08 janeiro, 2008

O Colete de Forças de Rui Rio

Não será por falta de apoios que Rui Rio não consegue impor-se na Câmara Municipal do Porto.
Pessoalmente, acho fenomenal que ainda exista quem espere dele grandes feitos e até já cheguei a pensar se não seria eu que por má fé inconsciente ou cegueira, não conseguia descobrir-lhe os méritos que outros aparentemente tão bem lhe reconhecem.
A verdade, é que por maior que seja a minha vontade em compreendê-lo não consigo retirar outra conclusão que não seja a de considerar que de facto não está à altura das exigências de que o Porto actualmente carece para se restaurar.
Mas, para além das limitações evidentes que tem revelado na função de cargo tão importante como é o de Presidente da C.M. do Porto, Rui Rio está ser vítima da sua própria estratégia.
Talvez instigado pelo acessor do urbanismo, o benfiquista Artqº. Ricardo Figueiredo, ainda temos viva na memória a entrada de "leão" na tomada de posse na edilidade portuense, com a tão abrupta como dispensável hostilidade com Pinto da Costa e indirectamente (quer se concorde ou não com a inovação) para com os sentimentos clubísticos da maioria da população afecta ao F. Clube do Porto.
A urgente necessidade de criar roturas e mostrar autoridade mereceu logo o aval das hostes centralistas em cujo discurso "pseudo-anti-provinciano" se quis inspirar, como o comprova a sua diplomática frase: " não é por berrar contra Lisboa que o Porto se afirma".

O resultado de toda esta mise-en-céne política com inconfessáveis ambições políticas mais alargadas (provavelmente malogradas), é que, mesmo agora, quando Rui Rio precisa de dizer coisas importantes como criticar o Poder Central, ninguém o ouve. E devia ouvir.
Ele tem razão quando se queixa do Govêrno por ainda não ter pago à Câmara uma dívida de 1 milhão de euros e de abrir os cordões à bolsa para comprar terrenos em Lisboa no valor de 13,4 milhões de euros, mas como não gosta de levantar a voz para reclamar o que lhe é devido, o Govêrno aplaude a cortesia e agradece o estilo.

A ser verdade, o mesmo se pode dizer quanto às reclamações tímidas que faz sobre a escassez de verbas do Estado para fazer face ao projecto de requalificação da Baixa, mas o maior responsável é outra vez Rui Rio, por ter errado redondamente nas "armas" que ele próprio escolheu para combater o sistema centralista com o qual, aliás, esteve em sintonia durante muito tempo.

Agora, Rui Rio começa a ter necessidade de se soltar do colete de forças em que se meteu, mas não é com conferências oferecidas a alguns "amigos" numa sala do Município (praticamente ignoradas pelos media da capital) que o consegue.

Rui Rio podia (e devia) ser popular sem ter de ser populista, mas não quer ou não sabe. Mas, agora, até era capaz de lhe dar jeito sabê-lo ser para, com toda a legitimidade, ter o povo ao seu lado a ampliar-lhe a voz que lhe falta para se fazer ouvir e exigir do Govêrno mais respeito e atenção à cidade do Porto.

Ora, quando é a própria população que não percebe porque não ouve o que Rui Rio anda a dizer ao Govêrno, por não saber falar com ela, como pode o autarca ambicionar que o povo saiba o que anda a fazer?

Uma certeza: o Governo centralista agradecerá novamente e até é capaz de prometer reservar-lhe uma medalha de bom comportamento, pelas falinhas mansas de que Rui Rio decidiu (em má hora) fazer uma bandeira.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...