TRISTE PAÍS O NOSSO
"O interior está a morrer." Esta é uma frase que ouvimos há décadas. Há décadas que nos queixamos do centralismo bacoco, trucidante e exacerbado deste pequeno país, em que temos uma Capital que absorve tudo, alimenta todos e trucida tudo o resto.
Agora, através de um relevante e pragmático estudo, podemos constatar com realismo as diferenças abismais entre Lisboa e o resto do país. Com esta diferença abismal de tratamento, quais são os jovens loucos que se atrevem a ficar no Interior? Muito poucos. Só mesmo os loucos. Infelizmente.
Lisboa é a capital e o resto continua a ser paisagem. Este estudo apresenta provas.
“Portugal é um dos países mais centralizados da OCDE”, diz um estudo da Associação Comercial do Porto. E apresenta números para provar a “tragédia do centralismo”. Sabia que o Estado entrega à administração local apenas 10% da despesa pública total? E que metade das compras públicas são feitas por entidades localizadas na Área Metropolitana de Lisboa? Para resolver isto, uma das propostas é criar na AICEP um “Conselho das Regiões”
Associação Comercial do Porto (ACP) quis ir ao país real ver como está o Estado da Nação. Concluiu que a descentralização continua a ser uma miragem e apresenta todas as provas das desigualdades regionais num estudo com o selo da Universidade do Minho. Afinal, parece que continua a ser válido dizer que Portugal é Lisboa e o resto é paisagem.
Feito o diagnóstico da “tragédia do centralismo”, esta estrutura que reúne 2 mil associados, entre privados e empresas, representando 80% do PIB da Região, também aponta soluções para Portugal encontrar “um modelo de organização do Estado que seja justo, equilibrado e moderno”.
Um exemplo? “Devem ser avaliadas as barreiras à entrada de PMEs no mercado da contratação pública, nomeadamente no acesso às plataformas de contratação. Para a AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, a proposta é criar um “Conselho das Regiões”.
O estudo “Assimetrias e Convergência Regional: Implicações para a Descentralização e Desconcentração do Estado em Portugal”, realizado por uma equipa da Universidade do Minho liderada por Fernando Alexandre, só será apresentado ao público terça-feira, mas o Expresso, antecipa já 10 conclusões sobre a distribuição regional dos serviços do Estado e da despesa em bens e serviços e sobre a descentralização orçamental. E também avança 7 propostas da mais antiga associação empresarial portuguesa para o país.
CONCLUSÕES
1) Portugal é um dos países mais centralizados da OCDE, tendo alocado à Administração Local apenas 10% da despesa pública total, o que compara com percentagens superiores a 30% em países como a Alemanha ou a vizinha Espanha;
2) Com a crise financeira internacional de 2008, o peso da Administração Local na despesa pública voltou aos mínimos dos anos 90 (11%);
3) As receitas da Administração Local mantiveram-se praticamente inalteradas desde 2004, tendo até sofrido uma quebra de 4%;
4) Entre 2010 e 2016, as transferências do Estado para os municípios diminuíram 23%, com destaque para a redução de 34% no Algarve;
5) Desde 2010, os municípios tentaram compensar a quebra nas transferências do Estado com um aumento das receitas próprias (+11%). E em 2016, as despesas correntes foram quase 2,5 vezes as despesas de capital dos municípios;
6) Entre 2004 e 2016, o peso das receitas fiscais aumentou de 33% para 38%, e o peso das transferências diminuiu de 45%, para 38%;
7) 49% do valor das compras das administrações públicas (central e local) é realizado por entidades localizadas na Área Metropolitana de Lisboa;
8) As entidades da Administração Central localizadas na AM Lisboa representam 64% das compras públicas;
9) As empresas localizadas na AM Lisboa representam 77% das vendas totais a entidades da Administração Central, 62% das vendas ao Estado e 40% das vendas a entidades da Administração Local;
10) As entidades da Administração Local mostram ser mais eficientes na contratação pública relativamente às da Administração Central, quando se medem os desvios do preço pago em relação ao preço contratado.
PROPOSTAS:
1) Promover uma distribuição geográfica mais equilibrada das empresas fornecedoras do Estado. Dada a importância dos serviços públicos nas economias locais, nomeadamente através das compras públicas, é essencial deslocalizar e/ou desconcentrar serviços da Administração Central que são responsáveis pela maior fatia da despesa em bens e serviços;
2) É também essencial rever o modelo de compras públicas, de forma a garantir maior igualdade entre empresas nacionais no fornecimento de bens e serviços do ao Estado;
3) Devem ser avaliadas as barreiras à entrada de PMEs no mercado da contratação pública, nomeadamente no acesso às plataformas de contratação pública;
4) Aumentar as receitas próprias dos municípios, de forma a aumentar a resiliência das regiões a choques externos e a implementar estratégias regionais de desenvolvimento. Como? com mecanismos como a transferência da responsabilidade de receitas do Governo Central para a Administração Local, designadamente através do aumento das percentagens do imposto sobre o rendimento (IRC E IRS);
5) No âmbito deste reforço das receitas próprias dos municípios, atribuir a derrama municipal aos municípios que contribuem com os seus recursos para as atividades de empresas com sede noutros concelhos, em particular Lisboa;
6) Criar um “Conselho das Regiões”, da AICEP, de forma a garantir uma maior transparência e mais informação sobre as condições de competitividade da economia, a par de uma maior concorrência entre regiões por esse tipo de investimento. Depois, nos projetos que procuram Portugal como destino, seria preciso definir valores mínimos para o investimento e postos de trabalho que passariam a ser analisados por este novo órgão, de forma a garantir que os investimentos possam localizar-se nas regiões que oferecem melhores condições de competitividade;
7) Reforçar a articulação entre a AICEP e as agências de investimento local como a InvestPorto e a InvestBraga.
A Confraria das Aldeias e Aldeões de Portugal está a preparar também um dossier para apresentar ao Governo com dados e propostas para alterar a realidade existente.
Sentimos que estamos a morrer, com tanto valor existente, com tanto para potenciar, com tanta paixão para amar, mas este centralismo criminoso, que nos obrigam a alimentar, é verdadeiramente desolador.
Fonte:
Associação Comercial do Porto
Todos os governantes falam na descentralização, mas nada fazem de concreto e objectivo. Este António Costa vem agora com esta descentralização, do faz de conta, e ao que tudo parece, ser um presente envenenada para as Autarquias.
ResponderEliminarO que dizem os líderes dos partidos, o presidente da RP a respeito da descentralização!? Nada, acomodam-se porque lhes dá mais jeito, e quando dizem alguma coisa, é de soslaio, envergonhados, de sorriso amarelo. A manjedoura de Lisboa é o aconchego desta corja hipócrita.
A. C.
pois mas nao pode ser so a madeira a impor se ao neo colonialismo.
ResponderEliminarDepois penso eu de que.......a cidade deu a vitoria em eleiçoes a rui rio que quase humilhou a maior instituiçao da cidade so porque nao queria comprometer o seu futuro politico em lisboa. Ora assim ..... como se pode lutar contra o centralismo?
Ò Vidente Mor,
ResponderEliminarvocê não comenta, contraria. O que é que tem a Madeira a ver com o assunto? Tanto a Madeira como os Açores conseguiram o estatuto de regiões autónomas apenas pela sua condição de ilhas. É um não assunto relativamente ao continente. E o que é que Rui Rio tem a ver com o assunto? E eu também não tenho nada a ver com o assunto. Fui sempre regionalista, tenho alguma coisa a ver com a indiferença de outros? E isso já é passado. O que me interessa é o presente e futuro.
Sabe, não se pode lutar contra o centralismo com esse seu espírito fatalista e de contradição. Faça você qualquer coisa homem, não passe a vida a negar tudo.