05 fevereiro, 2018

Se há virtudes na sociedade portuguesa, a frontalidade não é certamente


Na realidade, é um pesadelo viver neste país, e ainda acreditar que a corrupção é um fenómeno circunstancial. Não é! Nem todos somos corruptos, mas o país já tem gente demais a construir essa reputação. Gente graúda, frise-se... 

Para que a interpretação do que digo não deixe dúvidas, passo a informar desde já, que os escassos programas que vejo nos canais lisboetas são uma excepção à regra das minhas preferências, e que mesmo assim, não significa que confie absolutamente na integridade intelectual de quem neles participa. Refiro-me concretamente á "Quadratura do Círculo", e ao "Eixo do Mal", ambos na SIC, de Pinto Balsemão (responsável-mor pelo que se faz de melhor, e pior, na SIC).

Foi num desses programas ("Eixo do Mal") que, depois de ouvir ambíguas críticas aos casos dos bilhetes oferecidos pelo Benfica ao actual Ministro Mário Centeno, pude confirmar os cuidados com que todos os participantes abordaram o tema para evitarem tocar no nome do Benfica. Curiosamente, o programa "A Quadrtura do Círculo" não foi transmitido, como é habitual às 5ªs feiras, com os comentadores do costume, sendo substituído por outro sem qualquer aviso, para debater o processo que envolve o juiz Rui Rangel. Dei por mim, a tentar perceber por que razão o assunto não pôde ser debatido na "Quadratura do Círculo", mas não cheguei a nenhuma conclusão...  Estranhei, no mínimo.

Já com o "Eixo do Mal", uma conclusão pude tirar: ninguém foi capaz de discutir o caso com a frontalidade que ele merecia. Como noutros casos, criticaram em função das suas simpatias políticas, o que é natural, mas com muito menos objectividade do que é habitual. Estranhamente, quase todos apontaram baterias para o Ministério Público com acusações de cumplicidade com o Correio da Manhã, sem destacarem o ponto mais importante e ao mesmo tempo complexo: a coragem, e as dificuldades que estão a colocar à Procuradora Joana Marques Vidal para prosseguir o seu trabalho.

No fim, pensei para comigo quão difícil é, neste país, conviver com a Lei, quando há uma multidão invisível de gente graúda a vulgarizá-la, ora através de alterações convenientes, ora a ignorá-la. O Juíz Rui Rangel é apenas um grão de areia na engrenagem dos que estão nesse grupo. Assim, torna-se praticamente impossível limpar de corpos estranhos os bastidores da lei, e da investigação policial.

A dureza da Lei é coisa não grata para muitos que deviam ser os primeiros a impô-la, está comprovado. As televisões conseguiram invadir áreas sagradas, como a da Justiça, e banalizaram-na, tornando-a frágil e recreativa. Os media, são os principais manipuladores sociais, e  a Lei não é excepção;  não porque a estimem, mas para a controlarem.  

Não sei até que ponto é consistente aquilo que foi dito no programa, mas a ser verdade que o Correio da Manhã tem fontes de informação no Ministério Público, se tem, é preciso prová-lo para depois se fazer aquilo que nunca se conclui, que é julgar, e condenar exemplarmente  quem anda a poluir éticamente o país.

Tenham a relevância social que tiverem,  a Lei, é mesmo assim: dura. Quem não apreciar o género só tem uma alternativa: viver sem chular os outros. 

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