11 janeiro, 2009

Erros do passado, erros do presente

O tema que Rui Moreira escolheu para a sua crónica habitual de domingo, no jornal Público, é-me particularmente sensível.
Adoro a natureza, mais do que as fantásticas, as extraordinárias obras de alguns poetas e artistas. Para mim, a natureza é a única obra insuperável. Mesmo fustigada pela barbárie humana, por um equívoco apelidado de "Progresso", ela resiste e defende-se (por vezes, tragicamente). Nesta batalha destruidora e estúpida que o Homem lhe moveu, vai ser ela quem levará a melhor e ganhará a Guerra. Vai sobreviver, apesar do Homem. Já tenho dúvidas é que este, lhe sobreviva. Mas voltemos ao mundo dos "sábios" terrenos.
Os jardins e praças do Porto, são, a par do casario mais antigo, o rosto visível das paupérrimas gestões camarárias. É verdade, sim senhor, que o problema da concepção de algumas praças e jardins (como de quase tudo, aliás), está na sua génese, e que, frequentemente, se torna quase impossível remediar o que nasceu torto. Porém, uma asneira do passado não justifica a apatia do presente nem esconde a acentuada degradação da urbe do centro histórico do Porto. Nunca se viu tanta casa em ruínas como agora. São ruas inteiras que mais se assemelham a uma imagem do pós-guerra. Rui Rio, não tem a culpa de tudo, mas deixou alastrar demasiado um mal que já vinha de trás. O que tem feito nesta matéria é irrelevante.
A Avenida dos Aliados, por exemplo, é um dos paradigmas que Rui Moreira citou. Toda a sua renovação nasceu de um conceito infeliz de arquitectura de um insuspeito Siza Vieira que seguiu uma rota diametralmente inversa àquela que o Dr. Rui Moreira apresentou. Como ele refere (e bem), ao contrário do que aconteceu no século XIX (terreiros de feiras que foram transformados em jardins), a Av. dos Aliados passou de um jardim elegante e aprazível, para uma feira incaracterística e plastificada. Agora, é uma verdadeira pirosice que nem o tempo ajudará a atenuar! Apesar de todo o talento do arquitecto Siza Vieira.
Outro aspecto em que estou totalmente de acordo com RM, é com a questão da estatuária nacional. É de uma pobreza franciscana. De facto, a estátua ao General Humberto Delgado não é uma homenagem, é uma obra de censura à Liberdade e até ao próprio homenageado. Acresce, que os «novos» escultores (não sei se por questões económicas se por preguiça) deram agora para colocar as estátuas ao nível do solo, sem pedestal, nem dignidade, acessível ao vandalismo dos grafites e outros. Talvez, quem sabe, também esta "moda" da escultura contemporânea nacional ( se é que escultura existe) tenha sido varrida pelos vendavais de preconceitos que tem dominado o país estes últimos anos.
Se, de facto, como diz RM, existem no Porto excelentes paisagistas, por que é que o Dr. Rui Rio - que não revela qualquer vocação ou preocupação estética -, ainda não os contratou? O Dr. Rui Moreira esqueceu-se de falar da Praça (e jardim) do Marquês de Pombal, que até aqui tinha os canteiros "plantados" com uns horrorosos e rasteiros arbustos mais parecidos com as couves do quintal da avozinha, do que com a flor mais sóbria de um jardim.
Vamos lá então a ordenar os factos. Houve, sim senhor, asneiras das anteriores autarquias, mas também se fez obra assinalável (com o Dr. Fernando Gomes). Só para falar nas mais relevantes: o Metro, a Casa da Música e o Parque da Cidade, foram impulsionadas por ele. Não estou sequer a imaginar Rui Rio a fazê-lo, nem daqui a 20 anos, sem levantar um mar de problemas pelo caminho.
Antes que alguém me me lembre que o Dr. Fernando Gomes é mortal, e portanto, falível, avanço já, que não lhe perdôo ter-se deixado levar pela cenoura de arsénico do Ministério da Administração Interna. Mas, tenham paciência, assim mesmo, foi o melhor Presidente da Câmara que o Porto já teve. Apesar do PS, e dos demais medíocres partidos políticos.
Eu gostava, era de ver o que de assinalável fez o actual autarca. Ah, lembrei-me agora de uma misteriosa façanha: enfeitiçou os portuenses ... Que é como quem diz: alguns.

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