27 junho, 2010

Os pró-anti regionalistas

Já anteriormente apresentei múltiplas razões para rejeitar as teses daqueles que passam o tempo a lamentar os lamentos [passe a redundância] dos adeptos da Regionalização com contraditórias alegações da falta de envolvimento dos cidadãos na coisa pública. E tenciono reforçar esse descrédito em tais teóricos por não vislumbrar seriedade argumentativa no que continuam a dizer e escrever.

Para começar, entram constantemente em profundas contradições. Ainda há poucas semanas tive oportunidade de detectar um desses teóricos portuenses a dissertar num programa de televisão uma coisa sobre a cidadania ,  e passados poucos dias a defender o seu contrário. Foi no Porto Canal, no programa do Jorge Fiel. Ontem, outro cidadão portuense conhecido pela sua ligação a festivais do cinema fantástico do Porto, escrevia num semanário local ser contrário à criação de um Partido Regional, repetindo a tese de que um Movimento Cívico seria mais eficiente por conferir aos cooperantes uma maior liberdade de pensamento e um menor apego ao Poder.

Realço daquelas declarações um insofismável facto que foi talvez a única conquista palpável que [ainda] sobra do 25 de Abril, não obstante a queiram agora fazer definhar: a Liberdade de Pensamento. Sendo isto uma realidade, por que é que esses "resistentes" à criação de um Partido Regional não admitem a possibilidade da criação de novas regras estatutárias onde as práticas do Poder possam ser substancialmente reformuladas? Um novo Partido, implica, do meu ponto de vista, novas ideias, novas regras de distribuição de Poderes. Para além dessas regras, a Regionalização, que é o principal objectivo do Partido do Norte  -, impõe, de per si, mudanças significativas nos órgãos do Poder, cujo aspecto mais relevante é , sem dúvida, o factor proximidade dos cidadãos com os centros de decisão.

O grande drama dos Movimentos Cívicos é estarem permanentemente condenados ao fracasso nos momentos em que se confrontam "face a face" com o Poder e tenderem a subdividir-se em outros Movimentos com a adjacente redução de força e representatividade popular. Por outro lado, os Governos apesar de se terem revelado ao longo dos anos de uma incompetência confrangedora, têm até hoje, sabido lidar muito bem com todos os Movimentos e controlam-nos quase sempre com relativo à vontade.

Como tal, só disputando o Poder com o Governo e os partidos existentes é que um Movimento poderá afirmar-se. O facto de ter de se confrontar com uma previsível e feroz oposição desses partidos provará que é temido, coisa que não acontece em relação aos Movimentos cívicos. Veja-se a "resistência" que o Governo continua a opor aos Movimentos contra as Scuts, apesar de apoiados pela maioria dos autarcas nortenhos de todos os partidos. Só que, os problemas do Norte não se reduzem infelizmente às portagens das Scuts, são muito mais vastos, e a Regionalização como já foi por nós diagnosticado não vai lá com promessas, conquista-se, e para se conquistar pacífica e democraticamente, só através da implantação de um Partido político.

A menos que esses anti-partidários de um Norte sem Partido que o defenda, continuem a acreditar nas suas promessas... Convenhamos: até a paciência tem limites.

 


7 comentários:

  1. Marquês de Pombal28/06/10, 23:42

    Com todo o respeito que a sua liberdade de pensamento e figura me inspiram digo-lhe sem rodeios que quanto mais o tempo passa e se manifesta essa gente, quanto mais me parecem ressabiados políticos que navegam na crista da onda da crispação social e ignorância congénita deste povo para perseguirem objectivos que visam tão-só o protagonismo e dividendos. Antes de criar partidos sem linha e coluna vertebral que apenas gritam impropérios contra o centralismo, porque não se faz uma análise concreta e racional das causas que levaram ao definhamento da nossa região? Porque não se visam os políticos responsáveis e as políticas qe os nortearam (mordaz ironia da língua...)? Será que esse exerçício de natureza obrigatoriamente introspectiva nos iria ferir no âmago pela responsabilidade que, pelo menos por omissão, todos tivemos no estado a que isto chegou?

    Com todo o respeito que lhe volto a considerar, julgo que está demasiado apaixonado para ver os reais perigos que este movimento encerra. Pode-me chamar "velho do Restelo". Quem me dera ser o meu cepticismo também infundado. E não veja nos que pensam como eu "traidores" ou afins da causa regional. Seria um insulto à sua e minha inteligência. Cumprimentos.

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  2. Sr.Marquês,

    Tentar persuadir alguém das boas razões de uma causa quando esse alguém fechou as portas à sua compreensão, é um fardo para o qual não tenho paciência. No entanto,digo-lhe o seguinte:

    Não me parece lá muito correcto diagnosticar como doente uma coluna vertebral que nem sequer foi submetida a uma "radiografia". De mais a mais, quando as colunas vertebrais dos que até hoje nos (des)governam estão a cair de pôdres. Essas sim, deviam ser extirpadas, como se faz aos carcinomas, porque já não têm cura. É chegada a hora de novas experiências, as que andamos a fazer há 36 anos, essas sim, revelaram-se perigosas e faliram.

    Já as análises "concretas e racionais" das causas que arruinaram a nossa Região estão por demais concluídas e só têm um nome: Centralismo! E o Centralismo não tem um só responsável, tem imensos! E de todos os quadrantes políticos. Identificá-los, é importante, mas não é construtivo. O momento, é de mudança, porque "perigo" maior do que aquele que já estamos a passar, não é possível.

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  3. Rui Valente,
    Sabemos, ou supomos, que a bandeira da regionalização só por si dará pano para mangas. Mas sabemos também que soluções que esta imponha dificilmente colherão unanimidades, ou pelo menos consensos, num partido caracterizado à partida pela proveniência ecléctica dos seus membros. E aqui, penso eu, estará o principal calcanhar de Aquiles.

    cumprimentos.

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  4. Para os anti-regionalistas o Salazar tinha razão! quando dizia, para quê os Partidos ou os Movimentos.
    Fez-se o 25 de Abril e apareceram os partidos, (esceve-se regionalização no papel) mas ficou tudo na mesma!... igual ou pior que no tempo da outra senhora, e já lá vão 30 anos.
    Srs anti-regionalistas deiam lá uma dica, como se faz!? ou ficamos na mesma.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  5. LAM,

    De facto, a Regionalização, dado ter sido vítima das piores diabolizações pela parte dos anti-regionalistas, não é um assunto pacífico, mas é imperioso tentar consensualizá-lo com argumentos sérios.

    Os anti-regionalistas, alguns pelo menos, nem terão consciência que não é sério, nem positivo para o país, continuarem a opor-se a essa reforma. É não, porque não. Outros, talvez uma grande parte, é porque temem perder as benesses que o regime actual lhes continua a garantir.

    Quanto ao eclectismo dos membros do novo Partido, creio que será ultrapassado se colocarem a causa Regional sobre as suas eventuais divergências ideológicas. Nunca como agora, a Regionalização se tornou importante para a coesão nacional.

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  6. Rui Valente,

    Não ponho em causa de forma nenhuma a regionalização e a sua necessidade, tanto para cumprir desenvolvimentos regionais como para potenciar desenvolvimentos nacionais. O que receio (não posso evitar a palavra), é a tal proveniência diversa dos membros dum tal partido. Porque, como aceitará, uma contenda de raízes ideológicas a acontecer, o que não é improvável, hipotecará todos os avanços e adesões a essa causa conseguidos até agora, por muitos e bons anos. E não duvide também que há muito quem esteja à espera disso...

    cumprimentos

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  7. LAM,

    não quero ser tão pessimista como o meu amigo.

    Compreendo a sua apreensão, mas no contexto de um Movimento/Partido cujo objectivo principal é promover o avanço da Regionalização, o problema não se põe, caso contrário seria dar um tiro nos pés dos próprios mentores da iniciativa.

    Até pode acontecer que o Partido se esgote no momento da implantação das Regiões.

    Cumprimentos

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