comeram...

8 comentários:

  1. Chamar Cherne a este oportunista é tratar mal o peixe. Até na política foi um vira casaca, passando de um partido da esquerda para a outro da Direita. É mais um que se serviu da política para enriquecer.
    Não digo mais nada desta criatura, se não fico enojado.

    Abílio Costa.

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  2. Hum, a questão é que se a abrangência das críticas, fica apenas apontada a um quadrante, então o sectarismo depressa fica à vista e assim se perde a independência e razão...

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  3. No que me diz respeito os quadrantes não me perturbam nada, nem sei bem o que isso quererá dizer.

    O que lhe digo é o seguinte: seja à esquerda, à direita ou ao centro, o que mais repudio é o oportunismo político. O cherne em questão, não é apenas um oportunista, é um traidor, um cínico, um reles videirinho que não merece o menor respeito. Isto, para não ter de lhe dizer em que espécie de águas o punha a nadar...se pudesse.

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  4. E para além do que foi escrito, também é um criminoso que já devia ter sido julgado por crimes contra a humanidade, mais os seus amigos da Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.
    Abraço
    Manuel da Silva Moutinho

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  5. Caro Valente, com tanta mas tanta coisa com que nos entreter com borradas políticas nos últimos anos, parece ser claro o tal quadrante de ataque, que se tornou tão óbvio como merecido. Pena é, lá está, o escolher sempre um dos lados, ou nestes casos um dos lodos...

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  6. Caro Pedro M.,

    se clicar aqui: https://renovaroporto.blogspot.pt/2015/01/socrates-ensinou-me-que-se-for-preso.html, facilmente compreenderá que eu não alinho as minhas ideias por partidos, mas sim pela coerência e pela integridade.

    Mas uma coisa lhe digo: se a "esquerda" do PS foi o que se sabe, que dizer dos partidos à sua direita? Do PCP, não temos casos (até porque nunca governou) de corrupção, excepto os "desvios autárquicos" pouco recomendáveis de José Luís Judas e os "ideológicos" de Zita Seabra. Do Bloco ainda pouco há para avaliar.

    Por isso, estou à vontade para não me sentir enquadrado ou preso por qualquer tipo de partidarite. Dessa liberdade ainda posso disfrutar, felizmente.

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  7. Caro Rui Valente, respeitosamente entendo o seu argumento, e assim entendo o que pretende transmitir. Confesso que desconhecia matérias anteriores, que infelizmente existiram e adivinho que os próximos tempos não serão melhores, para todos os quadrantes...
    Cá estaremos para avaliar os "lodos" todos.



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  8. Caro Pedro M.,

    não há problema. Passe a imodéstia, não devo nada a qualquer partido ou a qualquer político, de qualquer quadrante. Aliás, cada vêz acredito menos nos partidos. Se um dia tiver razões para mudar de ideias, é porque finalmente decidiram trabalhar a sério pela causa pública. Enquanto existirem Sócrates e D. Barrosos (e há por aí muitos), não me calo, não escreverei uma linha que seja a poupá-los.

    Cumpts.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...