28 maio, 2008

O mega-centralismo de Mega Ferreira

Faz quase duas semanas que Mega Ferreira deu uma entrevista ao PÚBLICO. Tendo passado todo este tempo, reconheço que há aqui uma falta de actualidade do assunto, mas não posso deixar de abordá-lo porque não li qualquer comentário de protesto em relação a uma afirmação que o entrevistado fez. Esta afirmação, feita com a arrogância dos elitistas-centralistas, tem de ser refutada. Este meu protesto não terá consequências práticas nenhumas, mas para mim corresponde a "lavar a alma" e isso basta-me. Ficaria de mal comigo próprio se por comodismo o não fizesse.

A pergunta que lhe foi feita. Os de fora de Lisboa criticam a concentração de investimentos em Lisboa. Não têm razão?

A resposta de Mega Ferreira. Os países têm de assumir que há uma cidade que é capital, o que é sobretudo duro para a segunda cidade. Há custos de capitalidade que derivam não só da dimensão de uma metrópole onde vive mais de um quarto da população, como também das actividades que aí se concentram. Isto implica investimentos de outra dimensão, pelo que é demagogia criticá-los quando visam resolver problemas de qualidade de vida que são mais graves em Lisboa do que noutras cidades do país.

O meu comentário

Sim, todos os países têm uma capital, mas isso não é duro para a segunda cidade, nem para as outras. O que é duro é a segunda cidade verificar que todos os investimentos e facilidades são concentrados na capital, e aquilo que a si é destinado é regateado e acaba geralmente por reduzir-se a meros "trocos", tarde e a más horas.

Por outro lado, porque razão se concentra em Lisboa um quarto da população portuguesa e "grande número de actividades"? Não será precisamente por força dos privilégios económicos e políticos que sucessivos governos lhe têm concedido, com o consequente esvasiar e definhamento do resto do país, nomeadamente da tal segunda cidade?

E como é que Mega Ferreira sabe que os problemas de qualidade de vida são mais graves em Lisboa do que noutras cidades do país? Não acredito que o saiba por experiência própria. Uma das características da "elite centralista" lisboeta é precisamente a cuidadosa distância que mantém do resto do país, excepto do Algarve, claro! Mega Ferreira faz parte desta suposta elite que considera que uma capital tem direitos e privilégios outorgados por graça divina que justificam todas as regalias que a si prórpria concedem e desculpam todas as injustiças e prepotências que cometem em relação ao resto do país. É por isso que são ferozmente anti-regionalistas. Não têm convicções políticas nem patrióticas. Apenas defendem as suas confortáveis prerrogativas. E enquanto os restantes três quartos da população o permitirem, assim continuará a ser.


5 comentários:

  1. Estive para postar sobre essas "brilhantes" declarações de Mega Ferreira, mas depois passou-me completamente. Ainda bem que o fez caro Rui Farinas. Nunca é tarde para ridicularizar estas figurinhas. Parecem todos tirados a papel químico ou (como agora se diz) clonados.

    Abraço

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  2. Espanha não tem segunda cidade, talvez por isso é que a ESposição Universal, já foi em SEvilha e agora é em Saragoça.
    Mas não é só este senhor, há infelizmente, cada vez mais gente a pensar e falar assim.
    Mas a linha do metro do Porto aumentou 600 metros.Viva o Mário Jamé Lino e a selecção, mais a estrela C.Ronaldo.

    O "rio" continua um esgoto a Céu aberto.

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  3. É incrível de facto. Portugal é o país mais centralista da europa e aonde existe mais desigualdade social e ainda gozam com o resto do país, dizendo que é natural que a capital lisboeta seja beneficiada.
    Pior ainda é todo um país pagar os diversos elefantes brancos que se fazem em Lisboa, como é o caso da Expo e nada ganhar com isso a não ser ainda mais afastamento e desigualdade.
    Detesto dizer isto, mas a regionalização administrativa é muito limitada e pouco vai resolver. É preciso mais que isso...

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  4. Caro Manuel Costa, também acho que a regionalização administrativa não chega, e não detestemos dizê-lo. Não sei em que está a pensar, mas sem chegar ao limite(?) julgo que uma boa autonomização, tipo Madeira-Açores, seria o ideal. Mas nem regionalização vamos ter nos anos mais próximos, quanto mais autonomia...

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  5. Se me dissessem que passados 34 anos do 25 abril, aqui no Norte e muito em especial no Porto estaríamos a colocar a hipótese da autonomia regional e que os principais fomentadores desse forte sentimento foram os nossos "magníficos" governantes, francamente, não acreditava.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...