Alguns adeptos do F.C. Porto costumam dizer, quando as coisas não correm bem, que o treinador Jesualdo Ferreira "está a inventar". Na realidade, ele é que é o treinador, ele é quem está próximo dos jogadores para lhes testar as performances técnicas, tácticas e físicas. Nós não, os adeptos, que só os vemos jogar aos fins de semana e mesmo assim, nem a todos.
Vale isto por dizer, que a nossa exigência (ou desconfiança, se acharem melhor) relativamente aos técnicos do nosso clube do coração, talvez fosse mais profícua e bem direccionada, se prioritariamente aplicada aos "técnicos" e "clubes" que nos têm andado a governar há longos e imerecidos anos. Ou seja, aos ministros e aos partidos políticos do poder. Não quer isto significar que baixemos a guarda e deixemos de criticar as decisões do treinador de futebol (deste, ou de qualquer outro), sempre que tal se justifique, o que se pretende acentuar é a necessidade de uma maior participação e sentido crítico em relação à vida política, porque afinal é para resolverem os principais problemas do país que ela - na perspectiva dos eleitores, claro -, tem razão de existir. Isto, independentemente das condições sócio-económicas de cada um. A intervenção tem de ser, desejavelmente, de todos os cidadãos.
Se pensarmos bem, e passarmos a ser mais incómodos e impositivos para quem deve governar o país, também estaremos a dar o nosso contributo para ajudar o nosso clube e a respectiva direcção a libertarem-se do garrote que o poder político, judicial, mediático e económico têm tentado colocar-lhes despudorada e injustamente. Apesar de sabermos que o F.C. do Porto é uma grande e forte estrutura, com órgãos jurídicos competentes, já todos reparamos que, apesar disso, por vezes o cerco que lhe é movido é tão sufocante e feroz que chegamos a recear que os nossos inimigos (adversários, aplicados neste caso, seria pura ingenuidade) acabem por conseguir os seus intentos. Pinto da Costa, é um homem arguto, resistente, inteligente, mas não pode continuar a contar apenas com os apoios atrás referidos, é preciso mais. Esse mais, é a intervenção activa dos cidadãos na coisa pública.
Ora, todos sabemos que os media são por tradição situacionistas, criticam tudo e mais alguma coisa para venderem, mas na hora da verdade recolhem-se como tartarugas dentro das carapaças porque o valor que mais fazem questão de preservar é, indiscutivelmente, o da sua própria subsistência. Reparem bem que não são capazes de colocar aos cidadãos novos desafios ou personagens, limitam-se ao ramerrão do costume. Ou Sócrates, ou a figura da oposição que mais corresponde aos seus padrões políticos, como é agora Manuela Ferreira Leite. E em boa verdade, meus senhores, se Sócrates é o desastre que sabemos, como acham que será Manuela Ferreira Leite? São capazes de esperar que desta mulher venha algo de original e positivo para o país? Uma hiper-centralista ao nível do Sócrates? Valerá então a pena, perdermos o nosso tempo a dar corda a estas figurinhas que vivem da projecção que os jornais e as tv's lhes dão? E onde é que entramos nós cidadãos? Vamos a reboque, ou decidimos por nós?
É neste ponto que importa colocar a questão que às vezes pomos ao Jesualdo Ferreira. Não devíamos nós ser mais criativos? Falamos de descentralização, de regionalização, de tudo o mais, mas temos urgentemente é de "inventar" outros métodos de intervenção política. Aprender a exigir a planificação e coordenação da acção política e a sua incontornável aplicação. Ter meios de demissão eficientes e céleres para os representantes políticos prevaricadores e incumpridores. Exigir que as recompensas ou promoções a governantes só possam ser atribuídas após o término dos respectivos mandatos, e que essas iniciativas emanem do escrutínio/opinião dos eleitores e não dos aparelhos partidários como agora acontece. Os partidos políticos, quaisquer que eles sejam, não servem para nada se não aprendermos a apreciá-los como fazemos com a fruta antes de a comprar, saber enfim, se por dentro está em perfeitas condições de consumo, ou, pelo contrário, se está podre e é para deitar fora.
Mais do que no futebol, é preciso inventar uma nova forma de fazer política. Isso está nas nossas mãos.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...