29 junho, 2010

Lata e impunidade

Contrariamente à decisão que tomei de não perder o meu tempo para ver um programa que auto-denominei como o Purgatório dos Políticos, a que a RTP prefere chamar Prós e Contras, ontem, por respeito à temática em questão [as portagens das Scuts], decidi violar excepcionalmente essa regra.

Os testemunhos contra a insólita decisão do Governo, vindos das mais variadas  áreas da política e da sociedade civil foram conclusivos, tal a unanimidade que gerou no auditório. Foi uma "victória" sem espinhas do bom senso cívico contra a sobranceria dos incapazes.

Houve, no entanto, uma intervenção que me sinto na obrigação de realçar que confirma o enorme talento e a  veia teatral dos "nossos" dirigentes políticos que foi protagonizada pelo Secretário do Estado das Obras Públicas. O homem, perante a esmagadora força da razão que o cercava, manteve-se imperturbável. Conseguiu defender o indefensável como se estivesse a lutar pela causa mais nobre do Mundo. Sócrates, terá registado o esforço para memória futura quando for chegada a hora de recompensar  tão  abnegado servidor. Talvez, quem sabe, a administração de uma qualquer Mota Engil, para conter a crise...

Chega de brincadeiras. Agora, vou falar sério. O palco para o teatro não pode continuar a ser a Assembleia da República, a Televisão e muito menos o Conselho de Ministros. O paradigma desta forma despudorada e irresponsável de fazer política, dizendo hoje uma coisa e amanhã afirmando o seu contrário, tem de ser irreversivelmente alterado, sob pena de se esgotar a tão desacreditada política. E só há uma forma de o fazer que é, responsabilizando directamente os autores dos embustes.  Com pesadas coimas monetárias e irradicação absoluta do desempenho de funções públicas. Pessoalmente, não me sinto honrado com a impunidade destes homens. E não devo estar só na indignação.

Banalizar as mentiras dos nossos mais altos representantes, equivale a estender ao Povo a passadeira da  inimputabilidade e do vício. O crime e a violência social também é assim que se forjam.

8 comentários:

  1. António Soucasaux30/06/10, 10:04

    Gostaria de chamar atenção para uma mentira dita pelo secretário de estado das obras públicas:
    "o preço por km de AE é de 0.06€ +iva" ora em Barcelos num troço de 1800 metros pagamos 0.35€. Por aqui se vé a qualidade dos goveranntes que temos. Este troço liga Vila Seca/EN204 até a A28.

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  2. A recente "polémica" com as SCUT tem vindo a dar azo a algumas comparações que pontificam na comunicação social como cogumelos sobre as "benesses" do Norte. O que não deixa de ser curioso quando os mesmos comparatistas atiravam-nos à cara a "azia" dos Nortenhos pelo progressivo empobrecimento da Região à custa do desenvolvimento lisboeta!

    Dizem os defensores das portagens nas SCUT que, mesmo com as portagens, o troço total portajado continuará a ser substancialmente inferior ao de Lisboa (43% contra 56%) pelo que esta polémica consistiria unicamente numa "azia" do Norte contra Lisboa. E que não faz sentido que o resto do país pague a manutenção das SCUT que foram construídas com fundos comunitários. É a lógica do "utilizador-pagador", tão cara à retórica dos economistas quando convém, a funcionar em prejuízo do Norte.

    No entanto, eu não sou de memória curta, e na minha ignorância posso ainda adiantar alguns argumentos.

    Não me recordo que, há alguns meses, o mesmíssimo Governo centralista (a cor política é irrelevante) desviou para Lisboa os fundos comunitários destinados ao Norte alegando um "efeito dispersor" no território. E o mesmo Governo roubou-nos os fundos do TGV para entregar à malta do costume do lobby do betão.


    Isto conduz-me a algumas considerações particulares.

    Em primeiro lugar, 40% das exportações nacionais provêem na zona Norte sendo que Espanha é um dos nossos principais clientes. Isentar, pelo menos, as empresas e os trabalhadores desses custos acrescidos é ajudar o resto do país pois o desenvolvimento de uma região tem um "efeito de dispersão" dos impostos destas empresas para a matilha do costume.

    Em segundo lugar, só uma hipocrisia brutal ou cegueira inacreditável é capaz de negar que os níveis de rendimento e desenvolvimento da Costa da Caparica, Almada, Seixal, Amadora ou Odivelas são muitíssimo superiores aos níveis de desenvolvimento de uma Trofa, Viana do Castelo e demais municípios do Vale do Ave que ver-se-ão sufocados pela introdução das portagens. Daí que os moradores desses municípios, pelo menos quando tiverem comprovadamente que passar por essas vias, devam beneficiar de uma isenção, em nome da justiça distributiva que é tão cara aos Governos centralistas quando lhes convém!

    Por último, ainda não compreendi por que motivo é que o troço portajado da A28 é o mais caro do país quando o comércio e turismo galegos são indispensáveis para o desenvolvimento de uma região cujo dinheiro dos impostos vai ser dispersado para Lisboa para os inúmeros serviços do Estado e dos bens e serviços nao-transaccionáveis, apoiados no Estado, que são responsáveis por 40% da dívida externa do país!

    A isenção de portagens, pelo menos para moradores e empresas, corresponde a uma lógica empresarial e de Justiça distributiva de colmatar as despesas de manutenção de uma via sem prejudicar o desenvolvimento que ela pode potenciar.

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  3. A que dizer-se das coisas pelos só menos que elas são,um incompetente é uma Besta, um vigário é um Aldrabão.
    Mas quando uma Besta é o Vigário
    o incompetente é a confusão.

    é um sómente um trcadilho.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  4. Marquês de Pombal30/06/10, 19:32

    Povo, povo, por ondes andas na hora de correr com esta gente e lutar por um futuro melhor? Porque foges na hora de cumprires os teus deveres com a mesma ligeireza com que deixas atropelarem os teus direitos? Terá esta pátria salvação?

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  5. Alberto Moreira30/06/10, 22:30

    Chamo também a atenção para o cadastro de vendedor da banha da cobra deste Sec. de Estado. Lembro como se fosse hoje a sua defesa do TGV como se fosse algo tão essencial como a solução dos nossos problemas.

    Parece especializado em tentar explicar o que não tem explicação e como tal parece sempre muito pouco convincente.

    Sem dúvida um personagem a lembrar por muitos e bons anos, concerteza irá num futuro próximo ser recompensado pelos serviços prestados.

    Engraçado, tanto este como o "Chefe" parecem vendores e lobbystas seja dos "chips", como do Magalhães, como dos financiadores/exploradores e constructores do TGV.

    Também queria ter gente com a visibilidade desta a promover os meus produtos e marcas...e aparentemante de graça :) estou a brincar obviamente...

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  6. Caro B.,

    Pertinente comentário. Não tanto pela originalidade [porque o "fado" é antigo], mais pela lucidez e pela objectividade.

    O amigo, é sempre bem vindo por aqui.
    Não esteja tanto tempo sem dizer nada.

    Faz mal à saúde :-)...

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  7. A. Soucasaux,

    Creio que uma das lutas mais interessantes a travar pelo novo Movimento do Norte devia passar pela promoção de novos critérios de exigência do exercício da Política em que a seriedade argumentativa [e executiva] fosse a imagem de marca do futuro Partido.

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  8. Alberto Moreira,

    subscrevo o que diz sobre a veia mercantil/teatral do Secretário de Estado das O.Públicas. É um comercial à moda antiga, do género "Pomada Santa de Jibóia" que enchiam as feiras e os jardins das nossas cidades.

    Mas não o recomendo para a sua empresa (se a tiver), porque a trafulhice não tem cor e podia levá-lo à falência.

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