09 agosto, 2016

Pinto da Costa continua sem se assumir

Que me desculpem os portistas que consideram a gratidão uma viagem sem retorno, porque eu não tenho essa ideia do seu significado. A gratidão não é intemporal, nem incondicional, pelo menos, para mim. Há méritos que têm tempos e fundamentos próprios, e os fracassos também. Portanto, não confundamos as coisas. Se respeitei e admirei Pinto da Costa durante muitos anos, foi porque confiava nas suas decisões e na sua capacidade de liderança, coisa que não acontece agora, pelas razões que já aqui apresentei várias vezes. O senhor envelheceu, sendo fisicamente o mesmo, apenas deixou de pensar da mesma maneira, e isso faz toda a diferença. Teria sido sensato, se quisesse admitir a realidade e soubesse retirar-se a tempo do clube mantendo imaculado um currículo de competência. Mas, não. Optou por cobrar (com juros) a confiança que os portistas nele depositavam (ainda há alguns com dificuldades em aceitar a realidade), oferecendo-lhes 3 anos de desgostos, de mau futebol, e sobretudo de humilhação.

Não imagino o Pinto da Costa de há 10 anos atrás , a envolver o FCPorto num negócio de televisão sem retorno, nem privilegiar assumidamente a região e a cidade do Porto. Privilegiar, é apenas dar preferência a, não é radicalizar, é preciso que se entenda. Há uma margem confortável de diferença entre esses dois pólos. A promessa de Pinto da Costa foi essa, mas a realidade é uma profunda contradição.  

Os conteúdos desportivos, que permitem aos portistas acompanhar as modalidades do clube foram um benefício, sem dúvida, mas continuam carentes de uma área de intervenção e debate onde a defesa do clube seja contemplada sem tibiezas, onde a utilização das imagens possa servir de contraditório, ou mesmo de prova contra as opiniões manipuladas dos media lisboetas sobre as prestações das arbitragens. Mas, o Pinto da Costa de agora parece nem querer saber o que está a acontecer com o Porto Canal. Por mais que se esforcem por disfarçar, é visível e notória a subserviência de Júlio Magalhães aos poderes da capital, onde sempre trabalhou, aliás. Com a artimanha de querer agradar a gregos e troianos, de pretender compatibilizar a comunicação generalista com a do FCPorto, deparamos com um Porto Canal muito empenhado a informar os espectadores dos resultados desportivos do Benfica, quando nem sequer ainda conseguimos cobrir totalmente os nossos... 

Passa-se o mesmo em relação aos protagonistas com direito a assentar o rabo num cadeirão do Porto Canal. Os mais importantes - como os autarcas do Porto - raramente lá vão, os da capital, actores, jornalistas, políticos, não podem faltar. É impressionante o modo como um Canal do Porto torna a cidade do Porto tão redutora e invisível aos seus próprios olhos. Contrariamente ao que Júlio Magalhães imaginará, o Porto não precisa de Lisboa para se cosmopolitizar, porque já é cosmopolita e são os estrangeiros que nela vivem e visitam que lhe conferem tal estatuto. Foi também assim que o FCPorto se impôs internacionalmente, se fez respeitar no Mundo. De Lisboa, os portuenses só podem esperar ciumeira e indiferença. Basta ver como está a comunicação social, os jornais, as rádios, as televisões. Como negar essa realidade? São os lisboetas que sofrem de um enorme complexo de inferioridade em relação ao Porto, não o contrário. Nós somos reconhecidos lá fora, eles precisam de falar de si próprios, a auto-promoção é uma constante doentia. Não têm a postura de uma capital idónea. De lá, só colheremos simpatia se não lhes fizermos sombra, se nos anularmos aos seus desideratos. Lisboa pensa que é Portugal, e convive mal com quem lhes lembra que o resto do país é geograficamente a parte maioritária.

Pelo que tenho observado, o Pinto da Costa de agora não deve concordar comigo. Se ele acompanha o Porto Canal, é porque nada tem a alterar. Cheira-me que a decisão repentina de investir no ciclismo não passa de uma estratégia para ocultar novos trambulhões no futebol. Já foi preparando o discurso para se proteger de uma eventual nova derrocada... Dizer como disse, que foi Nuno Espírito Santo quem escolheu o novo ponta de lança belga, quando tinha muitos outros como opção, é lavar as mãos previamente de outro eventual fracasso. Só se esqueceu foi de dizer quem eram os outros candidatos ao lugar "rejeitados" pelo treinador.

Pessoalmente ainda não tenho ideia do que poderá valer N.E.Santo como treinador. Posso no entanto adiantar que, para o tempo que teve com o plantel - praticamente igual ao do ano passado -, considero que vi algumas mudanças para melhor. Goste-se ou não, ninguém pode negar que a bola para trás e para o lado já não é tão evidente. Falta mais, é verdade, mas demos tempo ao treinador. Não é com ele que me preocupo. Quem sabe se não será NES a salvar o presidente de um final infeliz?
    

4 comentários:

  1. Já desconfiávamos muito antes de ele se recandidatar que o tempo já não era o mesmo e que acomodação era fatal. Tudo na vida tem um prazo e um ciclo no humano, é preciso se saber retirar, mas, outras coisas falaram mais alto para ele... Deixou-se iludir pelos anos que lá anda e por pessoas que gostam de o idolatrar, mas, algumas dessas pessoas são piores que Judas.
    Um dia que entre alguém para presidir aquele grande Clube tem que fazer uma limpeza total.
    Tirando alguns erros inocentes sem necessidade que mancharam o clube, não sou assim tão ingrato que não reconheça que foi ele que pôs este clube no topo da Europa e do mundo.

    Abílio Costa.

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  2. O mais preocupante é que ninguém se atreveu a apresentar uma alternativa nas recentes eleições.

    Saudações Portistas

    Paulo Almeida

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  3. Paulo Almeida,

    preocupante é, mas esse é o capital de crédito que ainda vai segurando Pinto da Costa no lugar. Ao que sei, a última reunião da AG não foi tão pacífica como costumava ser, o que pode significar que esse capital de confiança está a enfraquecer. Não estranha pois que Pinto da Costa faça agora muitas declarações infelizes como aquando da chegada do novo p.l. belga...

    Um abraço

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  4. Caros,

    A politica de vendas pós Mourinho sempre esteve na minha opiniao por detrás do que agora se passa. Se nao a principal, uma das principais! Ando a dizer isto desde essa altura, podem crer!
    A venda permanente dos melhores jogadores (inicialmente 1, ou 2 no maximo) era compensada com compras de jogadores que se revelavam bons e tapavam o buraco do que saiu, e, tipico do futebol, os resultados aparecendo está tudo bem.
    Mas já nessa altura se falava que, estar permanentemente a vender os melhores é arriscado porque nem sempre é um dado adquirido que o que se vai comprar seja bom....é normal....nem sempre se acerta....
    Entretanto, passou-se a vender mais de 2 por ano, ja nao chega apenas 1 ou 2, é preciso mais vendas, mais bago!
    O risco é portanto maior e aqui temos o resultado....

    Existem na minha opiniao interesses economicos de alguns que nao "abdicam do seu" quinhao e o clube fica para segundo plano. Primeiro estao os interesses pessoais "economicos instalados" e o resto vem a seguir...

    Socios, adeptos e simpatizantes estao hoje a ser tangueados por uma direccao do clube com compras e conversas ridiculas que, os resultados desportivos se encarregarao de confirmar (oxala que nao) que o nosso clube nao é mais o que era suposto ser!

    Os interesses individuais (bago/pilim) estao neste momento acima dos do clube!

    Do fundo do coracao, rezo para que a parte desportiva corra bem e ajude o clube a nao se afundar mais, mas mesmo que corra bem, o mal está lá e quem vai ganhar com isso sao os mesmos de sempre.

    Estou no entanto crente que caso as coisas nao corram bem, este ano vamos ter festa da grossa para os lados do dragao pois estou seguro que muita gente já nao esta mais disposta a pactuar com o actual estado de coisas e, nao tenho duvidas, nao faltará quem apareca para dar uma nova vida ao FC PORTO!

    Cmpts
    Deacon Blue















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