Depois de assitirem ao habitual aparato histérico das televisões lisboetas em redor do processo "Apito Dourado", com Portugal profundo a deleitar-se com a imagem de Pinto da Costa a ser diligentemente escoltado por agentes de segurança, os portugueses mais susceptíveis devem ter ficado convencidos que o homem que pretendem colonar com a Camorra Napolitana ia rapidamente ser "condenado à morte". Puro engano. A procissão ainda vai no adro e o processo decorre com a recôlha de elementos de prova a revelar-se pouco animadora talvez por (quem sabe) ainda não existirem.
Entretanto, o público assiste, mais impávido do que sereno, a todo o género de
ocorrências, geradas pelos poderes políticos cuja única virtude é transmitirem-nos a certeza que não dão grande importância à história que recomenda à mulher de César parecer séria.
Um ex-político (será mesmo, que o 'ex' se aplica aos políticos?) de seu nome Armando Vara, acaba de pedir uma licença sem vencimento da CGD para se candidatar à vice-presidência do BCP, conservando prudentemente (como convém) o vínculo laboral com a Banca pública, a fim de não hipotecar o seu futuro profissional (vulgo emprego) incluindo as respectivas aposentações.
Tudo isto, sublinhe-se, dentro da maior legalidade. Contudo, a pergunta que apetece fazer nesta altura é a seguinte: quantos portugueses, sem ligações partidárias, gostariam de ter esta facilidade "salta pocinhas", de andar de um emprego (fortemente remunerado) para o outro sem arriscar perder nenhum?
António Lamego, ex-sócio do Ministro da Justiça, Alberto Costa, adquiriu recentemente uma prisão desactivada em Setúbal, com 46.000 m2, no âmbito de um programa de alienações, por um preço inferior em cerca de 890 mil euros ao que o Estado pagou, com a curiosidade de ter apresentado a respectiva proposta de aquisição antes mesmo do registo comercial da empresa compradora de que é dono (Diranniproject III) ter sido feito! Genial!
É óbvio, que todos estes processos terão naturalmente obedecido a mecanismos legais, mas não parece menos óbvio que, de transparentes e correctos, tais processos, pouco têm.
Trata-se, de dois processos distintos, em que os respectivos procedimentos deviam parecer sérios, acima de qualquer suspeita, sobretudo, pelas pessoas neles envolvidos terem grandes responsabilidades político/institucionais, e o dever cívico de praticar (para os poderem transmitir à população) bons exemplos. É também para isso que lhes é conferida a autoridade. Ora, não é isso que está a acontecer.
Como já foi aqui abordado, tanto o mérito como a legalidade, não podem justificar e ainda menos explicar, tudo. Outros valores parecem estar esquecidos, sendo o bom senso um deles e a Ética, outro.
Ética que, em absoluto não existiu e que abre caminho às mais cinzentas suspeições.
Senhores políticos e ex-políticos: depois não se queixem, nem digam que são mal pagos, porque não é isso o que parece. Afinal, gostam imenso de acumular lides políticas com empresariais e, nesse caso, nem sempre é possível compatibilizá-las com a implícita declaração de interesses.
Como à mulher de César, é preciso parecer sério...
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