18 março, 2010

Silêncios cumplíces e o PEC

Presumo, que quando falamos de Liberdade - nessa importante conquista do 25 de Abril -, ficamos frequentemente com uma ideia sobrevalorizada da coisa. A blogosfera, entre muitas vantagens, como sejam, a comunicação, o conhecimento e a própria amizade entre gente de todo o Mundo, teve outra virtude, que foi a de pôr a nu a liberdade limitada dos jornalistas.
Até prova em contrário, a blogosfera usufrui de uma Liberdade muito mais ampla e descomprometida que a comunicação social. Nós, escrevemos e opinamos gratuitamente, os jornalistas, não. Só este pormenor faz toda a diferença, e só ele justifica que possamos ter alguma compreensão com certos silêncios ou omissões em relação a muitos casos. Em última análise, um jornalista mediano, reprime as suas opiniões receando que, no íntimo, a entidade patronal o possa despedir. A história está cheia de jornalistas «corajosos», particularmente, quando se trata de atacar algo [ou alguém], que possa ameaçar o seu lugar, mas é sóbria se tiver de falar directa ou indirectamente contra quem lhe paga. E por vezes, quem lhes paga, são patrões muito pouco recomendáveis...
Só estes argumentos podem explicar esses silêncios, essas perguntas que ficam por fazer. Por exemplo, nunca ouvi, ou li, um jornalista questionar com profundidade um grande empresário ou governante, sobre os critérios para avaliação dos méritos. O PEC [Programa de Estabilidade e Crescimento], seria um precioso pretexto para o fazer. Porque o PEC, a que eu prefiro chamar Programa para um Estado Caótico, por ser mais realista, é o mote perfeito que desmascara de vez certos conceitos abstractamente induzidos. Um programa cuja própria nomenclatura é de per si uma mentira pegada, não merece sequer discussão. Mas valia sempre a pena "apertar" certos protagonistas.
Senão, vejamos. Quais são os padrões, as referências de conhecimento, com consequências claras de benefício público, que justificam a atribuição a um só homem, dezenas ou centenas de milhar de euros de vencimento? Que mais valias têm tais indivíduos para a sociedade que expliquem tamanha disparidade, entre eles e um simples jardineiro? Qual é a sustentação moral e objectiva desta aberração? Serão génios? Deuses? Gente generosa? Filantropos? Terão provocado com a acção do seu trabalho nos Governos ou Empresas onde o desempenham o bem estar social e económico efectivo para a população?
A nível governativo, o que temos estado a assistir já ultrapassou todos os limites do descaramento, do vazio de carácter, da dignidade, já passou a uma provocação, a uma declaração de ordem para a desobediência civil. Então, se o balanço das acções dos sucessivos governos é declaradamente pautado pela incompetência, pela degradação de vida do povo, qual é a autoridade moral para estes homens insistirem em pedir aos governados os maiores sacrifícios continuando a proteger os mais ricos, os oportunistas? Qual é a moral? Esta gente, é respeitável? Faz algum sentido que continuem a desgovernar-nos e a r-e-p-r-e-s-e-n-t-a-r - n-o-s? Devemos então mantê-los no Poder como prémio pelas suas péssimas prestações governativas? Alguém lhes pediu ou obrigou a candidatarem-se ao Poder, ou foram eles que nos andaram a garantir que eram capazes de governar o país? E foram capazes? Não, está claro! Se não são, porque permitimos que decidam barbaridades, que arruínem o país em nosso nome?
O PEC deles, só poderia parecer um programa sério se estes cavalheiros começassem por dar o exemplo e a abdicar das muitas mordomias de que gozam, sem as merecer. Esta corja de oportunistas, não só não merece a centésima parte do que ganha, como devia há já muito tempo estar num único lugar: na cadeia! Muitos e exemplares anos!

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