"Foi o tempo da euforia, da embriaguez feliz, de dança nas ruas, das picaretas, dos martelos", podia ler-se num artigo da Notícias Magazine da autoria de Ricardo J. Rodrigues sobre o dia 9 de Novembro, data das comemorações da unificação da Alemanha.
Desta excelente crónica sobre a situação dos alemães da antiga RDA [comunista], foi possível constatar um factor comum com os portuenses: a desilusão. O desemprego atingiu taxas que oscilam entre os 19 e os 25% chegando ao dobro da taxa "nacional". A depressão económica não ajuda ao optimismo levando os ex-comunistas a uma nostalgia perigosa para o Ocidente. Sondagens recentes indiciavam que os ex-comunistas consideravam melhor a vida antes da reunificação...
Aparentemente, estou-vos a falar de política internacional, sem qualquer analogia com os problemas do Porto, mas é só na aparência de facto, porque no essencial, há muito em comum. A política, de esquerda ou de direita, já não fazem qualquer sentido nos tempos que correm. Nenhuma se pode gabar de ser melhor do que a outra. Importante mesmo, seria aproveitar o que de positivo tem cada uma delas e passar a governar o Mundo com outro espírito, com outra justiça. Talvez pudesse ser esse o caminho a seguir para chegarmos ao melhor dos mundos, caso a hipocrisia dos agentes políticos não predominasse sobre a organização das sociedades. Utopia, dirão apressados alguns! Eu preferia dizer: má vontade, e puro egoísmo.
Mas vi outras semelhanças entre a desilusão dos alemães da ex-RDA e o povo do Porto. Por razões diferentes - ou se calhar, nem tanto assim -, os portuenses exultaram com a queda da Ditadura, tal como muitos alemães comunistas com o derrube do regime, mas passados alguns anos [muitos mais em Portugal], ambos sofreram uma profunda decepção.
Quando pensamos nos tempos de Salazar e Caetano, num regime de ditadura fechado, pouco dado a liberdades, e nos lembrámos que no Porto proliferavam empresas de todo o género, com sede na nossa cidade e o comparámos com o da actualidade [democrático], que nos tem espoliado de tudo o quanto era importante para a região, é muito difícil encontrar uma boa razão para concluirmos que mudamos para melhor.
Não temos jornais locais. Temos embustes de jornais regionais [o que não é o mesmo] , porque os patrões, como sabemos, estão em Lisboa. As rádios, não têm expressividade, as televisões também não. Os Bancos e as Companhias de Seguros mais poderosas desapareceram do Porto, e no futebol, tudo têm feito para destruir o único símbolo de autonomia local, que é o FCPorto. Por que havemos nós então de gostar de uma Democracia que nos consome a existência e nos quer roubar a alma?
Termino reproduzindo as palavras de Olga Haust uma alemã da ex-RDA: «o 9 de Novembro foi o dia mais feliz da minha vida. Agora estou desiludida. Lutei contra o regime da RDA, mas não contra a sua memória». Ou, com estes desabafos dos alemães orientais: «De repente, deixámos até de ter direito a falar das coisas boas que tínhamos no passado».
Faço minhas estas palavras, trocando apenas o cenário e a motivação ideológica, acrescentando:já trataram de nos retirar a fama de gente laboriosa e hospitaleira, só falta mesmo é perguntar se o Porto ainda existe...
Viva,
ResponderEliminarGostaria de contactar os autores deste blog sobre a constituição de uma Associação para a Região Norte.
paulo.pereira@tvtel.pt
Caro Rui!
ResponderEliminarPlenamente de acordo com a sua opinião!
Também estamos muito desiludidos e temos muitos motivos para dizer que as semelhanças não são estranhas, porque elas são bem reais, em ambos os lados, salvaguardando as diferenças óbvias!
Abraço,
Renato
É, o Porto murchou como os cravos...
ResponderEliminarUm abraço