01 abril, 2010

Uma feliz Páscoa

E o Filho do Homem
Entristeceu-se,
Angustiou-se
E temeu...
Bebeu do cálice
Da traição
Do sofrimento
Da vergonha
E do embaraço...
Despiram-lhe as vestes
Cuspiram-lhe nas faces
Desnudaram-lhe a alma...
Naquela hora
Houve trevas...
E clamando,
Entregou o espírito...
Partiu-se então o véu
E a terra tremeu...
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neli araujo
2010
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O cartoon do ano


[Extraído do jornal Público]
Falando em mentiras, é obviamente mentira que a história dos submarinos não envolve nenhum político português. Garanto-vos, estão todos inocentes. Pobres, mas honestos...

31 março, 2010

As entrevistas, e o resto

Como ontem escrevi, as entrevistas silmultâneas do Presidente do FCPorto e do Orelhas em estações diferentes [RTP1 e SIC], apenas serviram para dividir audiências e para as comparar. Mesmo assim, Pinto da Costa levou larga vantagem sobre o seu rasca imitador da 2ª. circular. Imaginem o que seria se as entrevistas fossem em separado!

Pelo pouco que à posteriori pude ver, o Miguel Sousa Tavares não foi o entrevistador corrosivo que se impunha. Parecia um cordeiro, quase um lambe-botas. Como portista, não gostei do seu papel de entrevistador, muito permissivo e tolerante. Não se lhe pedia que imitasse a Manuela Moura Guedes, mas, nem oito nem oitenta, não precisava de ser tão delicado. Como entrevistador, definitivamente, não é grande coisa. Neste momento a SIC deve estar a repensar a gananciosa estratégia de imitar à pressa a concorrência. Quanto a Pinto da Costa, pareceu-me menos solto que noutras alturas. Tal já era de prever, tanta tem sido a mordaça que um débil mental - convencido que é jurista -, lhe tem tentado colocar na bôca. Mesmo assim, pareceu confiante e creio que transmitiu essa imagem aos adeptos. De resto, nada de novo.

Mudando de assunto. Fui ao velhinho dicionário de Augusto Moreno vasculhar o que lá se dizia sobre élites, e dizia assim: alta roda; sociedade elegante; os melhores elementos de uma sociedade ou grupo; o escol, a fina flor. Presunções ou mariquices à parte, o adjectivo que actualmente alguns tentam fazer prevalecer, é o terceiro: os melhores elementos de uma sociedade. E o que é que se pode entender por élites no melhor sentido da palavra? Para mim, é simples. Os melhores elementos da sociedade são todos aqueles, que através da sua inteligência, determinação e voluntariedade, contribuem de algum modo para a melhorar, quer em termos humanos e científicos como tecnológicos. A economica e as finanças também se incluem no pacote elitista, desde que a criação de riqueza seja distribuída pela comunidade de forma justa e séria. Não pertence a uma elite o assambarcador, o rico improdutivo. Portugal está saturado de ricos vigaristas. A este grupo pertencem, entre outros parasitas, muitos, demasiados políticos. É preciso acabar com esta peçonha, e depressa. Mão pesada, e cadeia com eles, tem de ser a palavra de ordem do futuro próximo.

É por ouvir falar demais das élites portuenses e por não as vislumbrar em lado nenhum que vos preguei este sermão. Neste momento, gostava de me entusiasmar com notícias positivas das obras que estão por fazer, mas já não sou capaz. No Porto, andámos há tempo de mais a discutir projectos, alterações de projectos, e alterações às alterações dos projectos. É enfadonho, deprimente mesmo. É o mercado do Bolhão que não há meio de ser reabilitado, é o Pólo de Serralves na Senhora da Hora que nunca mais começa, é a ampliação das linhas de Metro para Gondomar , é a linha do Campo Alegre, ora à superfície, ora enterrada, é o bairro do Aleixo, é a reabilitação urbana do Porto [não só o centro histórico]. Tanta coisa para fazer e por fazer, há tanto tempo! Optimismo? Vão brincar com o S. Pedro! Ou, com Rui Rio...

Se há cidade onde o célebre efeito difusor [o tal de spill-over] já está a ser aplicado é no Porto, só que no sentido contrário ao que seria de prever. Deve ser por causa dele que a Via Porto [não se impressionem, o "Porto" é mesmo para disfarçar], pertencente ao consórcio da Barraqueiro, de Lisboa, venceu o concurso para a concessão de exploração do Metro do Porto, afastando a portuense Transdeve [Efacec]. Apesar de esta ter interposto uma acção em Tribunal contra a Barraqueiro, os argumentos que apresenta parecem pouco convincentes para alterar a decisão. Por isso, não se admirem se nos próximos tempos virem nas costas dos casacos dos homens da Metro do Porto a lisboeta Barraqueiro bem escarrapachada! Até ao momento, não tínhamos motivos de queixa dos serviços da Transdeve, mas futuramente, só podemos melhorar, está-se a ver...

Ó élites do Porto, adonde estaindes, que ninguém vos vê? Ah, já sei, talvez em Saint Moritz numa estância de ski a dessenferrujar as pernas. Há que disfrutar das férias da Páscoa, e é preciso fazer sacrifícios, apertar o cinto, não é assim ... Ou então, aproveitar para fazer a rodagem do último tôpo de gama da BMW, e ir comer umas ostras da Bretanha, a Cancale.
Por falar em férias e em élites, consta que o candidato a líder do PSD, Aguiar Branco, não se encontra no país. Não, não pode ser, estamos em crise. A esta hora deve é estar a pensar numa alternativa credível ao PEC.

30 março, 2010

Gain oblige [Ganância obriga]!

Qual Liberdade, qual carapuça! Qual amor clubista, qual treta! É o pilim, o cacau, a guita, o caroço, a massa, o carcanhol, a pasta, em suma, o dinheiro, quem mais ordena.
Bastou saber-se que a entrevista* de Pinto da Costa na RTP 1 estava agendada para hoje, para o portista Miguel Sousa Tavares ceder aos superiores interesses da SIC, permitindo que o seu habitual programa de 2ª.feira [Sinais de Fogo] fosse alterado para o mesmo dia e hora em que Pinto da Costa vai ao canal público. É o mercado, vão dizer. Nada melhor do que atirar para cima do povão com uma abstracção como é esta coisa do mercado, para calar as bôcas e todos engolirem a "pastilha".
Outrora, nos tempos em que a ética ainda se podia detectar pelas atitudes dos Homens, onde não se usava apenas como mera maquilhagem para retocar a dignidade de quem dela precisa porque não sabe o que é, dizia-se quando a consciência cívica falava mais alto: noblesse oblige [nobreza obriga]. Hoje, esta expressão tem uma utilidade cosmética, deu uma volta de 180º em termos práticos e foi substituída por outra, bem mais material: gain oblige [ ganância obriga]!
Miguel Sousa Tavares é um homem controverso. Tem tanto de lúcido, como de distraído. Às vezes parece que não é a mesma pessoa. Ao anuir às directrizes da Direcção da SIC que deliberou alterar o horário habitual do seu programa para competir com o da RTP, permitiu que a estação de Carnaxide matasse dois coelhos de uma só cajadada prejudicando implicitamente o impacto da entrevista de Pinto da Costa. Ou seja, dividiu o público em duas audiências, impedindo-o de assistir tranquilamente em directo a cada um deles, ao mesmo tempo que deu um bom pretexto para as comparar. Senão, é só aguardar umas horas e logo veremos se os gráficos de audiências não serão usados para tornar redutora a entrevista de PdCosta.
Os portistas mais radicais dirão que não lhes interessa ouvir o Orelhas, e aí, até os posso compreender [e como compreendo!], mas já não sei se diriam o mesmo se lhes perguntassem se não estariam interessados em ouvir as perguntas do Miguel a L.F. Vieira... O mesmo, por razões clubisticamente antagónicas, vai acontecer com a entrevista de Judite de Sousa. Ela, é uma portista apagada, domesticada, lisboetizada. O seu portismo nem se vai notar [aqui, o profissionalismo irá funcionar, vão ver]. É casada com um benfiquista pouco dado a rigores [e estou a ser simpático], e isso deve ter as suas consequências.
Por isso, as duas entrevistas têm igual interesse para públicos diferentes. Por isso, só um Miguel Sousa Tavares demolidor, pertinente e destemido, poderá remendar a asneira de ter concordado em passar o seu programa em simultâneo com o da RTP. Comercialmente falando, o grande público de uma e outra cor clubística nada tem a ganhar com a esperteza. Só perde. E Miguel S. Tavares, quer queira, quer não, estará a dar um contributo precioso para quebrar audiência à entrevista do líder do seu clube que conviria ser vista não só por adeptos como por adversários. Critérios.
Deixemo-nos de conversas. A ética é como o bom vinho, para preservar a qualidade intacta, não deve ser misturado, senão já não é vinho, é outra coisa qualquer. Na comunicação social a ética não se compadece com estes aforismos, é uma espécie de goma de mascar que se molda quando convém. É um mito. E o dinheiro, é o supremo dos valores [até para o Miguel].
Logo veremos se é ou não como eu digo.
* Entretanto, recebi a informação de um leitor através da caixa de comentários que esta entrevista não foi integrada no programa Sinais de Fogo, como erradamente os jornais noticiaram. Hoje, haverá um programa especial para a entrevista. De qualquer modo, a questão nuclear - que se prende com a data e hora da entrevista -, mantém-se.

29 março, 2010

Os nossos bravos deputados

Muita da diarreia legislativa de que sofre o país, é devida à quantidade de gente que está incrustada no aparelho administrativo do Estado, sobretudo no aparelho central, e que têm de justificar de qualquer modo o ordenado que recebem ao fim do mês, caso contrário poderia alguém reparar que não fazem falta nenhuma. Os deputados padecem do mesmo síndrome, o que nem é de admirar, visto que normalmente limitam-se a votar conforme o lider do partido manda. Mesmo quando pertencem a qualquer uma das Comissões que o parlamento cria, como a maior parte deles está calado, limitando-se a ouvir, a vida de deputado deve ser fatigantemente monótona. É por isso que cada vez há mais gente convicta de que 230 deputados é um número exagerado que poderia ser reduzido a metade, e também que se fossem adoptados os círculos uninominais, se aumentaria a utilidade dos deputados e que a sua responsabilização política e até cívica atingiria um patamar superior ao actual. Uma das consequências deste estado de enfado de tantos deputados, e uma das maneiras de se convencerem a eles próprios - e aos outros - que são indispensáveis, é propor Leis por mais descabidas que sejam.

Vem isto a propósito da iniciativa de um grupo de deputados que vai apresentar um projecto de lei que proibe a atribuição de nomes de pessoas vivas a todos os espaços públicos. O que me choca neste caso, nem é tanto o princípio em si mesmo. O que me repugna é a pulsão doentiamente centralista que leva os nossos bravos deputados a estabelecer princípios, decretados no Terreiro do Paço e como tal extensivos a todo o país, sobre matérias que a meu ver deveriam ser da exclusiva competência das autarquias locais. Trata-se de um abuso.

Há outros exemplos da mania que o poder central tem de se imiscuir indevidamente na vida dos cidadãos e na autonomia dos poderes locais. Um daqueles com que mais embirro é a obrigatoriedade dos taxis do continente terem todos a mesma cor, que aliás nem sei se é creme ou preto/verde, pois coexistem as duas modalidades. Se cada município determinasse a pintura dos seus taxis, como sucede em todo o lado, será que se perderia aquilo que gostam de chamar a "coesão nacional"? A República vai fazer 100 anos, mas não se perderam ainda tiques centralistas que eram apanágio das monarquias absolutistas.

Qualquer dia, quando outro grupo de deputados estiver enfastiado com a monotonia da sua rotina, são capazes de querer decidir, com aplicação em todo o país, o que deveremos obrigatoriamente fazer primeiro na nossa toilete matinal: se fazer a barba, se escovar os dentes!

28 março, 2010

Rui Veloso

Aos senhores jornalistas

Só terá ficado admirado com a demissão do Presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis da presidencia da Liga Portuguesa de Futebol, quem ainda não lhe teria visto o "rabinho". Sectário, cobardola e oportunista, como foi durante todo o tempo que esteve à frente da Liga, a decisão só podia ser esta. Fugir. Fiz questão de lembrar os mais distraídos da acumulação de cargos de Presidente de Câmara, com a de de Presidente da Liga, para procurarem descobrir, porque é que o colega de partido Rui Rio ainda não se pronunciou publicamente sobre esta promiscuidade, tendo em conta o alarido que causou a respeito de promiscuidades similares assim que foi eleito Presidente da Câmara Municipal do Porto... São os seus adeptos que estão sempre a dizer que ele é um homem sério, mas quem cala consente...
Portanto, fazendo fé na alta estima que os fãs/eleitores de Rui Rio lhe dedicam, só posso imaginar que foram as rudes recriminações que este fez ao colega Hermínio Loureiro, que o levaram a demitir-se... Portanto, a versão que por aí corre de que convidou o patético presidente da Comissão Disciplinar da Liga para se demitir com ele, não deve passar de boato... Sim, até porque esse, é completammente diferente... É um bocadinho mais alto. Como diz, o especialista em Direito, José Manuel Meirim[no Público], se Hermínio apelou a todos os órgãos da liga para a manutenção dos seus lugares a fim de garantir o bom funcionamento das competições, é porque ele não faz lá falta nenhuma. E, de facto, não faz.
Como também Meirim recorda, foi Laurentino Dias quem afirmou pretender erradicar a violência nos recintos desportivos, através da Lei 9 para restaurar a ética e incentivar as famílias a frequentar os estádios de futebol. A verdade, é que nenhum desses desideratos foi conseguido por H.Loureiro e respectiva equipa. O seu mandato só piorou as coisas, sendo que o responsável pela Comissão Disciplinar foi a maior nódoa de incompetência e facciosismo da história daquele organismo. Ambos, aliás, comungam das mesmas limitações intelectuais e de carácter. Foi para ter gente com estas características na Liga que Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, tanto se bateu, e os resultados são bons de ver: humilhantes.
Mas, se se continua a pedir a moralização dos costumes e do bom convívio dentro dos próprios clubes, há ainda um hiato sagrado quase enigmático que escapa a esta exigência de renovação de valores. Chama-se: Comunicação Social. Até os governantes parecem temer exigí-la, e não se percebe porquê. É que, a Comunicação Social tem sido, sem sombra de dúvida, um dos mais influentes responsáveis pela falta de fair-play, pela intensificação do facciosismo e pelas profundíssimas injustiças do nosso futebol.
O discurso da moralização e da ética devia ter a Comunicação Social como principal destinatário, porque é parte interessada e interveniente. Só que, num país de clones, sem homens de Lei, não há quem meta os media na ordem. Eles, mais do que qualquer outra instituição deviam saber conviver com a ética. Reclamam-na de todos para todos, mas desprezam-na de si para os outros.